Domingo, 13 de setembro de 2015 - 18h59
Quando surgiram as campanhas de despoluição do rio Tietê na década de 90, mais precisamente em 1992, gerava grande preocupação e desilusão nos mais céticos quando era citado o longo prazo para que o rio tivesse oxigênio e voltasse a ter vida, com peixes e pescadores, prática de esporte e lazer, arborização em toda a sua extensão e até servir como meio de transporte coletivo.
Era citado o tempo gasto no processo de despoluição de rios em outros países, com destaque para o rio Sena, na França e o Tâmisa, na Inglaterra. Este teria levado trinta anos para ser despoluído totalmente.
Silenciada durante os 18 anos que se passaram no processo de limpeza do rio, no dia 6 de novembro de 2011, na capa da Folha de S. Paulo há a noticia impactante do gasto de quase 2 bilhões de dólares para a poluição piorar um “pouco”.
Nesse período já passaram seis governadores pelo Palácio dos Bandeirantes, iniciado com Luiz Antonio Fleury Filho; seguido por Mário Covas, Geraldo Alckmin, Cláudio Lembo, José Serra e Alberto Goldman que formaram o grupo de governadores no processo de “deslimpeza” do rio Tietê. Mario Covas por dois mandatos e Alckmin, já no quarto, são responsáveis pelo período de mais de 15 anos pela limpeza que suja. E o Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB é o inegável pai da criança até a maioridade alcançada no final de 2010. Esse é o número de responsáveis diretos, mas os bilhões desperdiçados impressionam muito mais.
Um dos diretores de projetos da Sabesp, órgão responsável pela fictícia despoluição, Carlos Eduardo Carrella, regojiza-se ao afirmar que “se nada tivesse sido feito a situação seria bem pior”, argumento semelhante a outro muito utilizado no passado pelos ministros de economia para minimizar os efeitos deletérios da inflação. Diziam que a inflação de determinado mês não fora tão alta como era esperada, pois ficara em 50%, quando as previsões apontavam 80, 90% para aquele mês.
Ao contrário de autoridades de países desenvolvidos, as brasileiras costumam justificar qualquer coisa, por mais absurda que seja; não assumem seus erros. O gasto astronômico sem resultado careceria de investigação mais aprofundada, mais séria do que costuma ser em casos semelhantes. E já deveria ter sido antes de se chegar a gigantesco desperdício de dinheiro público. O diagnóstico de onde vem a sujeira já existe. Então, seriam necessárias algumas alterações em diversas ações e intensificação do trabalho noutras. Fiscalizar e exigir que as residências façam a adequação de seus esgotos para a rede, caso exista, ou para fossas. As indústrias e casas comerciais só deveriam receber a licença de funcionamento após comprovar a destinação adequada do seu esgoto e seu lixo. Aplicar multas desde pedestre que jogasse palito de fósforo, ponta de cigarro nas ruas até quem jogue sofás e material de construção em locais inadequados. Leis já existem em São Paulo. Falta só o cumprimento.
Como gostava de dizer o ex-presidente Lula, se o rio tivesse sido limpo, cada governador diria que ninguém nunca na história deste país teria feito tanto pela limpeza, numa busca pelo título de limpador-mor do Tietê. É possível ter havido projeto básico resultante de profundo estudo; projeto de execução; definição de resultado por etapas. Nenhum maluco poderia imaginar todo esse trabalho realizado propositalmente para um aumento “satisfatório” da poluição. Alguém tem que vir a público dizer onde existiram falhas gravíssimas e grosseiras para se chegar a resultado tão bisonho. Não se tem como negar a paternidade ao PSDB e a criação até a presente data. Também falhou a imprensa por não ter acompanhado de perto com cobranças periódicas de resultados. Cada governador teria que explicar quanto gastou e seu percentual de piora.
Nenhum argumento justificaria minimamente esse desastre. Apurar e punir os responsáveis seriam dever, mas não resolvem o que já deixou de ser feito. Servem de alerta para acabar com a política de gastar bilhões de dólares para piorar gradativamente um serviço público tão relevante. Com seguimento da política atual de despoluição, daqui a 80 anos 10 bilhões de dólares terão sido literalmente enterrados num rio acabado.
Pedro Cardoso da Costa
Bacharel em direito
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