Manelão: bom de folia, bom de briga

 
Fazendo jus à fama, Manelão continua brigando. Ontem à noite Silvio Santos me dizia: “Leó, esse feladaputa vai se levantar daqui a pouco reclamando de alguma coisa e dizendo que a Banda Vai sair. Pra brigar com a morte, só ele e o Zé de Alencar”. Fiquei torcendo para que tudo fosse desse jeito mesmo como quer o “Cara de Paca”, mas a Dra. Claudiana me puxou para a realidade. Lembrei do que dizia Manelão quando a encrenca era braba, “o desmantelo é grande”. Um site divulgou sua morte e foi acompanhado por outros. Na manhã de domingo uma rádio da Capital também anunciou a morte do Manelão.

Com Manelão sempre foi assim e seria assim até na sua morte que não houve. O General está na UTI, bem baleado mas, travando a sua batalha contra a velha da foice.

Os aparelhos monitoram o General, os médicos monitoram os aparelhos, nós monitoramos os médicos e o certo é que Porto Velho parou para ver a briga do Manelão. Aliás, briga não, “desmantelo dos grandes”. Tão grande que o coração do Gordo - onde cabe todo mundo da banda – deu um grozópe e parou por três vezes. -“Está nas mãos de Deus”, garantem Ciça a filha, Socorro sua irmã, Ivone a esposa, Manuela a filha mais nova, Aciolly o médico e amigo e todos os outros amigos que acreditam e até pelos que não acreditam em Deus.

Por Manelão instalou-se uma espécie de ecumenismo pagão: “Senhor Deus salve a vida do rei da festa pagã, do General da Banda, do Mestre do Carnaval”. Por ele oram pastores, rezam padres, despacham os pais de santo, choram as meninas, se descabelam as bibas, bebem os pés de cana, lamenta a cuíca, repica o cavaco, responde o surdo, a alegria se entristece e o samba arrefece. Na UTI, “seo Manelão” nada sabe. Está sozinho na luta contra o desmantelo. (Clique AQUI e assista a última entrevista de Léo Ladeia com o Marechal da Banda, Manelão).

Consta que Manelão já foi lá do outro lado e aprontou uma lambança com o pessoal do além porque – seu argumento é indefensável – a Banda tem que sair. E conhecendo Manelão, que ninguém duvide da lambança, do esporro e da cara feia. Ocorre que o desmantelo é grande. Manelão voltou, está entre nós mas, não dá para “soltar banda” no próximo sábado. O coração generoso bate mas o resto do corpo está inerte, meio que desmantelado.

Manelão está na UTI mas a sua Banda do Vai Quem Quer está na rua e na cabeça das pessoas. Com seu estilo inconfundível, Manelão preparou a troca de comando da Banda, delegando tarefas à sua filha Ciça que aos poucos foi se enfronhando e hoje tem condição de substituí-lo para "soltar a banda" no sábado que vem. Fez tudo do jeito dele desafiando os manuais.

Ontem numa conversa premonitória Manelão disse à Ciça que no dia que morresse gostaria que entoassem no enterro uma das músicas da Banda que ele mais gosta: "Eu não vou, vão me levando, vão me empurrando e desse jeito eu tenho que ir..."

 

Sábado que vem estarei lá junto com a Ciça e com a corte do Manelão. Será a primeira vez que Ciça vai soltar a banda e vamos estar juntos dando uma força pra ver a Banda sair. Pelo andar do trio elétrico, Manelão não vai dar as caras mas, estará presente estampado na logo da Banda, em cada camiseta, com sua cara gorda, sacana e zombeteira, “para a tristeza de poucos e alegria de muitos” como ele sempre diz. É que a banda deixou de ser do Manelão já no segundo ano de desfile e como revela seu nome, virou a Banda do Vai Quem Quer. A banda do Povão. Anárquica, desafiadora, polêmica, livre, sem rótulos, sem classificação. A Banda é um bloco de sujos, dizem alguns. Para mim é bem mais que isso e também é isso.

Para falar a verdade, eu já havia comentado pros meus amigos que esse ano eu não iria sair na Banda. E nem deveria. Mas, também no meu caso, "eu não vou, vão me levando".



Fonte: Léo Ladeia - [email protected]
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