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Gente de Opinião

Hiram Reis e Silva

Demarcadores, Heróis Olvidados – Parte VI


Demarcadores, Heróis Olvidados – Parte VI - Gente de Opinião

Bagé, RS, 13.03.2020


A Batalha, N° 4.425

Rio de Janeiro, RJ ‒ Terça-feira, 14.01.1941

 

Atacados e Cercados Pelos Índios
os Membros da Comissão de Limites

 

Surpreendidos e Cercados Quando Dormiam Foram Todos Feridos por Flechas Envenenadas

 

 

BELÉM, 13 [Agência Nacional] – Confirma-se o ataque dos índios aos membros da Comissão de Limites do Setor Norte, atualmente em operações na fronteira da Venezuela. Informações radiotelegráficas transmitidas diretamente dizem que o destacamento brasileiro encontra-se cercado há 24 horas.

 

O grupo composto do radiotelegrafista, o médico e mais três membros, e o único do qual chegam notícias, avisou que foi atacado pela madrugada do dia doze, por cerca de cem índios. Surpreendidos quando dormiam, foram todos feridos por flechas envenenadas, mas, mesmo assim, conseguiram repelir a bala, chefiados pelo médico Armando Morelli, o ataque dos selvagens, que recuaram, mantendo o cerco. Essa situação ainda perdura, constando, sem confirmação até agora, que dois elementos do grupo morreram, estando os outros em estado gravíssimo.

 

O Médico Morelli faz uma Narrativa do Ataque, em Radiograma Dirigido ao
Chefe da Comissão de Limites

 

Comunica-nos a Agência Nacional: No dia 9 do corrente mês, uma Turma da Comissão Brasileira Demarcadora de Limites ‒ 1ª Divisão, empenhada, nos trabalhos de levantamento do curso, do Rio Demini, afluente do Rio Negro, no Estado do Amazonas, foi atacada por índios selvagens. Quando se realizou o ataque, estavam apenas no acampamento o Médico Morelli, o telegrafista Jovino, Sargento da Marinha, e mais três homens. O grosso da turma achava-se distante do local, procedendo a trabalhos de campo.

 

Todos os cinco homens foram feridos gravemente; apenas o telegrafista pode locomover-se. O seguinte radiograma, passado pelo Médico Morelli ao Chefe da Comissão de Limites, CMG Braz Dias de Aguiar, para a sede da Comissão, em Belém, Pará, permite que se faça uma ideia não só da gravidade da ocorrência como da bravura de que deram provas os sitiados:

 

O ataque começou às 05h30, com duas saraivadas de flechas premeditadas, em cada rede. Consegui alcançar meu rifle e atirei no rumo dos agressores, afugentando-os do local, porém, eles se mantêm nos arredores, anunciados pelos latidos dos cães, que não cessam. Todos nós ficamos avariados, com mais de três ferimentos, cada um, exceto o Sargento da Marinha, Jovino que recebeu uma flecha na axila esquerda, ficando atravessada, e eu com sete, duas das quais atravessaram o pulmão direito e outra que se alojou na região renal, fixando-se na coluna verte­bral, sendo, com muita dificuldade, tirada. Apresento quatro hemorragias internas, mas meu organismo está suportando regularmente, apesar das dores lan­cinantes. Acredito que serão vinte ou trinta os atacan­tes, pois já se contam quarenta flechas, na maioria envenenadas. Nosso único recurso, agora, é de nos entrincheirarmos aqui e esperarmos socorro, de Leônidas ou de Nilar, que baixou ao depósito. Nenhum dos homens pode andar e eu nem me mexer na rede.

 

Mesmo a baixada por canoa é muito perigosa, porque os índios andam nos arredores. Pelo sim e pelo não, envio a todos muitos abraços, que peço a Vossa Excelência transmitir. Cordiais saudações – Morelli.

 

Novo Ataque

 

Outros radiogramas informavam que os índios continuavam a rondar o acampamento, durante a noite, impossibilitando, os atacados a sair das trincheiras e que, por causa dos latidos dos cães, tinham a impressão que o resto da Turma também fora atacada. No dia 10, os índios voltaram a atacar o acampamento. Apesar da gravidade de seus ferimentos, os homens pretenderam descer o Rio, quando os índios cortaram-lhes a retirada, sendo o grupo obrigado a voltar às trincheiras. Em vista da situação crítica em que se encontram esses membros da Comissão de Limites, o Ministro das Relações Exteriores deu autorização ampla ao seu chefe, Comandante Braz Dias de Aguiar, para agir em seu socorro.

 

O Genl Cmt da 8ª Região Militar, com sede em Belém, pôs à disposição do Comandante Braz Dias de Aguiar um avião “Comodoro” para seguir até Manaus. De Manaus, o Chefe da Comissão de Limites seguiu em lancha, cedida pelo Interventor Federal no Amazonas, pelo Rio Negro, em direção ao Rio Demini, levando consigo dois médicos e ambulância, esperando chegar a tempo de prestar socorro aos membros da Comissão que se encontram sitiados. Até o presente momento, o Ministério das Relações Exteriores, ao qual está subordinada a Comissão Brasileira Demarcadora de Limites, não tem conhecimento da morte de nenhum dos homens que compõem a turma encarregada dos trabalhos de levantamento do curso do referido Rio. (A BATALHA, N°. 4.425)

 

 

A Noite, N° 11.599

Rio de Janeiro, RJ ‒ Segunda-feira, 29.05.1944

 

Encerrando uma Divergência Secular

 

O Acordo Final de Limites Entre
o Peru e o Equador

 

 

LIMA, 28 (A. P.) ‒ O Presidente Prado, em mensagem irradiada à noite passada, sobre a solução definitiva da questão de fronteiras com o Equador, elogiou e agradeceu a intervenção do chanceler brasileiro Oswaldo Aranha e declarou:

 

Concluída a divergência que durou mais de um século, entre os dois países unidos e chamados, pela geografia e pela história, a viver vinculados um ao outro, reafirmo o sincero propósito de estreitar os vínculos de leal amizade com o povo e o governo equatorianos. Declaro, enfaticamente, que de nossa parte nada ficará por fazer nestas nobres e cordiais relações.

 

QUITO 28 (A. P.) ‒ Foi recebido ontem em audiência especial pelo Presidente da República o Comandante Braz Dias de Aguiar, da Marinha de Guerra do Brasil, que se acha investido das faculdades de árbitro da questão de fronteiras entre o Peru e o Equador, na Zona Oriental, de acordo com a fórmula sugerida pelo Chanceler Oswaldo Aranha. O ilustre oficial brasileiro declinou de fazer declarações aos jornalistas sobre a sua entrevista com o Presidente, limitando-se a informar que embarcará na próxima semana para a região em que deverá realizar a missão especial de que se acha incumbido. (A NOITE, N° 11.599)

 

 

A Noite, N° 11.876

Rio de Janeiro, RJ ‒ Quarta-feira, 07.03.1945

 

A Questão de Limites Entre o
Peru e o Equador

 

 

O Ministro José Roberto de Macedo Soares, que responde pelo expediente do Ministério das Relações Exteriores, recebeu do 1° Vice-presidente, em exercício da presidência, da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, Ministro, J. S. da Fonseca Hermes, o ofício a seguir transcrito, a propósito da aceitação pelo Equador e do Peru de uma proposta brasileira para serem submetidas a arbitramento as questões pendentes da demarcação de limites entre os dois Países:

 

Rio de Janeiro, 26.02.1945. Senhor Ministro. – Tenho a honra e o prazer de levar ao alto conhecimento de Vossa Excelência haver a Assembleia Geral da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro aprovado, hoje, sob unânimes aplausos, a seguinte moção:

 

Um acontecimento digno de registro em nossos anais acaba de ocorrer, e que merece tornemo-lo saliente porque põe em relevo o espírito pacifista, de concórdia e amizade que sempre orientou a nossa política exterior e americanista. A grave, secular e intrincada questão de limites entre o Peru e o Equador, por intermédio do nosso benemérito consócio, o Cmt Braz de Aguiar. E essa solução obedeceu às normas e aos princípios que o Brasil sempre sustentou como os mais dignos para solver as questões que se suscitassem entre povos irmãos e amigos; normas e princípios que sempre aplicou aos litígios surgidos com os seus vizinhos.

 

A solução da questão de limites entre o Equador e o Peru acaba de ser resolvida pacificamente, dignamente, honradamente, à satisfação de ambas as partes. Este fato merece o nosso aplauso não só pelo que encerra de nobre e elevado enquanto se refere à mentalidade e aos sentimentos dos dois povos e governos amigos, mas ainda porque essa solução foi obra da diplomacia brasileira, executada tecnicamen­te por um consócio nosso. [...] (A NOITE, N° 11.876)

 

 

O Acre, n° 855

Rio Branco, AC ‒ Domingo, 18.01.1948

 

Introdução à História das Bandeiras

Morre um Bandeirante

 

 

O Cmt Braz de Aguiar faleceu há 2 dias, mas já pertence à história. Não é daqueles cujo nome se afaga no túmulo, com os despojos mortais. Uma vida inteira dedicada ao serviço do Brasil, no desbrava­mento das suas zonas fronteiriças mais ásperas e desconhecidas, dá-lhe um lugar eminente no Pantheon dos Bandeirantes. Daqueles grandes exploradores que se extremaram pelas virtudes e pela ação. Demarcador de limites, durante quase quarenta anos, ele possuía as virtudes ideais dessa espécie de servidores: a elevada compreensão política das suas funções; um ardente patriotismo, que não excluía o sentido dos direitos alheios; o amor da aventura geográfica no coração da Natureza ignota; a fraternidade humana aliada à curiosidade científica pelo indígena; e esse poder de simpatia irradiante que dá a certos chefes a possibilidade de fazer aceitar aos subordinados o cumprimento das mais difíceis tarefas com o mesmo espírito de comunhão na grandeza do dever.

 

Poderemos afirmar, em obediência estrita à verdade, que Braz de Aguiar pertence à mesma família de um Ricardo Franco de Almeida Serra e de um Couto de Magalhães, no passado; ou de um Cândido Rondon, no presente. Os homens desta rara estirpe servem às nações de espelho, em que podem mirar-se na sua continuidade histórica: contemplar-se na sua imagem mais perfeita; haurindo nessa visão a consciência e a certeza da sua força moral. Aquelas velhas qualidades de energia, zelo inato e devotamento ao serviço que assinalaram tantos pioneiros do período colonial, encontravam-se com a mesma pujança neste homem dos nossos dias. Ele era um dos elos últimos duma cadeia que vai do presente até ao fundo dos séculos. E se o compreendemos melhor à luz da história, de que foi o transunto ([1]), também a evocação de certas figuras do passado ganha e se pode completar, quando aferidas por esse padrão, que a todas realiza e define, no mais substancial das virtudes herdadas.

 

Eis as razões que nos levam a incluir nesta série de artigos uma referência histórica a esse Bandeirante contemporâneo. Tivemos a felicidade de o conhecer e de o tratar com a espécie de camaradagem fraternal que une os homens apaixonados pelas mesmas buscas. Muitas vezes esse grande Chefe nos deu a honra do procurar-nos em nosso gabinete do trabalho no Ministério em que servia, para nos comunicar com alvoroço os últimos descobrimentos geográficos da Comissão, cujos trabalhos dirigia. Debruçados sobre os mapas e tomados do mesmo entusiasmo, eu ouvia a sua lição inédita. Deu-me igualmente a honra de me ler, antes de ser oficializado, o laudo que escreveu, como árbitro na velha, debatida e apaixonada questão dos territórios, conjuntamente disputados pelo Peru e o Equador.

 

Guardo dessa leitura, ou melhor, dessa audição, a impressão de uma obra prima do equilíbrio e de serena justiça, baseada numa sólida cultura das ciências geográficas e históricas. A maior parte da sua obra escrita consta do relatórios inéditos, que se guardam no Arquivo do Ministério das Relações Exteriores. Mas alguns: dos seus trabalhos estão publicados.

 

Nomeado, em 1929, Chefe da Comissão Brasileira Demarcadora de Limites para a Região Setentrional, apresentou, nessa qualidade, ao Congresso Brasileiro de Geografia, realizado em setembro de 1940, com o título “Nas fronteiras da Venezuela e Guianas Britânica e Neerlandesa”, uma comunicação muito notável sobre os trabalhos da equipe, dos anos de 1930 a 1940, a que presidia. Esse volume corre impressão em separata dos “Anais” daquele Congresso.

 

Páginas escritas com uma perfeita objetividade e estilo científico, abrangendo os múltiplos aspectos que podem, no terreno, interessar um demarcador de fronteiras em País como o Brasil, desde a geografia até à etnografia uma viva surpresa colhe o leitor, que as folheia atentamente.

 

Esse Chefe, que foi um grande animador e que animava ao modo dos lutadores leais, pondo-se à frente da Batalha, ao descrever um decênio de trabalhos por vezes em regiões aspérrimas nunca fala na primeira pessoa.

 

Apaga-se inteiramente para atribuir todas as fadigas e glórias, coletivamente, à Comissão. Dir-se-ia que essa longa e substancialíssima comunicação foi apenas obra do gabinete, em que ele houvesse reunido as observações colhidas por outrem nos trabalhos do campo.

 

Mas, lendo-se com atenção surpreendem-se no fla­grante das coisas vividas os testemunhos da experiên­cia pessoal. Ainda que rapidamente, em notas muito sóbrias, sente-se pulsar o esforço do explorador sobre alguns trechos duríssimos do terreno. É o que sucede ao referir-se às alturas de cerca de 3.000 metros do gigantesco Roraima, onde se encontram as fronteiras; Brasil-Venezuela, Brasil-Guiana Britânica e Venezuela-Guiana Britânica. Ouçamos:

 

O planalto do cimo do Roraima, pela sua estrutura e ação mecânica da água e do vento, apresenta enormes fendas que são verdadeiros abismos.S ão brechas de um a muitos metros de largura e profundidades desconhecidas que impedem o caminho. Nas proximidades das bordas do planalto as rochas são extremamente quebradas, dificultando enormemente alcançar-se a orla dos precipícios, e que somente em alguns casos se consegue. [...] A vida na chapada do alto Roraima é excessivamente áspera. Raros são os momentos em que o Sol brilha, ou o Céu fica estrelado. Na maior parte do tempo toda a região fica debaixo de chuva ou de densos nevoeiros. O vento é forte e quase constante.

 

A esta paisagem lôbrega e fantástica, que tem qualquer coisa de dantesco, o espectador não se mistura. Um pudor varonil detinha a pena do escritor, evitando a rememoração do própria esforço. Sóbrio nesse particular, ele não esconde a admiração pelos grandes espetáculos da Natureza. Falando ainda do Roraima, escreveu:

 

Inúmeros são os veios de água que correm em todas as direções e de grande altura se projetam para as Bacias do Orenoco, Essequibo e Amazonas. É um espetáculo maravilhoso quando, depois de uma grande chuva, o alto do Roraima se desanuvia podem então apreciar-se as inúmeras quedas de água que se precipitam para formar o Cotingo, o Arabopo, e Kukenan, o Palikwa e outros menores.

 

Irá um pouco mais longe, é certo, quando pode falar na terceira pessoa:

 

As águas que descem do Ueissipu, ora correndo à superfície, ora subterrâneas, formam um solo onde se transita em verdadeiros exercícios de acrobacia. Em grandes extensões, os engenheiros que faziam o levantamento topográfico marinhavam sobre raízes para se deslocarem do uma estação à outra.

 

Além dessa memória, o Comandante Braz de Aguiar estava promovendo a publicação duma obra vastíssima sobre os trabalhos da sua Comissão: “A Série Histórica Sobre a Demarcação da Amazônia”, entregue ao Professor Ferreira Reis E de que já saiu a lume, o 1° volume; os Atlas das zonas fronteiras, segundo os descobrimentos por vezes surpreendentes, das últimas explorações; “Anotações para o Dicionário Geográfico da Amazônia” e “Roteiro Etnográfico” repositório de notícias, com frequências, de mais alto interesse científico.

 

De todos os trabalhos aludidos, os de mais vivo interesse são, a nosso ver, os relatórios, dirigidos ao Ministério das Relações Exteriores, sobre os serviços de conjunto da Comissão.

 

E talvez mais que todos, o de 1945, em que ele narra as operações combinadas, por terra e ar, que levaram, desde 1941, ao descobrimento das fontes principais do Orenoco. Porque, saibam-no os leitores, só desde 1943, e graças aos esforços conjuntos das Comissões Demarcadoras do Brasil e Venezuela, começam a conhecer-se os manadeiros principais do Orenoco que contravertem com os tributários de Catrimani [Rio Branco] e Demei [Rio Negro].

 

Essa vasta região da serras e florestas, donde se despenham, em dois braços, as nascente do Orenoco, conhece-se apenas pela fotografia aérea. Só agora se fez o levantamento de Rios, como o Mariduu, afluente do Demi em território brasileiro ou do Tigre, afluente do Uguete da Bacia do Orenoco em território venezuelano.

 

Nas páginas inéditas deste relatório, em que, aliás, o relator transcreve, com frequência, as comunicações dos seus excelentes colaboradores, sente-se palpitar conjuntamente a paixão do brasileiro e a do homem de ciência, que está revelando um dos últimos e mais interessantes enigmas de geografia do Planeta. Aí, melhor ainda caberiam as palavras com que abre o seu trabalho “Nas Fronteiras da Venezuela e Guiana Britânica e Neerlandesa”:

 

Obra de legitima brasilidade, levada a bom termo por entre mil dificuldades, abre perspectivas inteiramente novas a paisagem geográfica do continente, tanto mais quanto a região percorrida e identificada interessa de certo modo aos próprios destinos dos povos ligados a nós por vínculos de vizinhança e americanidade. A Comissão Brasileira Demarcadora de Limites ‒ Primeira Divisão ‒ produzindo os capítulos novos da Geografia Sul-americana, que estas páginas revelam, não solicita louvores mas o reconhecimento do que ela tem rendido, sem medir sacrifícios com o objetivo imediato de bem servir o Brasil, sendo útil, igualmente, aos altos interesses da ciência.

 

A revelação das conexões, sobre o terreno, das nascentes da Bacia do Orenoco com os tributários dos Rios Negro e Branco está em andamento. Outro Moisés, também a Braz de Aguiar não foi dado conhecer completamente e pesar essa terra prometida dos seus sonhos de criador de geografia.

 

Homem benemérito, que trabalhava juntamente para a sua Pátria e para a Humanidade, poucos mereceriam, como ele, essa coroa de glória de haver alcançado plenamente um objetivo supremo.

 

Não sabemos se e quando o Ministério das Relações Exteriores publicará algum ou alguns daqueles relatórios. Na parte a que acabamos de aludir, como noutras, eles interessam em alto grau à geografia, e à história da geografia do continente.

 

Reuni-los é sumariá-los, nas suas páginas mais vivas, nas de maior interesse humano e científico, seria porventura, a melhor homenagem a prestar a esse, como a outros pioneiros, e do mesmo passo oferecer à mocidade brasileira uma admirável lição e exemplo.

 

Que esplêndida série de estudos, entre biografia e revelação da terra e do indígena brasileiro, haveria a escrever, neste sentido. Por nossa parte, sentíamo-nos no dever de prestar aqui esta pequena, homenagem ao Bandeirante, ao Homem de Ciência e ao amigo, tanto mais quanto o seu grande mérito se rebuçava ([2]) voluntariamente na capa da modéstia.

 

Era daqueles que preferem ser esquecidos ou mal avaliados a soprar na tuba da própria fama. A este homem, tão grande e tão simples, afligiram males horríveis nos últimos meses da sua vida. Acompanha-nos com mágoa, e dia a dia, as notícias do seu fim. E ainda hoje não podemos furtar-nos a um misto de assombro, de amargura e de queixa.

 

Perante esse espetáculo das piores dores, que tantas vezes escolheu para vítimas os mais justos. (CORTESÃO)

 

 

Revista Marítima Brasileira, Volume 153

Rio de Janeiro, RJ ‒ jan./fev. /mar, 1949

 

Sessão Solene a 08.10.1948, no Salão de Conferências do Palácio Itamarati

 

 

Senhores! Os beneméritos da Pátria têm, para perpetuar-lhes a memória, um monumento na praça pública. Braz de Aguiar, em vez, tem centenas de monumentos construídos por ele mesmo e construídos para a eternidade. Contra eles nenhuma ação tem a erosão das águas e dos séculos.

 

Estendidos em fileiras, ao longo de nossas raias, nos mais longínquos rincões da Pátria, esses monumentos falam a linguagem do sangue que os fez nascer em terreno fértil, numa terra abençoada.

 

Sua voz vai misturada com o sibilar dos ventos que não param nunca lá nos cimos da Serra Parima. O estrangeiro que deles se aproximar ouvirá que eles repetem, com a regularidade de um metrônomo: “Atenção! Deste lado é a Terra de Santa Cruz”.

 

Braz de Aguiar ‒ Tu deixaste na história de demar­cação de nossas fronteiras o teu nome aureolado e no coração de cada brasileiro uma saudade. Tua ta­refa, porém, não terminou, porque não terminaram, ainda, as demarcações.

 

Aquele que tu colocaste à frente da 1ª Divisão Demarcadora conta com a tua ajuda para continuar tua obra. E os trabalhos continuam lá nos cimos da Serra Parima. (QUARTIN)

 

 

Bibliografia:

 

A BATALHA, N° 4.425. Atacados e Cercados Pelos Índios os Membros da Comissão de Limites – Surpreendidos e Cercados Quando Dormiam Foram Todos Feridos por Flechas Envenenadas ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro ‒ A Batalha, N° 4.425, 14.01.1941.

 

A NOITE, N° 11.599. Encerrando uma Divergência Secular - O Acordo Final de Limites Entre o Peru e o Equador ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro ‒ A Noite, N° 11.599, 29.05.1944.

 

A NOITE, N° 11.876. A Questão de Limites Entre o Peru e o Equador ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro ‒ A Noite, N° 11.876, 07.03.1945.

 

CORTESÃO, Jaime. Introdução à História das Bandeiras – Morre um Bandeirante – Brasil – Acre – O Acre, 18.01.1948.

 

O ACRE, N° 855. Introdução à História das Bandeiras – Brasil – Rio Branco – O Acre, n° 855, 18.01.1948.

 

QUARTIN, Adriano de Souza. Sessão Solene a 08.10.1948, no Salão de Conferências do Palácio Itamaraty – Brasil – Rio de Janeiro – Imprensa Naval – Revista Marítima Brasileira Edição 153, N° 7, 8 e 9 – jan, fev, mar, 1949.

 

 

 

Solicito Publicação

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

·     Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

·     Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

·     Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

·     Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

·     Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

·     Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

·     Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

·     Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

·     Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

·     Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

·     Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

·     Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

·     Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

·     E-mail: [email protected].



[1]    Transunto: retrato fiel.

[2]    Rebuçava: dissimulava

Demarcadores, Heróis Olvidados – Parte VI - Gente de Opinião
Cmt Braz Dias de Aguiar - Gente de Opinião
Cmt Braz Dias de Aguiar

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