Sábado, 22 de julho de 2017 - 07h59

Sonho: EFMM privatizada
Professor Nazareno*
É inegável a importância histórica da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. A Ferrovia do Diabo, concluída no início do século passado, faz parte do acervo histórico da humanidade não só por que trabalhadores de várias nacionalidades participaram da obra, mas principalmente pelo fato de ter sido destaque entre as relações do Brasil com a Bolívia e de ter fechado com “chave de ouro” os áureos tempos do Primeiro Ciclo da borracha. Por sua causa, Porto Velho e Guajará-Mirim existem. O Estado do Acre, a própria Bolívia, o Chile, os Estados Unidos, Barbados, Reino Unido e várias outras nações do mundo estão direta ou indiretamente ligadas ao seu contexto. Porém com pouco mais de cem anos de existência, o que resta da velha ferrovia está abandonado e apodrecendo no meio do mato. Transformada em monturo e ferrugem, agoniza a esmo.
Os problemas da EFMM foram muitos, mas sua lenta agonia provavelmente começou quando passou a ser administrada por brasileiros e depois pelos rondonienses. Seus trilhos viraram “estacas” de seguranças de residências, suas locomotivas foram desativadas e descartadas como lixo velho, seu patrimônio dilapidado, muitas peças de seu acervo foram roubadas e na enchente histórica em 2014, as águas do rio Madeira lentamente lhe impuseram o tiro de misericórdia sob o olhar passivo e negligente das autoridades que tomavam conta da velharia. Por tudo isso, a Estrada de Ferro mais importante da Amazônia deveria ser privatizada. Um sonho se outras nações ou povos mais zelosos cuidassem dela e de toda a área circunvizinha. O porto do Cai N’água, que está parado há meses, finalmente voltaria a funcionar com os novos administradores.
Duvido que se alemães, franceses ou japoneses, por exemplo, tivessem a suprema coragem de tomar conta daquelas sucatas podres, a ponte ainda estivesse escura como breu e sem nenhuma serventia. Zelosos como são, os estrangeiros já tinham construído uma pista de caminhada do centro até a hidrelétrica de Santo Antônio para substituir o famigerado Espaço Alternativo. E sem roubar um único centavo da obra. Caminhar com uma vista panorâmica do Madeira e da região seria privilégio para poucos. Os competentes e novos administradores certamente plantariam flores e criariam muitos jardins e recantos de lazer ao longo da beira do rio desde a hidrelétrica até a estrada do Belmont. Tenho certeza absoluta de que sob uma administração de responsabilidade não haveria sequer um só saco plástico, papel ou garrafa pet jogados.
Festa Gospel ou de qualquer outra natureza ainda haveria no lugar, mas depois não se encontrariam imundícies jogadas no meio da grama. Antes de toda concentração, sacos de lixo seriam distribuídos e fiscais orientariam os participantes a não sujar o espaço público. Além de não saberem administrar nada, brasileiros e rondonienses de um modo geral adoram sujar e emporcalhar o ambiente que os cerca. Segurança haveria de sobra e ninguém ousaria mais defecar nas imediações da praça histórica muito menos usar drogas a céu aberto sem ser importunado pela inexistente segurança. O vergonhoso cemitério de locomotivas seria todo restaurado e colocado em exposição. Se foram os forâneos que construíram a majestosa obra, só mesmo eles com sua organização e honestidade para fazê-la trazer de volta a alegria dos seus poucos visitantes. O que estão esperando? Devolvam logo a Mad Maria e todo acervo da EFMM para os estrangeiros.
*É Professor em Porto Velho.
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