Sábado, 4 de outubro de 2025 - 08h02
O “Ministrão” é um daqueles botecos de
esquina, sem luxo, que fica nos Jardins, Alameda Lorena com Rua Ministro Rocha
Azevedo, em São Paulo, com mais mesas externas que internas, comida mais em
conta em um cardápio de muitas páginas e bons e reforçados pratos do dia. Onde
você sempre encontra pessoas de todas as classes sociais - todas, mesmo - e
sempre muita gente, de dia e de noite. Fechado há dias: a designer de
interiores Radharani Domingos ficou cega e está ainda no hospital depois de
consumir no local três caipirinhas com vodca certamente contaminada por
metanol.
Há anos, ali mesmo, diante do "Ministrão"
ocorre uma tradição. Nas tardes do dia 24 de dezembro o Maestro João Carlos
Martins desce de seu apartamento e na esquina, na rua, rege os vizinhos em
alegres cantos e coro de músicas natalinas. O maestro mexe as mãos como se
estivesse regendo uma Orquestra e é recebido com festa pelo grupo que já o
espera no final da tarde, chegando até a fechar a rua tanta gente que aparece
nesse bar e restaurante que faz parte do bairro. Teve ano até que, mesmo após
cirurgia no quadril, não deixou de aparecer, inclusive acompanhado de seu
médico. Agora, o medo se espalhou, e a história do local ganhou uma mancha.
Pelo menos por enquanto seguem as investigações, o Bar
Ministro, que assumiu o nome “Ministrão” há pouco tempo no letreiro depois de
uma reforma, já que todo mundo assim o chama, está com portas arriadas, e há
climão esquisito em toda a região, porque por aqui perto todo mundo conhece, já
foi lá, para comer, beber, comprar cigarro, sorvete, encontrar amigos. Comer
uma batatinha ou mandioca frita, a feijoada das quartas-feiras e sábados. Meu
preferido lá, aliás, é o filet à parmegiana, sempre caprichado – indico quando
toda essa balbúrdia terrível de envenenamento e contaminação de bebidas por
metanol passar. Há de passar. Torcendo para que os contaminados consigam se
recuperar e mais essa crise passe. Inclusive porque não está só aqui na
esquina, mas em todo o país vêm surgindo casos e mortes.
Fora a boataria que já afasta consumidores das mesas
dos bares, põe caveiras imaginárias em todos os destilados, e ventila outros
nomes de lugares, inclusive bem sofisticados, que aparecem nas conversas,
ficamos sabendo que o problema na verdade não é novo. Que os números de
falsificação de bebidas são aterradores, mas só agora mobilizam as autoridades;
a diferença do momento é o metanol e o grande número de casos, inclusive com
investigação de inúmeras mortes suspeitas já dias antes do assunto explodir,
admitido pelo próprio Ministro da Saúde. As perguntas se intensificam: tem PCC
envolvido, como parece que agora a organização está onipresente em todos os
malfeitos? O governador nega; a Polícia Federal não afasta a hipótese, e mais
uma briga de versões azeda a política. O metanol foi usado para lavar as
garrafas que seriam falsificadas? Quem são e como funcionam os distribuidores,
e como os estabelecimentos são abastecidos? Pagam preços menores por esse
perigo? Quantas pessoas podem realmente ter sido atingidas ou ainda o serão,
porque não se tem ideia do espalhamento? Quais as medidas para salvá-las?
Teremos antídotos para tantos casos? Quando teremos todas as respostas?
A verdade, infelizmente, é que não temos mais sossego
para nada. Todos os dias temores e tremores, sustos, aqui perto, ali, lá longe.
Crises, inclusive de confiança entre uns e outros.
Não conseguimos nos livrar de tantos medos nem mais
bebendo para esquecer. Nem a água é mais confiável.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, cronista, consultora de
comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom
para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na
Amazon). Vive em São Paulo. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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