Segunda-feira, 31 de dezembro de 2007 - 11h56
MONTEZUMA CRUZ – O cineasta Rafael de Almeida, 20 anos, é daqueles que acreditam na existência de um outro mundo de valores dentro desse mundo capitalista e pragmático. Demonstrou isso ao filmar Impej (pronuncia-se Impei), um documentário de nove minutos, rodado em março deste ano entre os índios Krahô do norte do Estado do Tocantins. Conheci Rafael na semana passada, durante a gravação do Programa Curta Dentro da Lei, da TV Justiça. Rafael ouviu relatos impressionantes dos Kraô
Atualmente, ele estuda Comunicação Social (Publicidade e Propaganda) na Universidade Federal de Goiás (UFG), na sua terra natal, Goiânia. Ali, aprendeu que se pode viver de várias maneiras esta terra, sempre procurando as melhores companhias. Rafael foi buscá-las com vontade e ousadia. O resgate histórico, a fotografia e o cinema estão permanentemente em pauta com os mestres de Rafael, os professores Nilton Rocha, Lisbeth Oliveira e Lara Satler, que muito o influenciaram.
O Curta dentro da Lei vai exibir Impej nos próximos dias. Veja no final deste texto como sintonizar a TV Justiça.
O Brasil tem cerca de 370 mil índios divididos em 220 povos que falam mais de 180 línguas diferentes. Fazem parte da população brasileira que reivindica há tempos políticas públicas para a sua produção cultural. Rafael notou isso e sentiu que, a exemplo do Xingu, no Brasil Central, e em outras regiões, o índio usa filmadora, iluminador e microfone, para, ele próprio, se tornar sujeito da sua própria história. Entrevistamos Rafael:
AGÊNCIA AMAZÔNIA – Quando você começou a trabalhar com imagens e como surgiu a Estação Filmes?
RAFAEL DE ALMEIDA – Sempre tive um grande interesse pelas imagens, mas isso só foi despertado de fato na faculdade, quando pude estudar e começar a aprender trabalhar com elas. Ainda há muito a ser aprendido. A Estação Filmes surgiu logo depois que eu e meu sócio-amigo Douglas Pinheiro tivemos nossa primeira experiência com vídeo, o curta-metragem de ficção Pela metade, em agosto de 2006. O resultado e a receptividade que tivemos nos supreendeu e serviu de indicativo que era esse mesmo o caminho. Desde então temos tentado experimentar linguagens e buscar novos trilhos.
A POSSIBILIDADE DE FILMAR
Impej surgiu de uma oficina fotográfica? De que maneira os Krahô lhe receberam? Onde fica a aldeia visitada?
A possibilidade de filmar Impej surgiu de um projeto chamado Memória Viva Krahô,em que me inseri em setembro de 2006, quando fui à aldeia pela primeira vez. O projeto trabalha com a inserção dos meios de comunicação no ambiente indígena como forma de resgate e perpetuação da cultura local. Eu e mais seis alunos de Comunição Social da UFG fomos lá ministrar oficinas de fotografia, vídeo, rádio e computação. A aldeia fica no norte do estado do Tocantins, próxima a Itacajá. Foi uma experiência fantástica. Não tenho dúvidas de que aprendemos muito mais do que ensinamos. Fomos recebidos com festa por eles. No primeiro dia os rituais com cantos e danças adentraram a noite. Depois dessa primeira visita, voltei à aldeia em março de 2007 para fazer o Impej.
Fale do significado da palavra Impej . Da vida indígena mostrada pelo filme, o que o sensibiliza?
Impej na língua krahô significa tudo aquilo que seja bom e belo. Logo, os significados podem variar bastante, mas o que o documentário ressalta e o que mais me sensibiliza é que a visão do belo krahô está muito além da capacidade do homem branco de perceber o belo. Registrar depoimentos que alegam que impej (o belo, o bom) é tudo aquilo que estiver acima da terra e abaixo do céu, englobando o sol, o vento, o Cerrado, as frutas etc emocionaria a qualquer um.
Sentiu que os índios querem qualidade de vida, como falam no filme? Considera possível eles conseguirem isso por conta própria, ou ainda dependem da tutela da Funai?
É perceptível que eles querem qualidade de vida. E poder ter isso no filme me deixa feliz porque mostra que, apesar de os krahô perceberem que possuem uma infinidade de coisas que considerem impej ao seu redor, também sentem falta de outras, como um telhado durável para cabana, que não seja preciso trocar todo ano. Acredito que a cada dia eles sejam mais capazes de perceber que possuem direitos e é preciso lutar por eles, inclusive levando a Funai a ser cada vez mais atuante.
Uma percepção além da que tem o homem branco /ARQUIVO DO DIRETOR |
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