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Gente de Opinião

Samuel Saraiva

A Fé que Ofusca, a Consciência que Desperta

As crendices Alimentam a Euforia pelo Improvável, mas Mantém a Razão em Sombras


A Fé que Ofusca, a Consciência que Desperta - Gente de Opinião

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Em meio aos dilemas civilizatórios que atravessamos todos, de alguma forma, prisioneiros da formatação cultural que nos molda desde o nascimento, cada qual imerso em sua própria bolha de crenças e receios muitos seguem com a alma atemorizada, temendo ser castigados ou perder as bênçãos que esperam. Saturados por uma fé obsessiva e sem raízes lógicas, afastam-se, quase sem perceber, da clareza da razão.

Seus passos ecoam por corredores de sombra, entre medos apocalípticos e a priorização de banalidades cotidianas, enquanto a essência humana se esvai num cenário que entretém, distrai e reduz o nível da consciência. A luz interior, frágil, se desfaz como chama exposta ao vento.

Em tropel, avançam para o precipício acreditando divisar portas celestes onde há apenas o vazio refletido das próprias ilusões. São viajantes sonâmbulos, exilados de si mesmos, movidos por um fervor que espessa os véus sobre a alma, enquanto se apegam a bens materiais que inevitavelmente ficarão aquém da fronteira que separa os planos do visível e do invisível.

Não percebem que o paraíso almejado já toca seus pés: este planeta azul, oferecido como morada transitória no vasto silêncio do cosmos.
Mas, cegos pela devoção desmedida, erguem armas em nome de deuses imaginados e ferem, com ingratidão, a delicada casa que os abriga incapazes de converter inseguranças em amor, fé em paz, zelo em harmonia e a própria existência em gesto de reverência.

É essencial afirmar que a liberdade religiosa deve ser sempre respeitada e garantida como direito inalienável de cada pessoa. A fé, quando vivida com autenticidade, é um espaço íntimo, sagrado e inviolável da experiência humana.
Contudo, respeitar a fé não significa sacralizar o comércio imoral que inúmeras instituições religiosas construíram em torno do medo, da promessa e da credulidade.

Uma parte considerável da humanidade, movida pela força da tradição e pela inércia do costume, ainda resiste em admitir que nada no universo é estático: tudo está em permanente transformação regras culturais, hábitos, valores, conceitos, modos de viver e de compreender a existência. As mentes precisam acompanhar esse movimento.

A história, escrita por povos de seu tempo, muitas vezes limitada pela falta de conhecimento e frequentemente distorcida por interpretações ingênuas ou fantasiosas, hoje vem sendo gradualmente corrigida, iluminada e ampliada pela ciência.
O fascinante é perceber que cada cultura, ao longo dos milênios, moldou sua própria visão do sagrado conforme suas necessidades e circunstâncias. Mas o mundo mudou e permanecer mentalmente no passado é declarar falência do pensamento.

Insistir em ensinamentos arcaicos, desconectados da complexidade que nos cerca, é ignorar a extraordinária capacidade humana de raciocinar. Destruímos primeiro para pensar depois; criamos nossos próprios problemas e esperamos ajuda divina para resolvê-los.
A evolução exige ultrapassar tradições, crenças e preconceitos que aprisionam o pensamento e impedem o livre fluir da consciência, da razão e dos valores que sustentam a civilização contemporânea.

É confortável colher apenas os frutos do conhecimento produzido por uma minoria esclarecida, enquanto permanecemos presos a concepções ultrapassadas.
Contudo, para além das narrativas antigas, não há qualquer evidência de que seres superiores tenham intervindo para corrigir escolhas humanas ou solucionar as crises criadas pela própria incapacidade de pensar antes de agir.

um vasto abismo entre a realidade e a utopia, entre o desejo e o fato. A travessia desse abismo exige uma ponte chamada discernimentoponte que inevitavelmente enfrentará a resistência do trilionário comércio da fé, que vende paraísos e recompensas pós-vida como se fossem propriedades imobiliárias do além.

Poucos percebem que, após a existência terrena, a condição seria puramente espiritual, o que torna incoerentes imagens de mansões celestes, rios de leite e mel, tronos dourados ou reencontros físicos de entes queridos. A morte não destrói a energia; o espírito, eterno, transcende qualquer materialidade.

 

O verdadeiro precipício não é o da morte, mas o da estagnação.

Discernir é a ponte.

Questionar é libertar.

Evoluir é o desafio e o mais elevado gesto de reverência ao sagrado.

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La Fe que Ciega, la Conciencia que Despierta 

Las Creencias Alimentan la Euforia por lo Improbable, pero Mantienen la Razón en Sombras

En medio de los dilemas civilizatorios que atravesamos todos, de algún modo, prisioneros de la formación cultural que nos moldea desde el nacimiento, cada cual inmerso en su propia burbuja de creencias y temoresmuchos caminan con el alma atemorizada, temiendo castigos o la pérdida de bendiciones esperadas. Saturados por una fe obsesiva y sin raíces lógicas, se alejan, casi sin advertirlo, de la claridad de la razón.

Sus pasos resuenan por corredores de sombra, entre miedos apocalípticos y la priorización de trivialidades cotidianas, mientras la esencia humana se desvanece en un escenario que entretiene, distrae y reduce el nivel de conciencia. La luz interior, frágil, se disipa como una llama expuesta al viento.

En tropel avanzan hacia el precipicio creyendo divisar puertas celestiales donde solo existe el vacío reflejado de sus propias ilusiones. Son viajeros sonámbulos, exiliados de sí mismos, movidos por un fervor que espesa los velos del alma, aferrándose a bienes materiales que inevitablemente quedarán atrás de la frontera que separa lo visible de lo invisible.

No perciben que el paraíso anhelado ya toca sus pies: este planeta azul, ofrecido como morada transitoria en el vasto silencio del cosmos.
Pero, cegados por una devoción desmedida, levantan armas en nombre de dioses imaginados y hieren, con ingratitud, la delicada casa que los sostiene incapaces de convertir inseguridades en amor, fe en paz, cuidado en armonía y la propia existencia en un gesto de reverencia.

Es esencial afirmar que la libertad religiosa debe ser siempre respetada y garantizada como un derecho inalienable de cada persona. La fe, cuando es vivida con autenticidad, es un espacio íntimo, sagrado e inviolable de la experiencia humana.
Sin embargo, respetar la fe no significa sacralizar el comercio inmoral que numerosas instituciones religiosas han construido alrededor del miedo, la promesa y la credulidad.

Una parte considerable de la humanidad, movida por la fuerza de la tradición y la inercia de la costumbre, aún resiste admitir que nada en el universo es estático: todo está en permanente transformación reglas culturales, hábitos, valores, conceptos, modos de vivir y modos de comprender la existencia. Las mentes deben acompañar ese movimiento.

La historia, escrita por los pueblos de su tiempo, muchas veces limitada por la falta de conocimiento y distorsionada por interpretaciones ingenuas o fantasiosas, hoy está siendo gradualmente corregida, iluminada y ampliada por la ciencia.
Lo fascinante es que cada cultura, a lo largo de los milenios, moldeó su propia visión de lo sagrado según sus necesidades y circunstancias. Pero el mundo cambió —y permanecer mentalmente en el pasado es declarar la bancarrota del pensamiento.

Insistir en enseñanzas arcaicas desconectadas de la complejidad actual es ignorar la extraordinaria capacidad humana de razonar. Destruimos primero para pensar después; creamos nuestros propios problemas y luego esperamos ayuda divina para resolverlos.
La evolución exige superar tradiciones, creencias y prejuicios que aprisionan el pensamiento e impiden el libre fluir de la conciencia, la razón y los valores que sostienen la civilización contemporánea.

Es cómodo recoger solo los frutos del conocimiento producido por una minoría esclarecida, mientras seguimos aferrados a concepciones obsoletas.
Sin embargo, más allá de las narrativas antiguas, no existe evidencia alguna de que seres superiores hayan intervenido para corregir decisiones humanas o resolver crisis generadas por nuestra incapacidad de pensar antes de actuar.

Hay un vasto abismo entre la realidad y la utopía, entre el deseo y el hecho. Cruzar ese abismo exige un puente llamado discernimiento puente que inevitablemente enfrentará la resistencia del comercio trillonesco de la fe, que vende paraísos y recompensas de ultratumba como si fueran propiedades inmobiliarias del más allá.

Pocos perciben que, después de la existencia terrenal, la condición sería puramente espiritual, lo cual vuelve incoherentes las imágenes de mansiones celestiales, ríos de leche y miel, tronos dorados o reencuentros físicos con seres queridos. La muerte no destruye la energía; el espíritu, eterno, trasciende la materialidad.

El verdadero precipicio no es la muerte, sino la estancación.
El discernimiento es el puente.
Cuestionar es liberar.
Evolucionar es el desafíoy el gesto más elevado de reverencia hacia lo sagrado. 

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Faith That Blinds, Consciousness That Awakens 

Superstitions Feed the Euphoria of the Improbable, but Keep Reason in Shadows

Amid the civilizational dilemmas we face — all of us, in some way, prisoners of the cultural conditioning that shapes us from birth, each immersed in a personal bubble of beliefs and fears — many walk with frightened souls, fearing punishment or the loss of blessings they expect. Saturated by an obsessive faith with no logical roots, they drift, almost imperceptibly, away from the clarity of reason.

Their steps echo through corridors of shadow, between apocalyptic fears and the prioritization of daily trivialities, while the human essence fades in a scenery that entertains, distracts, and diminishes consciousness. The inner light, fragile, dissolves like a flame exposed to the wind.

In a rush, they advance toward the precipice — believing they see celestial gates where there is only the void reflected from their own illusions. They are sleepwalking travelers, exiled from themselves, moved by a fervor that thickens the veils over the soul, clinging to material possessions that will inevitably remain behind the boundary that separates the visible from the invisible.

They do not realize that the paradise they long for already touches their feet: this blue planet, offered as a temporary dwelling in the vast silence of the cosmos.
But blinded by excessive devotion, they raise weapons in the name of imagined gods and wound, with ingratitude, the delicate home that shelters them — unable to turn insecurities into love, faith into peace, care into harmony, and existence into an act of reverence.

It is essential to affirm that religious freedom must always be respected and guaranteed as an inalienable right of every person. Faith, when lived authentically, is an intimate, sacred, inviolable dimension of human experience.
However, respecting faith does not mean sanctifying the immoral commerce that countless religious institutions built around fear, promises, and credulity.

A considerable portion of humanity, driven by tradition and the inertia of custom, still resists acknowledging that nothing in the universe is static: everything is in constant transformation — cultural rules, habits, values, concepts, ways of living, and ways of understanding existence. Minds must accompany this movement.

History, written by the peoples of their time, often limited by lack of knowledge and frequently distorted by naïve or fantastical interpretations, is now gradually corrected, illuminated, and broadened by science.
The fascinating thing is that each culture, over millennia, shaped its own vision of the sacred according to its needs and circumstances. But the world has changed — and remaining mentally in the past is a declaration of failure of thought.

To insist on archaic teachings disconnected from present complexity is to ignore the extraordinary human capacity to reason. We destroy first, think later; we create our own problems and then expect divine assistance to solve them.
Evolution requires surpassing traditions, beliefs, and prejudices that imprison thought and hinder the free flow of consciousness, reason, and the values that sustain contemporary civilization.

It is comfortable to harvest only the fruits of the knowledge produced by an enlightened minority while remaining attached to outdated conceptions.
Yet, beyond ancient narratives, there is no evidence that superior beings have intervened to correct human choices or resolve crises created by our own inability to think before acting.

There is a vast abyss between reality and utopia, between desire and fact. Crossing that abyss requires a bridge called discernment — a bridge that will inevitably face resistance from the trillion-dollar faith industry, which sells paradises and afterlife rewards as if they were real-estate properties of the beyond.

Few realize that after earthly existence, the condition would be purely spiritual, making incoherent any image of celestial mansions, rivers of milk and honey, golden thrones, or physical reunions with loved ones. Death does not destroy energy; the spirit, eternal, transcends materiality.

The true precipice is not death, but stagnation.
Discernment is the bridge.
To question is to liberate.
To evolve is the challenge — and the highest gesture of reverence toward the sacred.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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