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Gente de Opinião

Hiram Reis e Silva

O Governo Correu um Risco Calculado


O Governo Correu um Risco Calculado - Gente de Opinião

Bagé, RS, 15.12.2025

 

Vamos continuar reproduzindo as reportagens da Revista Manchete:

 

 

Manchete n° 715, Rio de Janeiro, RJ

Sábado, 1°.01.1966

 

Nas Eleições, o Governo Correu um Risco Calculado: mas não Foram Felizes os que Fizeram do Ataque à Revolução as Bandeiras de Suas Campanhas

 

Haverá Eleições Em 1966

 

 

Manchete: Iniciando sua entrevista, declarou-nos o Presidente da República:

 

Castello Branco: Sob o ponto de vista político, o ano que finda está marcado por importantes fatos, certamente destinados a influir poderosamente na vida do País. Inicialmente, é justo mencionarmos a contribuição do Congresso Nacional ao aprovar a Lei Eleitoral e o Estatuto dos Partidos, diplomas legais de iniciativa do Executivo, cuja aplicação visa a erradicar muitos dos males que amesquinharam a Democracia Brasileira, que se ressentia da falta de legislação adequada para a boa organização da vida partidária e perfeita expressão da vontade popular. Acredito que a prática demonstrará o acerto dessa legislação, cujas falhas imagino pequenas e facilmente corrigíveis, na medida em que o demonstrar a experiência.

 

Não há dúvida, porém, de que o grande acontecimento político de 1965 foram as eleições verificadas em onze Estados para a escolha de novos Governadores. Discutidas desde o instante em que me pareceu dever convocá-las, para a escolha dos substitutos dos Governadores cujo mandato deviam expirar, vieram demonstrar que, de modo geral, o eleitorado estava plenamente capacitado para o bom exercício do voto. No particular, desejo repetir o que tive oportunidade de afirmar recentemente em Goiânia:

 

Não podemos pretender uma democracia em que o voto popular nos seja invariavelmente favorável, pois o que nos cabe indagar é se tal preço é ou não inferior ao que pagaríamos por uma ditadura, onde o monólogo tomaria o lugar do voto e dos tribunais”.

 

Manchete: O Governo sabia das dificuldades eleitorais a enfrentar?

 

Castello Branco: Certamente o Governo tinha conhecimento das dificuldades que devia enfrentar em eleições efetuadas num período de sacrifícios indispensáveis para encontrarmos os caminhos da prosperidade e do bem-estar dos brasileiros. Mas, em face do término dos mandatos dos Governadores, a contingência com que nos deparávamos, caso não realizadas as eleições, era a da nomeação de interventores ou a prorrogação dos mandatos, e ambas as fórmulas não eram as melhores para conduzir o País à prática da democracia. Tivemos, assim, de correr um risco calculado. E pudemos verificar que, no conjunto, não foram felizes aqueles que fizeram do ataque ao Governo e à Revolução a bandeira das suas campanhas.

 

Manchete: Quais os motivos que determinaram o Ato n° 2?

 

Castello Branco: Dentro do propósito de assegurar ao País a sua gradual e completa democratização, foi que o Governo se viu na contingência de promulgar o Ato Institucional n° 2, que teve como objetivos precípuos dotar o Executivo dos poderes necessários – e não mais que isso – para assegurar, dentro de um clima de tranquilidade, a posse dos eleitos pelo voto popular, e prosseguir na implantação das reformas que irão institucionalizar a Revolução. Realmente, “ao mesmo tempo em que vimos um reduzido grupo de inconformados pretender impedir o normal desdobramento do resultado eleitoral, verificamos que outros acreditaram chegado o momento de restabelecerem no País o mesmo ambiente de intranquilidade varrido em 31 de março. Podemos, pois, afirmar que o Ato Institucional n° 2 foi decisivo fator de equilíbrio “entre forças extremistas, que pretendiam radicalizar a vida nacional, tirando ao País a paz de que tanto necessita para trabalhar e prosperar.

 

Entramos numa fase de verdadeira consolidação democrática, com o povo em pleno exercício do voto, todos os tribunais funcionando normalmente, e asseguradas as franquias constitucionais, que bem se refletem na liberdade da imprensa. Consolidação democrática de que participam vigorosamente as Forças Armadas, como sempre empenhadas na preservação da ordem legal ao tempo em que se entregam devotadamente aos seus deveres profissionais, dentro da mais absoluta disciplina.

 

Manchete: Acredita ser possível a reorganização partidária?

 

Castello Branco: Assim, com o amplo apoio da opinião pública nacional, inegavelmente desejosa da manutenção de instituições democráticas, “o Governo espera poder encaminhar a reestruturação partidária do País. Dentro das normas do Ato Complementar n° 4, que teve como objetivo, numa fase de transição, evitar nociva multiplicidade partidária, sem prejuízo da normal expressão da vontade popular, certamente, quando completada a legislação sobre a matéria, terão os brasileiros, nos partidos a serem constituídos, a maneira de bem traduzir todas as tendências e matizes de pensamento. “Não importa o que digam os que prefeririam um ambiente de agitação. Podem ficar certos os brasileiros de que o Governo está dedicado à tarefa da democratização, da qual os partidos deverão ser valiosos instrumentos, congregando e disciplinando as múltiplas tonalidades de opinião inerentes a um País de cultura política já sedimentada.

 

As Eleições do Ano Novo

 

Manchete: Haverá eleições em 1966?

 

Castello Branco: É com esses instrumentos que o Governo caminhará para as eleições de 1966, que incluem desde a eleição do Presidente da República até a constituição das Câmaras Municipais da maioria dos Municípios brasileiros. Será então a oportunidade definitiva para que todos possam aquilatar da sinceridade do Governo nos seus propósitos de isenção. A verdade é que, “a começar pela Presidência da República, não temos candidato, e muito menos candidato de bolso, embora isso não deva ser interpretado como desinteresse diante de uma escolha de real importância para a vida e o futuro do Brasil. Todos os elementos diretamente responsáveis pela continuidade da Revolução e dos seus ideais encontrarão a solução própria para levar-se a bom termo tarefa tão relevante. Qualquer Nação tem várias personalidades em condições pessoais de ocupar a chefia do Executivo. Contudo, em que pese o noticiário em contrário já publicado, “não pretendo mencionar nomes, preferindo que eles surjam naturalmente como acontecerá no momento oportuno. Sentir-me-ei feliz ao transmitir, na data constitucional, o Governo a um brasileiro capaz de continuar a obra de restauração moral, financeira, econômica e social iniciada em 31 de Março.

 

Estabilidade, Desenvolvimento e Reformas: os Objetivos

 

Manchete: E quais os resultados obtidos no campo econômico-financeiro?

 

Castello Branco: No campo econômico-financeiro, a Revolução luta por alcançar três objetivos que considera primaciais: Estabilidade, Desenvolvimento e Reformas. E todos têm como finalidade transformar um regime politicamente instável, economicamente desigual e descontínuo, e socialmente estanque, numa autêntica democracia com oportunidade para todos os brasileiros. Para alcançar tais objetivos, o primeiro passo constituiu-se em deter a inflação, o que fizemos sem perder de vista o desenvolvimento. Asseguradas bases estáveis – o progresso construído sobre a estabilidade financeira – as reformas sociais passarão de meras palavras a uma significativa realidade. Não acenamos com miragens. Já estamos no limiar das medidas que revelarão essa realidade, na qual as oportunidades não ficarão restritas aos que as trazem do berço, pois a “Educação, a Terra e a Habitação não serão privilégio de poucos, mas o direito de todos. Já convoquei mesmo os sindicatos para assumirem ativa participação na distribuição de tais oportunidades, pois a estabilidade financeira, em breve, deixará aos órgãos de classe dos trabalhadores a incumbência de selecionarem, dentre os seus associados, os que deverão receber bolsas de estudo e a solução do angustiante problema da moradia. Assim, as reformas deixam de ser bandeiras de agitação social para se tornarem instrumentos de integração, dentro da prosperidade que consolida a ordem democrática e torna a todos sócios do progresso e da liberdade.

 

Em fins de maio de 1964, a taxa de inflação era mais ou menos de 8% ao mês e ameaçava atingir os 14% acumulados, em fins de 1964. Num período de quatro meses eclodiram 300 greves, quase três por dia. Havia agitação social no campo, completa indisciplina na máquina governamental e, consequentemente, grave instabilidade na administração financeira. O balanço de pagamentos externos se caracterizava pela insolvência. “O País estava doente, cansado, entediado. Um tratamento de choque seria acompanhado fatalmente de desemprego e falências em larga escala. “A Revolução optou por uma receita mais suave e gradualista, a fim de que a economia pudesse reajustar-se às novas regras do jogo. O combate à inflação teria de se processar nas frentes fiscal, creditícia e salarial, ao mesmo tempo e com o mesmo ímpeto. Duas estratégias impunham-se: fase de correção de distorções do sistema de preços e fase de desaceleração da expansão de nível de preços.

 

Manchete: Considera certa a eliminação dos subsídios?

 

Castello Branco: O ponto de partida das primeiras providências corretivas repousou na eliminação de subsídios à importação, aos aluguéis, às tarifas de serviços públicos e a certos bens essenciais, como o trigo, a gasolina e o papel de imprensa, estes últimos cobertos pela emissão de papel-moeda e, portanto, pagos pelos consumidores em geral, à custa de mais inflação. Ao mesmo tempo, cuidava o Governo de sanear as finanças públicas e de ajustar a concessão de créditos ao nível previsto para a expansão dos meios de pagamento. A despesa potencial para 1964 seria da ordem de Cr$ 4,2 trilhões. O esforço de contenção permitiu reduzir-se a despesa efetiva a Cr$ 2.771 bilhões, limitando-se o déficit de caixa do Tesouro a Cr$ 700 bilhões. Em 1965, o déficit deverá ficar na ordem de Cr$ 650 bilhões. Para 1966, prevê-se virtualmente a eliminação de pressão inflacionária resultante do desequilíbrio do Tesouro. As subvenções governamentais para cobrir déficits de autarquias e empresas de economia mista atingiam 19% do orçamento, em 1963, mas caíram a 13,9%, em 1964, e deverão ser reduzidas a 11,9%, este ano.

 

A Segunda Frente na Luta Contra a Inflação

 

Manchete: Prosseguindo nas suas declarações à Manchete, disse o Marechal Castello Branco:

 

Castello Branco: A segunda frente anti-inflacionária, aberta a partir de março último, assume nitidamente o caráter de desinflação, caracterizando-se, de um lado, pelo maior controle sobre as principais causas imediatas da expansão dos meios de pagamento – déficits de caixa do Tesouro, política de crédito ao setor privado, política salarial e, de outro lado, por um conjunto de medidas fiscais destinadas a provocar a reversão das expectativas, entre as quais a Portaria Interministerial 71, que concede favores fiscais às empresas compromissadas com o programa de estabilização. Hoje, ao lado das modificações de hábitos processadas no espírito dos consumidores, dos comerciantes e produtores, os fatores potencialmente geradores da inflação já se acham sob controle na área das finanças públicas, na política de crédito e na política salarial. Assim, a estabilidade já se delineia. Ponto muito importante na condução da política financeira do Governo foi o problema dos salários, pois, além de representar duros sacrifícios para grande parte da população, interrompia as frequentes majorações salariais, já transformadas num hábito. “Alguns programas de combate à inflação fracassaram em outros Países devido à fraqueza de Governos na concessão de aumentos salariais acima dos níveis suportáveis pela economia”. A Revolução criou o Conselho Nacional de Política Salarial, fixando diretrizes para reajustamentos do salário mínimo, e de salário do setor público e das empresas subvencionadas pelo Governo, bem como das concessionárias de serviços públicos federais e ainda daqueles salários cuja discussão seja objeto de dissídio. O critério assegura para o período em que vigorar a nova remuneração um salário real médio equivalente à média dos salários reais auferidos nos dois últimos anos, mais uma percentagem correspondente ao aumento de produtividade e ao resíduo inflacionário previsto para o período seguinte.

 

Manchete: Que fez o Governo para a recuperação da agricultura?

 

Castello Branco: A princípio, foram adotadas várias medidas de emergência, como a supressão temporária do imposto de consumo à indústria automobilística e aos produtos eletrodomésticos, empréstimos especiais para aquisição de tratores e máquinas agrícolas, estímulos de ordem cambial e fiscal para fomento às exportações, redução da carga fiscal sobre rendimentos relacionados com inversões em imóveis urbanos. A essas providências somaram-se outras, destinadas a criar pré-condições “para o retorno ao desenvolvimento, agora pleno e harmônico: criação de novos ativos financeiros, com correção monetária; novos instrumentos de captação de recursos para fortalecer a capitalização das empresas; reorganização do mercado de capitais; racionalização da ação governamental, inclusive a elevação da produtividade dos inves­timentos, mercê da introdução do Orçamento-Programa, e pelo gradual aprimoramento do mecanismo de controle da execução dos investimentos prioritários.

 

Os fundos de desenvolvimento operam em larga escala. O FINAME (Fundo de Financiamento Para Aquisição de Máquinas e Equipamentos) aprovou propostas até novembro deste ano, concedendo empréstimos no total de 34 bilhões de cruzeiros, e o FUNDECE (Fundo de Democratização do Capital das Empresas) conce­deu, até o fim de 1965, empréstimos de 28 bilhões. O FIPEME (Fundo de Financiamento à Pequena e Média Empresas) concedeu, em poucos meses de operação, porque de criação recente, financiamentos de 8 bilhões de cruzeiros. A Coordenação do Crédito Rural dera, até novembro, empréstimos rurais e sobre fertilizantes no total de 47 bilhões de cruzeiros. Quanto à lavoura, os principais incentivos são os financiamentos, a política de preços mínimos e es­pecialmente medidas que estimulam a produtividade agrícola. Teremos ajuda internacional do Banco Interamericano de Desenvolvimento, do Banco Interamericano de Reconstrução e Desenvolvimento e do Fundo Alemão, “proporcionando aplicação geral de recursos em torno de 900 bilhões de cruzeiros. Na política de preços mínimos garantidos aos agricultores foram aplicados mais de 250 bilhões de cruzeiros. Nossa preocupação no setor agrícola é a melhoria dos índices de produtividade, a fim de tornar nossos produtos competitivos no mercado internacional. Nesse sentido, estamos incrementando o uso de fertilizantes, inseticidas, defensivos agrícolas e dando maior realce à mecanização da lavoura, através de financiamentos especiais concedidos pelas resoluções do Conselho Monetário Nacional, de nos 2 e 8. Essas medidas, ao lado das que o novo Ministro da Agricultura está elaborando, darão à agricultura seu verdadeiro lugar no panorama do crescimento nacional.

 

Quinhentos Milhões de Dólares em Caixa

 

Manchete: Houve progressos na área externa?

 

Castello Branco: A recuperação cambial é pedra angular de um País desejoso, como o nosso, de autonomia de decisão. Dentro desse objetivo, colocaríamos como ponto de referência, porque toca de perto o orgulho nacional, “a liquidação total dos atrasados co­merciais no exterior. De devedores relapsos passamos, com algum esforço e boa-vontade, à situação de plena solvência, com reservas internacionais que devem atingir, neste fim de ano, a 500 milhões de dólares. A manutenção de reservas internacionais adequadas constitui imperativo de segurança nacional, pois permite assegurar a continuidade das importações essenciais em face de eventuais variações na receita de exportações, e nos exime da necessidade de operações de crédito exterior de emergência. Essa conquista, alvo da descrença de muitos, dada a triste herança recebida pela Revolução, pode ser incluída no rol dos “milagres brasileiros”, embora exigisse apenas a firme contenção do déficit orçamentário, estabilidade cambial e menor impacto dos reajustes salariais. Nada mais prático que a argumentação à base de números. Chegaremos, assim, ao seguinte confronto no saldo do Comércio Exterior em contas correntes, isto é, englobando apenas mercadorias e serviços: em 1962 houve saldo negativo de 459 milhões de dólares, e em 1963, de 182 milhões de dólares. O ano passado registrou-se o primeiro saldo positivo dos últimos anos: 147 milhões de dólares. Este ano o saldo será também positivo, devendo ultrapassar o do ano passado.

 

A Grande Ofensiva em Favor das Exportações

 

Manchete: Considera vitoriosa a batalha da exportação?

 

Castello Branco: Além da estabilidade cambial, existe outro fator de igual importância para o êxito de uma política de emancipação nacional: o estímulo e a diversificação das exportações. Este ano, nossas exportações, inclusive grande volume de manufaturados colocados em mercados latino-americanos e até mes­mo na Europa e nos Estados Unidos, deverão ultrapassar 1 bilhão e 500 milhões de dólares. “Não apenas cresceu o valor das exportações, mas houve apreciável diversificação. Os manufaturados expandiram-se de 104% comparativamente ao ano anterior (dados de janeiro a setembro), quando já haviam aumentado de 83% na relação 1964/1963. A expansão das exportações – é bom lembrar – não contribui apenas para o desenvolvimento da produção e a criação de empregos, mas é também instrumento de aumento da produtividade: um País só exporta o que produz com eficiência. Falar em exportação significa falar em emancipação econômica. Nessa política cambial, que concilia a estabilidade interna e externa do cruzeiro, o Governo obteve ainda o reescalonamento de dívidas para com entidades privadas, no montante de 56 milhões de dólares, e para instituições governamentais, de 345 milhões de dólares. Elevou-se a participação dos financiamentos a longo prazo do total da dívida externa, mediante maior volume de crédito obtidos das agências financeiras internacionais. Diversificaram-se as fontes de créditos externos, elevando-se a participação de credores europeus e das entidades financeiras internacionais.

 

Manchete: Quais são os planos para o desenvolvimento?

 

Para desespero dos que acreditam no desenvolvimento baseado na inflação e o seu cortejo de ineficiência, injustiça social, destruição da poupança e impossibilidade de planejar, posso garantir que o meu Governo lançou as bases de retomada de um crescimento seguro e firme, que este ano não será inferior a 5% e esperamos elevar para 6% no ano vindouro. “Nossa primeira medida para a retomada do desenvolvimento foi aumentar a proporção dos investimentos produtivos no dispêndio do Tesouro, comprimindo as despesas de custeio. No período anterior à Revolução, a participação dos investimentos no total de gastos do Governo caíra para 18%. Elevamo-la para 21% em 1964, e para 29% em 1965, e posso adiantar que o próximo Orçamento consignará 33% para as despesas de capital. Posso afirmar também que o Programa de Investimento do Governo Revolucionário é o maior de todos os tempos. E não somente isto. Em 1965, o volume de investimentos foi programado em 3,5 trilhões, a preços correntes, e o acompanhamento da execução financeira indica que terá sua realização praticamente alcançada, em termos globais. Durante esse exercício, consolidamos a situação financeira e vencemos a parte mais árdua contra a inflação. Preparamo-nos para um programa de investimentos, em 1966, de maior vulto e mais importante conteúdo econômico. Seu nível será de aproximadamente Cr$ 4,8 trilhões, computados todos os recursos federais orçamentários e extra orçamentários.

 

Manchete: Referindo-se, a seguir, às estradas e às hidrelétricas, afirmou o Marechal Castelo Branco:

 

Castello Branco: Outra importante medida para retomada do desenvolvimento foi a de aumentar a capacidade de autofinanciamento nos setores básicos de rodovias e de energia elétrica. O reajustamento no preço dos combustíveis gerou recursos para a Petrobras e para os programas rodoviários da União, Estados e Municípios: e o das tarifas de energia elétrica permitiu financiar, com recursos internos, a maior parcela possível de expansão energética do País. São recursos não-inflacionários, sem nenhuma pressão sobre o Tesouro Nacional. Nenhum desses reajustamentos era popular, mas indispensáveis, se quiséssemos fazer desenvolvimento e não demagogia. Os resultados obtidos nesses setores básicos são os mais alentadores e marchamos para novo exercício com aplicações maiores em cada um deles. Um balanço de 16 meses no setor rodoviário federal mostra que foram implantados 1.385 quilômetros de estrada, ao mesmo tempo em que se pavimentaram 925 quilômetros, além da restauração de mais de 3 milhões de metros quadrados e da construção de 5,5 quilômetros de pontes e viadutos. Esse esforço tem sido possível somente devido ao ajustamento dos combustíveis à verdade cambial. Os investimentos em rodovias são de imediata reprodutividade e nunca é demais lembrar o que elas representam para o escoamento e circulação de riquezas. “Para 1966, as aplicações no setor deverão ultrapassar a casa dos 800 bilhões.

 

No setor de energia elétrica, o potencial instalado em quilowatts aumentou, em 1964, de pouco mais de 7% sobre o ano anterior, e já o primeiro semestre de 1965 acusava, em relação a dezembro passado, um crescimento de 6%. As estimativas do consumo indicam a necessidade de atingirmos em 1970 uma potência instalada de 12,7 quilowatts. Em conexão com esse objetivo de longo prazo, o programa de 1966 prevê aplicações da ordem de Cr$ 933 bilhões. Vejamos o que está programado para os demais setores, no exercício que se avizinha. O programa de indústria e mineração eleva-se a Cr$ 650 bilhões, a ser realizado diretamente pelas empresas industriais do Governo e pelas transferências ao setor privado e as empresas governamentais do BNDE, Banco do Nordeste, Banco de Crédito da Amazônia e CREAI – Banco do Brasil. No setor de petróleo, os planos da Petrobras preveem investimentos no ano próximo num montante de 410 bilhões. As inversões públicas na agricultura se elevarão a 506 bilhões, e manteremos em 1966 a excelente taxa de crescimento da produção agrícola verificada em 1965. Os investi­mentos diretos do Governo Federal em educação atingirão Cr$ 271 bilhões, e os investimentos em saúde e saneamento deverão totalizar Cr$ 320 bilhões, merecendo especial destaque o programa de abastecimento de água a cidades do interior. São consideradas prioritárias as indústrias químicas (petroquímica, fertilizantes e álcalis), de metais não-ferrosos e indústrias acessórias do parque metalúrgico. No setor de mineração, maiores recursos serão concentrados no plano de expansão das exportações da Companhia Vale do Rio Doce, que deverá se elevar para 20 milhões de toneladas até 1967.

 

Chegou Finalmente a Hora do Nordeste

 

Manchete: O Governo é otimista quanto ao Nordes­te?

 

O Nordeste receberá no próximo ano, através da SUDENE, a vultosa cifra de 145 bilhões de cruzeiros. “O esforço de industrialização na área nordestina pode ser medido pela aprovação de 83 projetos para a instalação ou ampliação de empresas, nos quais serão aplicados 65 bilhões. A primeira grande siderúrgica nordestina, a USIBA, está orçada em 94 bilhões de cruzeiros e terá a SUDENE como maior acionista. Em iniciativas de saneamento básico, rodovias e energia elétrica despenderam-se 38 bilhões. Serviços de água e esgotos estão sendo instalados em 150 cidades do interior, além dos que se empreendem em grandes cidades como Recife, Salvador, Teresina, Fortaleza, São Luís, Natal, Maceió e Campina Grande. Acrescente-se a perfuração de 141 poços artesianos e as obras de barragem de Boa Esperança, que atenderá os Estados do Piauí, Maranhão e Ceará. No setor agropecuário, cultivaram-se, nos últimos 12 meses, 3.600 hectares de plantas forrageiras, cerca de 3.200 hectares de gramíneas e 500 campos experimentais de algodão para adoção de novas técnicas, que, em alguns casos, já permitiram triplicar a produtividade em relação à média tradicional. Foram produzidas 170 toneladas de sementes de milho híbrido para distribuição entre os plantadores da região. Em oito comunidades não alcançadas por Paulo Afonso foram inaugurados serviços de energia elétrica. E para a dinamização da pesca, foram firmados 12 convênios, num montante superior a 800 milhões de cruzeiros.

 

Manchete: Considera cumpridas as promessas de fazer as reformas?

 

Castello Branco: O Governo empreendeu simultaneamente três linhas de ação renovadora: a contenção do processo inflacionário, medidas realistas para retomada do desenvolvimento, e as reformas econômicas e sociais. Sem deixar que as reformas se impregnassem de aspecto demagógico, o Governo já definiu em leis as diretrizes da Reforma Tributária, do Estatuto da Terra, da Lei Habitacional, da Lei do Inquilinato, da Reforma Bancária, às quais se podem acrescentar a Regulamentação do Direito de Greve, a instituição do salário-educação e por último a Lei do Mercado de Capitais e a Reforma do Padrão Monetário. As reformas tiveram como finalidade melhorar a legislação econômica brasileira, dentro do princípio geral de harmonizar as medidas de estabilização de preços, a retomada do desenvolvimento e a integração nacional. “O Governo está firmemente empenhado em prosseguir, no ano próximo, uma série de importantes reformas, dentre as quais devo destacar a Adminis­trativa, que se destina a modificar profundamente a estrutura da administração pública. Esta deve tornar-se mais ágil, flexível, desemperrando a máquina burocrática.

 

Manchete: Já no final de sua entrevista exclusiva a Manchete, disse o Marechal Castello Branco:

 

Castello Branco: Acredito compreensível que os limites de uma entrevista não me permitam análise mais profunda sobre o sentido de cada uma dessas reformas. Todas, entretanto, estão articuladas e dirigidas no sentido de fazer do Brasil uma grande Nação, ao mesmo tempo em que os brasileiros irão se libertando da chaga do subdesenvolvimento, que vinha criando no País verdadeiro círculo vicioso, do qual brotavam o gradual empobrecimento e a crescente agitação social explorada pelos demagogos. Hoje os brasileiros já conquistaram a convicção de terem um horizonte de esperança, no qual começam a divisar a prosperidade, a paz e iguais oportunidades. Dar a todos os brasileiros, a começar pela educação, as mesmas chances para construírem a sua própria felicidade será o título com que a Revolução de 31 de março pretende entrar na História. (REVISTA MANCHETE N° 715, 1°.01.1966)

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

YYY Coletânea de Vídeos das Náuticas Jornadas YYY

https://www.youtube.com/user/HiramReiseSilva/videos

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);

Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);

Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

O Governo Correu um Risco Calculado - Gente de Opinião

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