Sábado, 10 de janeiro de 2009 - 15h52
MONTEZUMA CRUZ
Agência Amazônia
RIO BRANCO, AC – O Acre incluiu na sua agenda ambiental a produção de etanol a partir da mandioca. Projeto idealizado pelo doutor em energia renovável, Diones Assis Salla visa a construção de uma microdestilaria para o processamento de raízes de mandioca colhidas por famílias de pequenos agricultores no Vale do Juruá. Ele contempla o mercado local de mistura à gasolina, em torno de 25%. Os investimentos foram estimados em R$ 1,4 milhão. Na foto, Fernando Melo colhe mandiocaba (açucarada) em Sena Madureira.
O estudo de Diones Salla entusiasmou o gerente de desenvolvimento Energético das Comunidades Isoladas, Ércio Lima, um apaixonado por energias alternativas. Ele vê a possibilidade de introdução da agroenergia de uma maneira justa na matriz energética brasileira e acena com a possibilidade de contribuir com o projeto.
O deputado Fernando Melo (PT-AC), membro da Comissão de Agricultura, mencionou a idéia do cientista para fortalecer o projeto com a Centrais Elétricas do Norte Brasileiro (Eletronorte): "Uma expressão do tipo Quilômetro Zero, ao modo do Programa Fome Zero, se faz necessária para construir a idéia de encurtar as distâncias entre a produção e o consumo de produtos e insumos básicos nos lugares mais isolados do nosso Estado", ele diz. Justifica que isso evitaria o "passeio" desses bens antes de serem consumidos. "Só no setor de transporte é possível alcançar uma economia inestimável de energia", observou.
"A mandioca tem tudo para compor o programa de produção de etanol no Acre", ele assinala. "Tem robustez, presença abundante nos municípios, elevada tolerância à estiagem, pragas, fogo, e ao excesso de chuvas, bons rendimentos mesmo em solos de baixa fertilidade, baixa exigência em insumos modernos, e é a melhor alternativa para reutilização das áreas degradadas. "Cultiva-se e colhe-se mandioca em qualquer época do ano e sua energia tem baixo impacto ambiental", acrescentou.
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Salla: cultivo de mandioca consorciado é bom para o Acre / DIVULGAÇÃO |
ENTREVISTA
Projeto atende mercados alimentício,
de bebidas, farmácia e cosméticos
Agência Amazônia — O Acre tem condições de mudar o modelo energético amazônico?
Diones Salla – Acredito que não apenas o Acre, mas outras regiões amazônicas apresentam dificuldades naturais, ou seja, a grande dispersão das comunidades ribeirinhas e as difíceis condições de acesso até elas. Isso impossibilita que o fornecimento de energia elétrica, do Programa Luz Para Todos, se concretize mediante a extensão de redes. Do mesmo modo, a energia elétrica mantida por geradores a óleo diesel, além de petrodependente, com todas as conseqüências ambientais, é obtida a custos elevadíssimos, pelos mesmos motivos.
O senhor propõe a utilização do álcool hidratado na própria região onde for produzido. Em quê?
Ele acionará geradores elétricos, motores de casas de farinha, bombas-d'água, e roçadeiras manuais usadas para capinar roçados, em substituição à enxada e ao terçado. Serve ainda para rabetas de barcos, canoas utilizadas no escoamento da produção ribeirinha, e para motores de automóveis.
E o mercado para outros tipos de álcool?
A microdestilaria produzirá álcool neutro para atender a indústrias farmacêuticas, de bebidas e de cosméticos, visando o mercado asiático que não consome álcool oriundo de plantas do tipo C4 (milho e cana-de-açúcar); somente consomem álcool do tipo C3 (mandioca, arroz, batatas e outras raízes), proporcionando a entrada de divisas no município.
"As próximas gerações acreanas
valorizarão a produção local"
Explique as concepções sinonímicas, das quais o senhor trata nesse projeto?
Salla (e) mostra a Fernando Melo teste com etanol feito na Unesp, em Botucatu / M.CRUZ
Falo da possibilidade de melhorar a renda e do fortalecimento das economias locais, e também da descentralização da produção e do consumo, de acordo com a realidade local. Significa que o empreendimento proporciona trabalho e renda de forma distribuída ao longo de todo o ano. Existe nisso uma combiação entre volume e produção, arranjo social e alimentos. É isso o que fortalece os mercados locais, fundamentalmente o autoconsumo dos associados.
E isso pode ocorrer de uma forma constante...
Exato. O projeto funcionando corretamente concorrerá dentro da desglobalização das economias, especialmente a produção e o comércio de alimentos, e nisso a geração de energia acontece de forma constante e continuada para manter a produção e a distribuição local de alimentos, com respeito aos biomas e aos ecossistemas naturais.
O Acre importa tudo, e não é de hoje...
É. O Estado alcançou o seu equilíbrio energético-alimentar na importação de commodities básicas, que é agravado pelo dispêndio energético promovido para percorrer as longas distâncias e condições de difícil acesso, o que não é sentido pelos consumidores urbanos. A manutenção desse sistema e tornará insustentável para as próximas gerações. Elas atuarão em outros níveis de discernimento e de imparcialidade e sustarão essas pendências, valorizando a produção local. Isso pressupõe privilegiar apenas o livre comércio de idéias, propriedade intelectual, informação, tecnologia e coisas intangíveis para as quais serão necessários mais compartilhamento e comunicação.
Será possível, então, uma socialização da renda com a cultura mandioqueira...
Acredito que sim, se forem construídas relações dignas de trabalho; redução do trabalho penoso e degradante; fortalecimento das estruturas econômicas sob o controle dos produtores familiares; conquista da soberania e da autonomia na produção de energia; enfim, a construção dos rumos para uma integração sustentável, dentro da concepção de multiplicidade de matérias-primas. (M.C.)
Jordão, onde o isolamento dói no bolso
BRASÍLIA – Jordão, 6,3 mil habitantes, na confluência dos rios Tarauacá e Jordão, poderá sediar a primeira microdestilaria do Estado do Acre. O município ostenta a maior taxa de analfabetismo do País – 60,7% da população com 15 anos ou mais não sabe ler ou escrever e tem o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil e o menor de toda a região Norte.
A 640 quilômetros de Rio Branco, a capital do Estado, essa cidade possui apenas seis automóveis e quatro caminhões. O litro de gasolina custa R$ 4,30, a lata de leite em pó, R$ 14, e o botijão de gás de 13 kg, R$ 65. Uma viagem de barco entre Jordão e Tarauacá demora cinco dias. A passagem de avião para Rio Branco, cerca de 700 Km, custa R$ 400.
O cientista Diones Salla alerta que Santa Rosa do Purus e Marechal Thaumaturgo também se beneficiarão, porque estão próximos e também possuem lavouras de mandioca. (M.C.)
Fonte: Montezuma Cruz - AAgênciaamazônia é parceira do Gentedeopiniao.
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