Terça-feira, 1 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

Uma febre que não pode virar doença


 

      Por Marco Garcia*     

O marketing esportivo não se limita, como ocorreu no Brasil até 2009, à realização e produção de eventos, agenciamento de jogadores e venda de patrocínios para competições, clubes, atletas e modalidades. O conceito é muito mais amplo, devendo contemplar o planejamento e a conquista de efeitos perenes para os investimentos. Caso contrário, incorre-se no risco de resultados efêmeros, como indica pesquisa da GfK Consultoria quanto à Copa do Mundo da África do Sul: 37% das pessoas entrevistadas não se lembravam das marcas expostas nos estádios e quase 65% não repararam nas placas de divulgação.

Portanto, é necessária profunda reflexão ante as reais oportunidades relacionadas à Copa de 2014 e à Olimpíada de 2016, a serem realizadas no Brasil. Para as prospectar, o mercado deflagrou fusões, associações e parcerias entre empresas de eventos esportivos e agências de comunicação, buscando unir expertises para atender à demanda. Porém, tudo foi iniciado sem consulta às regras do jogo.

Há informação de que 20% do universo corporativo pretendem fazer investimentos consideráveis vinculados às duas competições. Algumas empresas programam budget superior a R$ 50 milhões para associar suas marcas aos eventos. Contudo, 30% do mercado não investirão mais do que R$ 500 mil. Este volume de aporte só gerará resultados se orientado por eficiente estratégia de negócios e comunicação, pois possibilita focar somente atividades pontuais e nichos de atuação, devendo, ainda, ser respeitados os rígidos parâmetros da Fifa e do Comitê Olímpico Internacional. Assim, é importante a criação de métodos e aplicativos que, após as duas grandes competições, mantenham vivas as mensagens das empresas análogas aos esportes, pois a tendência é o Brasil entrar definitivamente para o roteiro mundial dos grandes eventos nessa área, como aconteceu com o show bizz.

Entretanto, várias empresas recém-criadas começaram a divulgar, discursar e vender projetos e soluções em torno da Copa sem considerar as questões estratégicas e ignorando as normas da Fifa. Isto já tem causado danos a algumas companhias, que compraram propriedades e firmaram parcerias, cujos projetos não poderão ser efetivados de modo pleno, porque esbarram nas regras da entidade detentora dos direitos de exploração comercial e institucional do torneio.

O mercado precisa de propostas e serviços que abranjam a gestão esportiva e sejam atrelados a processos e estratégias de comunicação que tenham o esporte como tema, transcendendo à circunstância de um evento isolado. A gestão no setor ainda é incipiente no País. É preciso fomentá-la, pois o grande diferencial está no atendimento aos anseios e expectativas do mercado corporativo, que não quer mais investir em patrocínios, mas sim empreender negócios com resultados comerciais efetivos, além de associar seus nomes a entretenimentos de qualidade, deixando um residual emocional que fidelize os públicos-alvo de cada marca ou produto.

Considerada essa premissa, as empresas que proliferam de maneira cada vez mais acelerada nessa “corrida do ouro” da Copa e da Olimpíada precisam tomar cuidado em diferenciar marketing e gestão e identificar a ferramenta da qual seus clientes realmente precisam. Negócios de mera oportunidade, sem coerência e estratégia, ou patrocínios esparsos serão desmascarados pelo mercado, que está maduro, busca medidas de avaliação de seus investimentos e deverá incluir, como requisitos em seus processos seletivos, o perfil e a capacidade das agências de assessoria, consultoria, gestão ou marketing esportivo a serem contratadas.

Experiência e conhecimento das ferramentas de comunicação serão elementos fundamentais para a prestação de serviços de modo eficiente e seguro, sem comprometer os investimentos dos clientes na Copa do Mundo, Olimpíada e no desporto em geral. Na Europa e nos Estados Unidos, o segmento já é um dos mais eficientes instrumentos de marketing promocional e de relacionamento, bem como de publicidade, pois se constitui sempre em um ingrediente de sucesso, além de estimular a integração entre distintos povos, pessoas, etnias, credos e ideologias.

Está aberta a temporada de esportes no Brasil! Basta saber se haverá apenas uma “caça às oportunidades”. Esta visão hermética seria nociva, pois provocaria a banalização e o desperdício de uma ferramenta muito eficaz. O potencial iria esvaziar-se ante o mau uso e a discursos oportunistas, conduzidos por pessoas não habilitadas. É preciso considerar que nem todo profissional de comunicação e marketing é um especialista em marketing ou gestão esportiva.

Anunciantes de todos os portes terão oportunidade de explorar de maneira eficiente o mote esportivo, desde que assessorados por profissionais com bagagem de comunicação estratégica, somada a uma visão promocional e de negócios, com vivência efetiva nesse segmento. O domínio dessas ferramentas, impedindo que a febre da Copa e da Olimpíada transforme-se em doença, definirá os verdadeiros especialistas em gestão esportiva, com visão abrangente do mercado e capacidade de realizar projetos customizados, com resultados vitoriosos.

*Sócio da RINO COM / IX – Estratégia em Esporte.
Ricardo Viveiros & Associados - Oficina de Comunicação

 

Gente de OpiniãoTerça-feira, 1 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Votação do IOF expôs fragilidade da base do governo Lula no Congresso

Votação do IOF expôs fragilidade da base do governo Lula no Congresso

Quarta-feira (25), o Congresso impôs mais uma derrota ao governo do presidente Lula derrubando o Decreto que aumentava o IOF. O governo perdeu mais

Roubalheira no INSS -apenas mais um escândalo

Roubalheira no INSS -apenas mais um escândalo

O esquema que desviou bilhões de reais de contas de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) foi apenas mais um

O Congresso é culpa do eleitor

O Congresso é culpa do eleitor

          O Congresso Nacional do Brasil é, óbvio, o Poder Legislativo e é composto por 513 deputados federais e pelos 81 senadores da República. Es

O Eros e a Busca da Integridade: Entre o Mito e o Sagrado

O Eros e a Busca da Integridade: Entre o Mito e o Sagrado

Em Diálogo com Platão, Jung e a Trindade num Contexto do Sexo como Ritual sagrado A humanidade é um rio que corre entre duas margens: a espiritualid

Gente de Opinião Terça-feira, 1 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)