Sábado, 25 de outubro de 2025 - 08h04

Saudades de quando isso se referia àquelas noites
especiais de antigamente no extinto parque PlayCenter nas quais, embora eu
nunca tenha entendido isso muito bem, as pessoas pagavam ingressos para sofrer,
passar medo nos brinquedos e atividades, levar sustos. E não era barato. Agora
nem precisa: o terror está nas ruas, na vida.
A cidade está tomada pelo tal Halloween que de uns tempos
para cá virou mais uma festiva data comercial usada para faturar, e muito. Não
que antes não existisse, claro, por aqui mais conhecido como Dia das Bruxas,
mas agora ganhou glamour, virou moda, chama a atenção e não só das criancinhas,
mas dos adultos. Outro dia mesmo – aliás bem antes da tal data, no 31 de
outubro – teve evento glamuroso. Entre outros, claro, que posso nem ter ficado
sabendo, embora ande bem difícil ficar sem esbarrar no que celebridades e
subcelebridades andam fazendo, vestindo, gastando, com quem, como, quais e onde
mantêm relações amorosas. Esse é novo noticiário, percebeu? O mundo está caindo
e aí você vai ver quais são as notícias mais lidas – touché – as fofocas
encabeçam a lista em todos os portais, incluindo os mais sérios.
Já começa pela pesquisa no Google; se fizer, uns
fantasminhas surgem na página. As vitrines da cidade estão há mais de mês
tomadas por bruxas, esqueletos, caveiras, abóboras gigantescas, fora teias de
aranha, acessórios como chapéus pontudos, máscaras, caldeirões, túmulos,
morcegos e casas sobrenaturais. Perdi esse capítulo de quando essa data se
infiltrou, mas já faz uns anos, e cada vez mais se espalha, que o consumo – bem
sabem - não tem controle. Logo tudo isso será substituído de vez por hohohos,
renas, papais Noéis, árvores e luzinhas estrepitantes e muitos laços de fita e
sugestões de presentes (mas tudo isso também já está por aí dividindo a
atenção). Não deixa de ser terror também.
Travessuras ou gostosuras? - Crianças fantasiadas com
cestinhos batendo às portas pedindo doces era coisa de filmes, de historinhas
americanas (embora a data tenha surgido no Reino Unido). O engraçado agora é
que fico pensando que, pelo menos aqui em São Paulo, esse terror dura o ano
inteiro, e sem a menor graça, sem fantasias ou humor. Imagino ainda ninguém
abrindo as portas porque o medo virou rotina, em casa; nas ruas. Não precisa
mais de data, horários, nem de comprar ingressos, nada. Bruxas usam vassouras
para voar. Agora são ladrões de capacete ou máscara com motos ou bicicletas que
se aproximam e apavoram, armados, levando o que podem, celulares e alianças, o
novo objeto de desejo por conta do preço do ouro. Saem voando. Todos os dias
muitos casos, feridos, e algumas mortes que as armas e balas não são mesmo de
brincadeira. Temos ainda a versão virtual, tocando o terror pelo telefone que
não para, pelas redes, tentativas de golpes terríveis para que nos prendamos em
teias cada vez mais sofisticadas. Somos caçados, ameaçados. Em todos os locais,
de todas as formas.
Espero de verdade que nunca haja o Dia do Faroeste, que já
vivemos um, urbano. Além de mais rodeios e muita música sertaneja, iria fazer a
alegria da Bancada da Bala. Melhor não dar ideia.
Só que, como sou legal, para fazer parte da brincadeira e
como a ideia do momento é a de aterrorizar, não tenho como esconder de vocês a
data que já chegou por aí adiantada e atormentando, igual espírito zombeteiro:
a Black Friday, 28 de novembro, quando você compra mais caro o que pensa que
está mais barato. Puxa, a gente nunca importa coisas boas?
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, cronista, consultora de
comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom
para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na
Amazon). Vive em São Paulo. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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