Terça-feira, 1 de março de 2022 - 17h01
Quando a gente cursava o primeiro ano da faculdade,
a palavra ideologia era apresentava ao calouro, com todos os
possíveis adereços semânticos, deixando a gente com ânsia de conhecimento, com
aquela vontade de saber o verdadeiro significado daquela palavra/instrumento de
dominação que age por meio de convencimento, persuasão, e não pela força
física, alienando a consciência humana. Naquela época quase todos os jovens
eram sonhadores marxistas/comunistas e acreditavam que a ideologia da classe
dominante tinha como objetivo manter os mais ricos no controle da sociedade.
O tempo foi passando e a palavrinha foi ampliando
seu significado, deixando os universitários convictos do saber e vaidosos com o
conhecimento: ideologia fascista, comunista, democrática, capitalista,
conservadora, anarquista, nacionalista e, mais recentemente, contrariando tudo
que se sabia sobre o conjunto de ideias e princípios que davam origem a uma
ideologia, apareceu a ideologia de gênero, mas não é esta a razão de nossa
reflexão. No momento basta que saibamos que existem ideologias políticas,
religiosas, econômicas e jurídicas e que uma ideologia se distingue de uma
ciência porque não tem como fundamento uma metodologia exata, capaz de
comprovar as ideias.
Cinquenta anos depois, a ideologia comunista,
disseminada na Rússia e em um punhado de outros países, visando a implantação
de um sistema de igualdade social, perdeu força, transformando a Rússia num
país capitalista, mas um capitalismo diferenciado, onde a eleição, dita
democrática, é manipulada pela força, para que o chefe da nação permaneça no
poder por um longo tempo. Na prática, a ideologia russa putiana mascara a
realidade, adotando um caráter expansionista e autoritário.
A vontade de Putin em ampliar seu poder na Europa e
no resto do mundo é tão grande, que ele se jogou numa aventura louca,
declarando guerra a um vizinho, simplesmente porque o tal vizinho, a Ucrânia, é
mais simpático à ideologia europeia, onde se prega a liberdade de expressão, o
estado laico, o livre comércio, enfim uma superestrutura composta por diversas
representações que compõem a consciência. A ideologia de Putin, amparada no
egocentrismo, nem na China encontrou eco, demonstrando ao resto do mundo que qualquer
atitude que Putin venha a tomar, é a atitude de um perdedor, porquanto, no
dizer do poeta John Donne, nenhum homem é uma ilha,
completo em si próprio; cada ser humano é uma parte do continente, uma parte de
um todo.
De todas as ideologias, a que mais intriga é a
ideologia política. No Brasil pode-se dizer que ideologia política e carnavalesca
são a mesma coisa. Agora mesmo, enquanto o resto do mundo tenta salvar o povo
da Ucrânia, o presidente brasileiro defende a neutralidade carnavalesca. Nem a Suíça
conseguiu permanecer neutra.
Em Rondônia, quem poderia imaginar que o coronel Marcos
Rocha, do PSL/UNIÃO, e o prefeito Hildon Chaves, do PSDB, vestiriam a mesma
fantasia, dançariam no mesmo bloco partidário, na campanha para governador do
estado, e que distribuiriam serpentinas e confetes à população estupefata, como
se fossem termos de uma ideologia carnavalesca, pela permanência no poder.
Parece que eu vi o prefeito cantando Cazuza, a plenos pulmões: “Meu partido é
um coração partido...Os meus sonhos foram todos vendidos, tão barato que eu
nem acredito. Ideologia, eu quero uma pra viver, meus inimigos estão no poder,
aquele garoto que ia mudar o mundo, agora assiste a tudo em cima do muro”.
Resta ao povo esquecer as mortes violentas da
guerra do outro lado do mundo, dar os braços à pandemia e sair dançando pelas
ruas de Porto Velho, no bloco dos sujos, ignorando a sujeira que rola na
ideologia política. Ideologia, eu quero uma pra viver.
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