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Montezuma Cruz

Os percalços da energia nos confins amazônicos


MONTEZUMA CRUZ  - Para cada castanheira arrancada, a Companhia Energética do Amazonas (Ceam) planta oito, informou hoje o representante da Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobrás), Paulo Roberto de Holanda Sales. Antes mesmo de ouvir as ponderações do deputado Henrique Afonso (PT-AC) sobre as peculiariadades das comunidades isoladas no Acre, ele se antecipou nas respostas a respeito das precauções tomadas pelas empresas distribuidoras para preservar a floresta.
O coordenador estadual do Programa Luz Para Todos no Amazonas, Robson de Bastos, informou que, entre os cuidados tomados está a instalação de energia somente com postes de concreto, para evitar qualquer desmatamento. "Só não fazemos isso em regiões sem condições de transporte", informou.
As dificuldades de cada estado da região norte foram mostradas a dirigentes da Eletrobras, da Agência Nacional de Energia Elétrica, e coordenadores do Programa Luz Para Todos, durante audiência pública nesta quinta-feira, na Comissão da Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional, da Câmara dos Deputados. Deputados e convidados debateram o tema Atendimento energético no interior e nas comunidades isoladas.
Segundo o coordenador nacional do Programa Luz Para Todos, Hélio Morito Shinoda, a proposta inicial contemplou 2 milhões de ligações e atualmente estão concluídas 1,3 milhão. O norte brasileiro, disse, recebeu investimentos de R$ 714 milhões e beneficiou-se com 163 mil ligações domiciliares. No País, o programa atende a 6 milhões de pessoas.
Políticas adequadas
"Quando quebra um motor no seringal e ou numa aldeia indígena é um Deus nos acuda", disse Afonso. E ampliou o discurso, cobrando do governo federal "políticas públicas adequadas à região". Informou que os ramais (pequenas estradas na selva) vêm expondo ao corte suas castanheiras nativas. Perguntou aos dirigentes se a energia elétrica para seringueiros e índios seria produzida pelo dendê ou pela cana-de-açúcar. Um dia antes, na mesma comissão, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, admitiu que a cana, por exemplo, ocuparia áreas degradadas por pastagens na Amazônia.
Afonso justificou a necessidade da "adequação de políticas", lembrando que na floresta não se pode instalar orelhões telefônicos, apropriados a praças públicas. Nem todas as cidades acreanas as possuem. Fernando Melo (PPT-AC) concordou, defendeu prioridade para o uso da energia a partir da biomassa, e saudou as comunidades "absolutamente isoladas" de Feijó e Santa Rosa.
Ele destacou o fogão a lenha que gera energia, inventado por um mineiro e desenvolvido pela Fundação de Tecnologia do Estado do Acre.
Para a surpresa de Melo, o coordenador Hélio Shinoda disse conhecer o fogão e ressaltou sua importância para os extrativistas. O fogão carrega uma bateria capaz de gerar eletricidade suficiente para acender três lâmpadas e um aparelho de TV.
Prometeu apoio à Eletroacre na formulação de propostas que aproveitem o invento. A partir do próximo ano, a empresa DAMP Eletric, de Minas Gerais, comprometeu-se a utilizar equipamentos nacionais na fabricação de 300 unidades por mês, em Rio Branco.
Desvio do diesel
"Costumamos enfrentar apagões por falta de combustível no interior do estado", queixou-se o deputado Marcelo Serafim (PSB-AM). Ele expôs o custo amazônico para a instalação da energia elétrica e reiterou denúncia feita ao Ministério das Minas e Energia e à Polícia Federal, sobre o desvio de óleo combustível destinado a prefeituras amazonenses. "Esse furto é constante e está enriquecendo donos de postos", acusou. "Enquanto isso, de que maneira o caboclo de Ipixuna, sem recursos, vai pagar a conta mensal de energia?", questionou.
Mais: quis saber se o medidor vai andar 35 dias num barco para cortar a conta de energia desse mesmo caboclo de Ipixuna ( 1.380 quilômetros do sul de Manaus) e se não haveria para eles algum tipo de isenção. Shinoda prometeu rever a papelada na sede do ministério e localizar "o tipo de providência tomada". Sabe, de antemão, que o descaminho do óleo não começou ontem. É uma prática que vem atravessando governos, impunemente.
Paulista de Jundiaí e deputada pelo Pará, Bel Mesquita (PMDB) sensibilizou os representantes das estatais: "Eu fui conhecer o que é viver na Amazônia só depois de ir trabalhar num projeto do Incra, sem luz elétrica". Antes da audiência pública terminar, o deputado Afonso informou, sorrindo que puxará um movimento nacional pela "amazonização do País". Justificou: "Nós, acreanos, já fomos bolivianos; o País precisa nos conhecer melhor".
Fonte: Agenciaamazonia

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