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Crônica

Além do costume


Além do costume - Gente de Opinião

Existe um instante silencioso em que a vida nos cobra atenção: aquele momento íntimo em que percebemos que estamos nos acostumando ao que nos fere. O ser humano tem esse vício antigo de se adaptar ao desconforto — como quem aceita um sapato apertado porque “dá para aguentar”. Dá para aguentar… até não dar mais.

A frase atribuída a Fernando Pessoa — “Não se acostume com o que não o faz feliz.” — não é conselho leve, desses que servem apenas para ilustrar uma legenda. É um aviso sério, quase um ultimato existencial. Porque a infelicidade, quando permitida, se instala como um inquilino abusado: entra sem pedir, se espalha e ainda exige silêncio.

E nós? Muitas vezes chamamos isso de rotina.

A verdade é que o espírito não nasceu para viver em cárcere emocional. A vida pede movimento, reinvenção, honestidade consigo mesma. Pedir pouco de si é uma forma discreta de autossabotagem; aceitar pouco dos outros é um pacto silencioso com a resignação. E resignação demais não é virtude — é desistência fantasiada de maturidade.

Felicidade não é euforia permanente; é alinhamento. É quando o que você vive não contradiz o que você sente. Quando sua alma não precisa cochichar pedidos de socorro enquanto você insiste em dizer que “está tudo bem”.

Não, não está.

E admitir isso é apenas o primeiro passo. O segundo é se levantar. O terceiro é partir — para onde quer que seja — contanto que você não permaneça onde sua luz se apaga.

Porque, no fim das contas, acostumar-se ao que não nos faz felizes é a maneira mais lenta e eficiente de desaparecer de si mesma.

E você nasceu para presença, não para ausência.

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