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Gente de Opinião

Samuel Saraiva

O tempo e as nossas prioridades

Outono 2023


O tempo e as nossas prioridades - Gente de Opinião

Será que você já se permitiu pensar nisso?

Imagine daqui a 90 anos, por exemplo, ninguém mais estará nessa terra, com familiares e amigos, independente da raça ou pais de origem. Estranhos viverão em nossas casas, pelas quais tanto zelamos, e serão donos de tudo que temos hoje. 

Todas as nossas propriedades, nosso dinheiro e bens materiais serão de desconhecidos que nem nasceram ainda. Inclusive aquele carro que você se sente importante dirigindo estará no ferro-velho, ou, na melhor das hipóteses, estará nas mãos de um colecionador desconhecido.

Entre nossos descendentes, talvez ninguém saiba quem fomos, ou lembre-se de que um dia existimos, desconhecendo as próprias origens.

Quantos de nós conhecemos nossos avós, ou nossos bisavós? Quase ninguém, não é mesmo?

Após nossa morte física, talvez sejamos lembrados por alguns anos. Depois disso, seremos apenas um retrato num antiquário ou na estante de alguém.

Alguns anos depois, nossa história, nossos feitos, tudo de que nos orgulhamos ou a que nos apegamos perderá o valor, será insignificante e desaparecerá no lixo do esquecimento, provavelmente sem registro na história. Não seremos sequer lembranças.

Se algum dia parássemos para refletir sobre essas questões, iriamos compreender o quão tolas, egoístas e insignificantes foram nossas ilusões. Achávamos que ostentar poder, influência e posição era o caminho correto para desfrutar do sentido existencial, e não tivemos tempo para o que realmente importa.

Se nós pudéssemos pensar nisso neste momento, certamente mudaríamos as nossas prioridades, a nossa postura diante da vida, e inclusive nossos pensamentos. Seríamos pessoas melhores no processo de evolução pessoal, atingiríamos em plenitude a verdadeira maturidade emocional e espiritual — a chamada idade da razão.

Talvez eu trocasse todas as ilusões efêmeras e as vaidades que apenas serviram para acariciar o ego por viver e desfrutar daqueles passeios descontraídos com meu dog ou a adorável mascote que nunca me permiti. Talvez desse aqueles abraços que me proibi, e tivesse aquelas conversas com a alma aberta que teriam me permitido vislumbrar a eternidade. Fiquei em silêncio por receio de interagir e me vulnerabilizar diante de pessoas que nunca foram capazes de tocar minha alma. Os beijos que não dei nas pessoas amadas, e as brincadeiras puras que não me permiti — nesse mundo de simplicidade, descontração, espontaneidade estariam os melhores momentos a serem lembrados.

Mais da metade da vida passei olhando para os céus, louvando um deus imaginário, enquanto me esquecia de olhar para o pobre moribundo e em dificuldade, a quem neguei a compaixão.

Quanto tempo desperdicei confinado em algum espaço pequeno à frente de uma tela de computador, encontrando nisso a sensação de viver em plenitude, de estar sendo útil, contrariando a essência de liberdade, a imensidão do universo, e as belezas da terra que não me permiti conhecer. Um imperceptível prisioneiro da equivocada percepção da realidade.

Essa forma de viver encheria nossas almas de verdadeiro sentido, ao contrário do tempo que desperdiçamos com cobiça, complexo de superioridade, vaidade cosmética, presunção, soberba, e intolerância. Nossas divergências políticas, ideológicas, filosóficas ou culturais nos aprisionam num círculo interminável de mesmice, dia após dia incapazes de entender que apenas a simplicidade conduz ao ápice da sofisticação humana.

Mais importante que rótulos é a consciência de que todos somos seres de luz, energia e espírito, como parte indissolúvel e eterna do Universo. 

Nunca se esqueça de que exercitar a verdade é um direito que deve ser observado por todos. Porém, tenha o cuidado de não compartilhá-la plenamente com mentes que não estejam em posição de respeitar você, e que poderão usá-la como arma para julgar e destruir. Discernimento é imprescindível para o resguardo da paz interior.

Mas não desanime, ainda resta uma esperança, ainda há tempo para a mudança pessoal. O esforço de cada pessoa poderá permitir a restauração da própria dignidade humana, perdida em debates inócuos, destruição, poluição e guerras que atentam contra o sentido moral e existencial da espécie humana.

Então tente. Comece a fazer sua parte agora e sinta na alma uma transformação pessoal genuinamente gratificante.

Um dia você olhará para trás e perceberá que se preocupou demasiado com coisas ou pessoas que na verdade tinham pouca relevância, que perdeu tempo apegando-se demasiado, porque ainda não havia compreendido que tudo é passageiro e emprestado por um lapso de tempo na abstração da existência.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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