Politicorum escrotus

O homem, por ser o único animal racional, desde os primórdios da humanidade, associa partes de sua personalidade com a aparência e jeito de ser dos outros animais. Assim é que alguns humanos possuem traços de tigre, de rato, de cavalo, etc. No Egito havia estátuas de deuses mistos, metade homem, metade animal; na Índia, muitos animais foram promovidos a deuses e a China criou um horóscopo, correlacionando influência dos astros e dos animais na personalidade humana. E decidiram que para cada ciclo de 12 anos há um animal correspondente, algo parecido com a astrologia greco/egípcia, que leva em conta os 12 meses do ano, mas com outros animais, representando as 12 constelações do zodíaco. Vale lembrar que o calendário chinês é lunissolar e possui em média 354 dias.

Diz a lenda, que o próprio Buda convidou, em determinada época, todos os animais, para juntos comemorarem um Ano Novo, mas nem todos compareceram. Feliz com as presenças e decepcionado com as ausências, Buda decidiu dar poderes especiais aos 12 bichos que compareceram (rato, touro, tigre, coelho, cobra, cavalo, cabra, galo, macaco, cão, porco e dragão) e assim, cada um dos bichos, passou a governar um ano da vida na Terra. Se a pessoa nasce no ano do cavalo, por exemplo, terá a sua personalidade influenciada pelo cavalo e assim por diante. É interessante lembrar, no entanto, que os animais dos Signos Chineses não possuem só qualidades! Quem nasce no ano de um dado animal também herda seus defeitos.

Entretanto não foi pra falar de Horóscopo Chinês que iniciei este artigo, mas para exemplificar alguns dos qualificativos, usados no dia a dia, para estabelecer parâmetros entre os humanos e os animais. Não é justo comparar um porco com um humano obeso, um burro com um teimoso/analfabeto, um gato com um preguiçoso, um mendigo com um cachorro vira-lata, etc. Os animais não merecem. Elogios até que são toleráveis: olhos de águia, poderes de leão, forte como um tigre, esperto como um cão, meiga como uma gata, etc.

As qualidades e os defeitos dados aos animais no zodíaco chinês não combinam com as qualidades e defeitos dados aos animais no Ocidente, imaginem que lá a cobra é o signo do filósofo; o nativo de cobra é um pensador profundo, mas gosta de se exibir, parecendo sempre ser melhor do que realmente é. Já pensou se comparássemos os nossos políticos com os animais do zodíaco chines, mas vistos pelo ângulo do Ocidente? Entre os senadores que compõem a CPI da Pandemia, por exemplo, teríamos o rato de esgoto, a cobra venenosa de chocalho no rabo, que balança os guizos antes de dar o bote, o cavalo selvagem que dá patadas pra todo lado, o macaco metido a inteligente, que quer ser governador, o galo de terreiro, que canta de madrugada, mas ninguém ouve, enfim, se procurarmos, acharemos até um filho de jumento com égua, o “burro empacado”, que nem está na relação de Buda, mas que escoiceia.

É muito comum que as pessoas fiquem surpresas e até mesmo irritadas quando falamos que o homem é um animal. Somos parte deste reino, assim como as águas-vivas, baratas, piolhos, cachorros, gatos, leões, contudo este é um reino onde só os humanos possuem muitas faces, alguns, no mundo simbólico das ações humanas, pertencem a não tão rara espécie dos politicorum escrotus e sobrevivem no submundo da corrupção, da involução e da exploração do homem pelo homem. Sai pra lá bicho feio.