Trocas que nos enlouquecem

À esta altura da vida você já deve ter precisado algum dia trocar de celular, de computador, e sofrendo com a tristeza de aposentar os objetos que tanto tempo te acompanharam, bem usados, que sabem tanto de você e com os quais estava totalmente acostumado. Sei bem o quanto não é nada fácil.

E para levar tudo de um para o outro? E o que não vai? Aqueles favoritos, os programas, os sites em endereços que você cultivou e registrou durante anos. Fora entender novos mecanismos, o que apertar, se aperta. Os riscos de perder tudo numa manobra açodada. A vida digital, mesmo para quem já é acostumado, se não é especialista, vira maratona.

Precisei trocar de computador porque o anterior, com mais de vinte anos, dava fortes sinais de senilidade a ponto de nem mais conseguir abrir arquivos simples, e o que obrigava a manobras inacreditáveis e criativas para o uso diário. Tão antigo, que usava duas anteninhas externas para captar o wi-fi. Fora exigir drive externo (e a paranoia que ele pife) uma vez que a memória estava esgotada, sem remédio, com o tal Windows parado no número do século passado.

Antes preciso descrever uma surpresa. O anterior era uma torre enorme, pesada, muitos quilos. O novo é uma coisinha pequenina, leve, tanto que agora consegue ficar preso atrás do monitor, no suporte, ocupando só um espacinho na mesa. Me endividei por bons meses, mas, como disse, cheguei ao limite. Os problemas atrasavam o trabalho, cansando muito mais com a lentidão. Fora o mau humor que ninguém merece, mesmo com tanto apego ao que durante tanto tempo me acompanhou, quase um pet. Da família.

Se não fosse o técnico que conheço há décadas, Pascoal Aita, meu herói, fazendo tudo de forma remota, não sei o que seria de mim. Primeiro, inclusive, para montar o corpinho do novo bichinho, uma vitória obtida após horas assistindo e repetindo um tutorial do YouTube.

Que dia! Que exaustão! Aconteceu que, por coincidência, enquanto instalava o computador, o HostGator, provedor do site que edito, Chumbo Gordo, teve um problema sério de instabilidade, e no mesmo dia deixou o site fora do ar quase o dia todo. Eu tentando resolver. Demoraram horas para admitir que o problema era deles, me mandando antes para o chat, suporte, e no final, como hoje tudo passa por robôs, tive de me relacionar com a infernal Inteligência Artificial deles, ainda bem longe da perfeição, e que ficou indicando soluções erradas, como mexer com umas letrinhas sobre as quais nem tenho ideia, DNS, DNA, por aí afora. Daí, também, repito: Pascoal, meu herói! (Se um dia precisar, avisa que o indico).

Não posso deixar de comentar também a tortura a qual diariamente temos tido de enfrentar na navegação por essas terras e nuvens, para fugir dos golpes e em nome da segurança, para tudo onde andamos, e além das senhas disso e daquilo (vivas ao guardador de senhas!). O desfile de pedidos, a cada passo, de códigos de verificação, códigos de ativação, provas de que é humano, cliques, dupla verificação e Pins; “falhou, tente outra vez”; a ameaça de só ter três chances ou será bloqueado, interditado, desprezado. Mandamos o código para seu SMS, WhatsApp, e-mail. Aí vai num, vai no outro, até achar, quando acha, e não tem de pedir de novo. Só com a ajuda do celular recebendo essas chaves, e tudo isso ao mesmo tempo.

Bem, perceberam que assim fugi “daquele” tema que dominou a semana. Não aguento mais ouvir falar daquele nome e dos todos que tentaram selar nosso destino. Melhor escrever sobre nosso dia a dia e coisas bem mais pueris, pelo menos por enquanto. Para não arrumar briga.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, cronista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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