Sábado, 5 de julho de 2025 - 08h02
Semana passada escrevi sobre a minha quase mania,
como considerei, de contar coisas diversas nas ruas, mas apenas por pura
distração. Muitos leitores me escreveram dizendo que se divertiram lendo e
acabaram me revelando algumas das suas particulares manias e coisas que também
notaram, comuns. Seriam hábitos? Costumes? Tudo se funde e se confunde, enfim.
Falo mania de forma tranquila, mas bem sei que quando
tratadas na área de saúde mental elas podem ser sérias, indícios de
transtornos, como quem tem a de limpeza, verificação constante de portas e
janelas, roer unhas ou até mais graves como a cleptomania. Podem, inclusive,
trazer sofrimento. Pelo que entendo, a principal diferença entre hábitos e
manias reside na frequência, intensidade e impacto na vida de cada um. Hábitos
seriam ações repetitivas e regulares que fazem parte do dia a dia, enquanto
manias seriam os comportamentos repetitivos, alguns incomuns, questões
emocionais, e que podem ou não causar prejuízos.
Mas quero voltar ao bom humor: declaro, antes de mais nada,
que nem tenho tempo de sair contando muitas coisas por aí. Aliás, já temos
tantas atividades obrigatórias e aborrecimentos diários que tentar coisas bobas
para distração é até saudável. Um exercício mental individual nesse que
considero o templo da liberdade, o pensamento. O nosso silencioso e
inexpugnável pensamento onde, se houver censura, somos nós mesmo que as fazemos
quando eles, os pensamentos, são mais, digamos, fortes.
Problema mesmo é quando pensamos uma coisa, mas temos de
nos calar ou dizer outra, dependendo da situação, seja para nos resguardar, por
segurança, evitar embates ou mesmo preguiça de revidar. Pior é que o que tem de
bobagem sendo dita, escrita, até defendida no nosso país nos últimos tempos tem
tornado esse exercício quase uma capacidade teatral. Do meu ponto de vista, que
quem me conhece sabe que expresso emoção no rosto claramente, não mover um
músculo principalmente quando me tiram de inexperiente ou mesmo desinformada,
chega a ser um sacrifício. Apelo para o lado atriz. Por exemplo - e não faltam
exemplos - ouvir o irresponsável discurso antivacinas. Ou a opinião besteira de
quem se acha de direita ou esquerda sem ter a menor noção do que é exatamente
isso; só repete o que ouviu sabe-se lá onde, ou de algum desses malfeitores que
se espalham de forma impressionante.
Enfim, acreditem, lembrando dos leitores que me contaram
seus particulares hábitos legais, fiquei pensando mesmo foi em como andam as
relações e entendimentos pessoais, como conseguem manter inclusive os seus
casamentos. A esta altura da vida, às vezes admito que me sinto meio incapaz de
construir novas convivências íntimas, que significariam mudanças em hábitos (ou
seriam costumes? manias?), alguns até bem bobos. Reparei agora durante esse
frio forte que atingiu São Paulo a deselegância da roupa que amo ficar em casa,
que autodenomino vestida de monstrinho: roupas mais velhas e confortáveis, uma
peça grita e a outra não escuta, Glorinha Kalil ficaria horrorizada, lúmpen
total. Tá bem também que essas histórias de quem gosta de frio alegar que um
dos motivos é o de que as pessoas andam mais elegantes nas ruas é pura bazófia.
Cebolas ambulantes, que somos país de gritantes diferenças sociais.
Olha só: tudo isso só porque acordei hoje bem feliz no meu
ninho, como de hábito. A cama totalmente desarrumada, quentinha, enroscada
debaixo do edredom, nos meus lençóis de cetim que deslizam, a gata roncando aos
meus pés. E isso é felicidade. Sei de quem – e até já vivi ao lado – não
consegue de maneira alguma nem deitar se o lençol não estiver esticado, preso
ao pé da cama. E tem quem deita e acorda na mesma posição, realmente notável.
Cada qual com sua mania, hábito, costume. Isso é liberdade
e poder.
______________________________________________________
MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em
São Paulo. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
___________________________
Instagram: https://www.instagram.com/marligo/
Blog Marli Gonçalves: www.marligo.wordpress.com
No Facebook: https://www.facebook.com/marli.goncalves
No Twitter: https://twitter.com/MarliGo
No BlueSky: https://bsky.app/profile/marligo.bsky.social
No Threads: https://www.threads.net/@marligo
Tô ficando quase maluca com a verificação se uma observação que ouvi de um amigo é mesmo verdade: a maioria dos gays está usando barba e bigode, ou
Orgulho e diversidade. Sempre alertas
As celebrações se unem. Diversidade, e orgulho por fazer parte de alguma. E são muitas as possibilidades de estarmos inseridos em algumas delas, até
A cada dia nos percebemos mais vulneráveis, iludidos, frágeis, indefesos, até bobos e manipuláveis. Muito além dos inúmeros riscos que sofremos no d
Amigo é coisa para sempre guardar
Amigo, cada amigo, marca um passo e um compasso. O tempo vai passando, vai chegando perto o fecho de mais um ano de vida, algumas décadas, e as lemb