Terça-feira, 11 de novembro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

Viva o Carnaval


João Baptista Herkenhoff

Estamos, de norte a sul do Brasil, em clima de Carnaval e meu artigo de hoje embarca neste clima. Não quero me aventurar em outros temas. Correria o risco de receber cartas de protesto de leitores que vissem, num eventual silêncio, oposição a esta festa popular. Este foi aliás o erro em que incorreu o engenheiro agrônomo Manoel Inácio de Basto. Segundo o registro histórico, ele realizou em 1932 testes e experimentos em Lobato (Bahia) e chegou à conclusão de que havia abundância de petróleo naquele chão. Seguiu viagem para a Capital Federal a fim de comunicar o fato ao Presidente da República e aos jornais. Chegou porém ao Rio em pleno Carnaval. A opinião pública estava galvanizada em torno do desfile das escolas de samba, desfile esse que seria o primeiro no Carnaval carioca. Ninguém queria saber de descoberta de petróleo naquele momento. Manoel Inácio guardou a viola no saco e voltou para Salvador.

O Carnaval é expressão de cidadania e uma das formas de “ser pessoa”. Na presença entusiasmada da gente mais simples do povo em blocos de Carnaval, o que subjaz é a busca de identidade, tão forte na alma humana. Quem pertence a uma escola de samba tem endereço, raiz, deixa de ser alguém sem lenço e sem documento. Vibremos com as escolas, gostando ou não gostando de Carnaval. Tenhamos sensibilidade para ler o rosto feliz dos sambistas.

A sede humana de identidade e reconhecimento me relembra andanças pelo interior do Espírito Santo como juiz. Surpreendi centenas de casos de pessoas sem nome civil. Efetivado o registro cartorário e tendo em mãos a certidão de nascimento, as pessoas que passavam a existir juridicamente abriam um largo sorriso.

Também se constata a busca de “ser pessoa” nas praias apinhadas de gente. “Ser pessoa”, neste caso, é sentir-se participante da sinfonia de vida, ao balanço das ondas, no burburinho das vozes, no murmúrio do mar. Todos os entraves que obstaculem a vivência dessa dimensão do “ser pessoa”, como privatizar praias, merecem repúdio.

Bela saga do povo brasileiro nesta luta para “ser pessoa”: o sambista que se torna pessoa sambando; a pessoa física que se torna juridicamente pessoa através do registro civil; o banhista que se torna pessoa sorvendo o horizonte infinito que não tem dono. A todos pertence.

João Baptista Herkenhoff é Juiz de Direito aposentado, professor itinerante e escritor. E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br Homepage: www.jbherkenhoff.com.br

 

Gente de OpiniãoTerça-feira, 11 de novembro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

O Brasil que se acostumou a esperar pela catástrofe

O Brasil que se acostumou a esperar pela catástrofe

A catástrofe da violência no Rio de Janeiro produziu efeito no Congresso Nacional, como costumeiramente acontece, após a megaoperação policial que d

A “COP da verdade” e o teste de Rondônia: o que o Brasil precisa entregar além do discurso

A “COP da verdade” e o teste de Rondônia: o que o Brasil precisa entregar além do discurso

Belém (PA) — Na abertura do encontro de líderes da Cúpula do Clima em Belém, nesta quinta (6.nov.2025), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elev

Criando uma marca com propósito: do insight à identidade

Criando uma marca com propósito: do insight à identidade

Construir uma marca do zero é muito mais do que definir uma paleta de cores ou desenhar um logotipo. É um exercício de tradução: transformar a essên

O mordomo da vez é a geração de energia distribuída

O mordomo da vez é a geração de energia distribuída

“Se me enganas uma vez, a culpa é tua. Se me enganas duas vezes, a culpa é minha”Anaxágoras (filósofo grego) Um dos clichês dos romances policiais do

Gente de Opinião Terça-feira, 11 de novembro de 2025 | Porto Velho (RO)