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Montezuma Cruz

Fogão ecológico leva energia à floresta


 

MONTEZUMA CRUZ
Agência Amazônia

BRASÍLIA – Isolados na floresta amazônica, seringueiros da Reserva Extrativista Cazumbá-Iracema (750 mil hectares), no município de Sena Madureira, (AC) receberão, nos próximos dias seis e sete de março, a visita da coordenadora estadual do Programa Luz Para Todos, Nadma Farias, para se cadastrarem no Programa do Kit Energia, cuja vedete é hoje o fogão a lenha Geralux, que gera eletricidade. Nadma é pioneira na implementação do projeto. (foto acima: Fogão acreano usa peças nacionais / SECOM-AC)

Nas palavras da moda, trata-se de um fogão "mais ambientalmente correto do que os fogões tradicionais", porque economiza até 50% da biomassa hoje empregada, além de reter toda a fuligem. A inalação de fuligem é apontada pela Organização Mundial de Saúde como a 8ª causa de morte no mundo. O encontro foi anunciado entusiasticamente à Agência Amazônia, em Brasília, pelo vice-prefeito de Sena Madureira, Jairo Cassiano Barbosa (PMN).

Sena Madureira fica a 144 quilômetros de Rio Branco, a capital acreana. A programação do encontro está sendo concluída, mas é provável que a reunião com os seringueiros seja feita na localidade de Bela Arruda. Outro encontro com as famílias assentadas nessa Resex está previsto para a Flona do Macauã, nos dias 13 e 14.

O kit possibilita ao seringueiro optar por um motor de popa de 5,5 HP e uma canoa, ou por um fogão a lenha gerador de energia, o Geralux, cujo projeto foi concebido pelo pesquisador Ronaldo Sato, da Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (Funtac) e logo aprovado pela Centrais Elétricas do Norte Brasileiro (Eletronorte). "Cada família sabe do que mais necessita. Algumas precisam dos dois recursos", comenta Barbosa.

O vice-prefeito lembrou o exemplo do carteiro terceirizado Raimundo Maia, que remou durante 15 anos pelos rios da região, para exercer a sua profissão a serviço dos Correios. "Ele tem nove filhos e cada um possui um motor", disse. 

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Criança da Resex Cazumbá / WWF


Invento vai iluminar até o interior do Piauí


BRASÍLIA – Nascido em Apucarana (norte do Paraná, 118 mil habitantes), o engenheiro Ronaldo Sato disse que acreditou na possibilidade de melhorar o projeto do milenar fogão, tornando-o mais ambientalmente amigável e, sobretudo, utilizando-o para gerar energia elétrica.

Após a distribuição dos primeiros 27 fogões às cozinhas das casas dos seringais Floresta, Nova Vida e Nazaré, dentro da Reserva Extrativista Chico Mendes, em Xapuri, o engenheiro conquistou dividendos na carreira: ingressou na empresa mineira Damp Eletric, do grupo BMG, assumindo a direção técnica da empresa. Desde então, tornou-se pai da marca BMG Lux, já em ritmo de produção industrial.

O sucesso do fogão correu da Amazônia para o Nordeste. No final de 2008, o vice-presidente executivo do grupo, João Ferreira da Silva, reuniu-se com o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), estudando para este ano a instalação de uma fábrica em Teresina. Inicialmente deverão ser investidos R$ 15 milhões. A Damp Eletric é uma empresa que atua na área de energia elétrica, da geração, ao transporte e distribuição de energia.

"Durante minha infância, cansei de acordar de manhã com o nariz preto da fumaça da lamparina que iluminava nossa casa, enquanto eu e meus irmãos nos esforçávamos para estudar. Por isso sempre achei injusto que tantas pessoas aqui no Acre, no Brasil e no mundo não tivessem direito a um sistema de energia que iluminasse suas vidas com lâmpadas, que as tirasse do isolamento pela televisão, melhorando assim sua educação e até sua saúde. Foi para estas pessoas que inventei este fogão".

As agruras vividas por Sato foram as mesmas dos seus vizinhos do Pontal do Paranapanema, uma das regiões mais pobres do Estado de São Paulo, onde durante a lamparina, o lampião a querosene ou a gás, funcionaram até meados dos anos 1960. E ainda existem, Brasil afora. (M.C.) 

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Seringueiro liga a TV com a energia do fogão / GLEILSON MIRANDA


Benefício chega no tempo do manejo

BRASÍLIA– O benefício patrocinado pelo governo acreano vai unir o útil ao agradável na floresta. Situada nos municípios de Sena Madureira e Manuel Urbano, a Resex Cazumbá-Iracema abriga cerca de 270 famílias (cerca de 1.300 habitantes), que vivem do extrativismo de castanha-do-Brasil, pesca, artesanato de borracha e sementes, agricultura e pecuária de subsistência.

Desde a criação da Resex, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, o governo estadual atende às famílias na carência habitacional. Atualmente, as velhas casas cobertas com folhas de paxiúba, recebem telhas ecológicas. No Alto Juruá, 395 famílias se beneficiaram nas cabeceiras dos altos rios, entre as quais, Boca e a Foz do Tejo, Seringal Restauração, e as cabeceiras do próprio Juruá.

O plano de manejo da reserva foi ratificado em agosto de 2008 pela Casa Civil da Presidência da República. O documento foi redigido com a participação dos moradores da reserva. Institui programas de desenvolvimento social, econômico e ambiental, e um conjunto de normas comunitárias – o Plano de Uso.

Das mais de 50 reservas extrativistas existentes no Brasil, apenas a Resex Chico Mendes, também no Acre, tinha o documento elaborado e ratificado pelo Governo Federal. "O plano de manejo é um documento essencial para que a unidade de conservação seja de fato implementada", explicou o biólogo Juan Negret, da organização não-governamental WWF-Brasil. Ele é membro do Conselho Deliberativo da Resex Cazumbá-Iracema. (M.C.)

CONHEÇA O INVENTO

● O tradicional fogão a lenha é transformado em gerador de eletricidade, que é acumulada numa bateria capaz de alimentar três lâmpadas de 12 volts e mais uma tomada de 110 volts para televisão ou outro eletrodoméstico.

● Usa componentes nacionais.

● Na mesma queima de biomassa utilizada para o preparo dos alimentos, o fogão Geralux produz energia suficiente para acender cinco lâmpadas e ligar uma televisão ou outros equipamentos de baixo consumo de eletricidade, como rádios ou até um computador pessoal.

● O fogão não utiliza caldeira. Isso simplifica sua construção e reduz riscos de acidentes. O vapor gerado no trocador de calor é transformado em energia mecânica e, a seguir, elétrica. A energia é armazenada em uma bateria comum de automóvel – cerca de 30% de sua carga é suficiente para a iluminação da residência em um período de quatro a cinco horas.

Fonte: Montezuma Cruz - A Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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