Quarta-feira, 1 de outubro de 2025 - 16h39
Inicialmente, digamos que o Bom Senso é o senso
comum em um bom andamento, num rumo lógico, presumível e deduzível.
O
senso comum também nos diz que é possível fazer do limão (um problema azedo),
uma bela limonada. De fato, é verdade. Esse texto é uma demonstração desse
acerto.
Mas,
então, seria possível reunir na mesma frase o senso comum e o Bom Senso, sem
separá-los? Seria possível essa junção, sem que haja uma distinção entre os
termos, ou melhor, a fim de que se complementem e construam um “novo” sentido,
com outro significado complementar e que dependa (esse significado “novo”),
exatamente, dessa junção em uma nova formulação?
Vejamos
o que já sabemos:
●
Por senso comum, comumente,
entendemos algo superficial, “comum” às primeiras impressões, comum às
ponderações imediatas, sem agregar reflexões ou valores substantivos. Algo
semelhante aos ditados populares (não todos), aos dizeres costumeiros do
dia-a-dia e sem profundidade.
● Já o Bom Senso, é o que pensamos ou queremos, deveria ser um pensamento – ou conjunto de pensamentos – para além do imediatismo, que não fosse um moto-contínuo, um simples reflexo ou reprodução sistemática daquilo que fazemos e, sequer, pensamos ao fazer.
Assim, o senso comum seria algo parecido com
respostas prontas, automatizadas, e o Bom Senso nos remete a um pensamento mais
investigativo, alinhado com nossos próprios pensamentos mais introspectivos
(reflexões) e ações. Portanto, seria uma forma posterior (superior) daquele
pensamento inicial, meio autônomo, obediente às necessidades ou de acordo com a
prontidão do dia-a-dia – o Bom Senso seria mais analítico, reflexivo,
investigativo. Mais ou menos comum a quem prefere colher provas e não somente
evidências.
Então, se
se parecem com expressões que não podem ser associadas, se (aparentemente) são
bastante repelentes – e antes disso, se são expressões que nos impelem a pensar
que o Bom Senso seria uma superação, transformação do senso comum –, como
associar ambas num só contexto, num outro sentido um tanto inusual, não tão
comum assim?
Este outro sentido – e veremos que é apenas a
partir dele que o Bom Senso pode ser analisado – nos diz, precisamente, que,
antes de tudo, de qualquer pretensão analítica, crítica, propositiva, é
preciso, necessário (como uma fase obrigatória do pensamento lógico-dedutivo)
vermos, pensarmos e retermos o que é óbvio.
No nosso caso, esse óbvio – antes de qualquer criticidade
pretendida – nos diz (com toda a força pretendida pelo Bom Senso) que devemos
observar com a máxima atenção “o senso comum do Bom Senso”. E qual seria esse
“senso comum do Bom Senso”?
É aquele imperativo lógico (racional) que nos
orienta a não cometer tantos erros, a não “resolver” um malfeito com o Mal
Maior, a prestarmos atenção redobrada aos detalhes efetivamente significativos.
Num português claro, o “senso comum do Bom
Senso” nos recomenda pensar duas vezes antes de agir, a preferir se calar e a
não se pronunciar ou opinar sobre fatos acerca dos quais não temos domínio das
informações relevantes.
Em suma, o “senso comum do Bom Senso” nos
recomenda a não propor ou fazer besteiras.
Porém, neste momento, curiosamente, já teríamos
uma reviravolta, um salto qualitativo no andar das coisas, pois, já não se
falaria mais em “senso comum do Bom Senso”, mas sim de um “Bom Senso do senso
crítico”: o Bom Senso que é o senso comum (a atenção ao óbvio) aplicado de modo
crítico.
A partir desse prisma da ultrapassagem ou
transformação do senso comum, em uma reflexão que não se desvincula dos fatos,
das obviedades e da lógica aplicada a tudo, estaríamos pensando, refletindo,
que as diferenças (sempre salutares) não podem ser confundidas com as
desigualdades – sendo essas as condicionantes da realidade brasileira que
necessitam com urgência de profunda transformação, com a melhor resolução
possível.
Isto
demonstraria, traria, o resultado de um pensamento crítico já posto em ação e
sempre observado, reavaliado, pelo Bom Senso. Por sua vez, todo esse percurso,
movimento de transformação, e não deixa de ser bastante óbvio, pertence ao
mundo do senso comum.
Num princípio técnico, teórico, corresponderia a
dizermos que “quem pode o mais, pode o menos”. Ou é obrigado, pela lógica, a
isso.
O exemplo concreto é o da pessoa adulta,
emancipada, capaz de trabalhar e de produzir, e que, em sendo assim, apta a cuidar
de si, “pode o mais”; dessa forma, portanto, é essa pessoa obrigada a “cuidar
do menos” (entre aspas), isto é, a zelar e cuidar de idosos ou crianças que
estejam sob os seus cuidados.
Num último exercício concreto, podemos ver o
senso comum dizer assim: tudo deve ser presumível e deduzível, ou seja, se a
pessoa diz que vai para o Norte, presume-se que se alinhe corretamente em
direção ao Norte e, logo, deduz-se, coerentemente, que tomou a direção oposta
de quem vai para o Sul. Enquanto o Bom Senso nos alerta para não tomarmos “o
dito pelo não dito”; afinal, ali na frente, esta mesma pessoa pode dar
meia-volta e, sem que você veja, rumar para o Sul. Por fim, o senso crítico irá
cravar que as situações, as ocorrências, as próprias pessoas e seus comportamentos
não são uma via reta, sempre há idas e vindas nesse “caminho tortuoso” que é a
Vida Comum do Homem Médio. De tudo o que vemos ou supomos saber, pouco ou quase
nada, é preto e branco.
Sem nenhum trocadilho, diremos que é fato, realidade à vista, verdade eloquente, “prova provada”, que o senso comum carrega como seus o fatalismo, o
O que é Educação para além da exceção (1)
O que podemos entender por Educação para além da exceção?Como nos disse Paulo Freire acerca da autonomia e da emancipação, trata-se de um “que faze
Educação para a emancipação - e para a autonomia (1)
Este texto tem um formato diferente, com o uso de poucas notas de rodapé e com as questões sob debate demarcadas como títulos entre uma citação dire
ÉTICA: Ciência, técnica e educação (1)
Podemos avaliar que não estaríamos em desacordo com Morin[1], ao precisarmos a necessidade de uma educação científica (contra o negacionismo[2]), qu