Domingo, 9 de novembro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Crônica

A triste sina de família; que sobrevive com um salário


A triste sina de família; que sobrevive com um salário - Gente de Opinião

Subia os Clérigos, quando deparo antigo condiscípulo, companheiro de muitas horas de lazer.

- Há séculos que não te vejo? O que é feito de ti?

- Vivo no interior – respondeu-me o Júlio

- Fizeste bem, há por lá ar mais puro, isento de poluição...

- Não o fiz por prazer – lamentou-se, mostrando fisionomia tristonha.

- Gostava de viver na cidade, onde tenho velhos amigos. O campo não é bom para mim. Gosto de movimento. Sou citadino por natureza, mas...

Explicou-me, então, a triste sina. Reformou-se no início do século. Não era muito, mas ia chegando...

 Com o correr dos anos a reforma degradou-se.

Aumentou a renda da casa, substancialmente; aumentaram os géneros alimentícios.... Tudo vai aumentando, menos o que se recebe mensalmente.

Acrescentou, ainda com mágoa: as reformas mínimas têm subido, embora menos do que seria necessário; mas as outras?

O Júlio, desanimado, comentou de voz apagada, estar arrependidíssimo de não ter tentado lá fora, quando era novo:

- Se tivesse emigrado, quem sabe, se não teria reforma mais confortável, para passar a velhice melhor? Quem sabe? Ainda quem recebe duas reformas, vai aguentando, mas eu, que nunca quis que minha mulher trabalhasse.... Sabes? No nosso tempo os homens não queriam viver à custa das mulheres. Era ponto de honra. O marido devia sustentar a família. A esposa era dona de casa: cuidava dos filhos e levava a termo o governo da casa.

Tive pena do Júlio. Embora a minha situação não seja muito melhor.

Bem sei que na aldeia, como disse o Júlio, a vida é mais simples. Sempre há lavradores que oferecem punhado de batatas, mão cheia de feijões, e pinga de azeite.

Mas é triste chegar a velho e não ter fim de vida sossegado e feliz.

Gente de OpiniãoDomingo, 9 de novembro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

A decadência da civilização

A decadência da civilização

Disse no final do século XX, na conferência que realizou na Fundação do Século XXI, Agostinha Bessa Luís: " Estamos a entrar num século vazio de cul

O que é ser português?

O que é ser português?

No passado domingo, a minha neta fez-me embaraçosa pergunta:- Avô: o que é ser português?Mentalmente, pensei – o que havia lido nos velhos manuais e

"Honra teu pai e mãe"

"Honra teu pai e mãe"

Eu tinha um amigo, generoso e leal, que com magoa citava a cada passo, o conhecido adágio: " A casa dos pais é sempre a dos filhos; mas, a destes po

A escola do tempo

A escola do tempo

Fala-se de paciência como se fosse um adorno moral, uma virtude de vitrine. Mas, no íntimo da vida real, ela é mais do que palavra repetida em sermõ

Gente de Opinião Domingo, 9 de novembro de 2025 | Porto Velho (RO)