Sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015 - 05h40
Luiz Albuquerque
Sua infância teve muita surra e pouca comida. Não lembrava se brincava. Do pai, lembrava quando ele veio e bateu na mãe, quase a matou. Depois a mãe se amigou com um homem que a bolinava, bebia muito e batia nela e nos irmãos. O primeiro filho veio aos treze anos, quando se entregou pela promessa de mudar de vida, que não aconteceu. O pai da criança sumiu; preso ou fugido. Nunca mais teve notícia dele. O bebê era mais um a encher a casa, mais despesas. Então passou a catar lixo junto com a mãe e o padrasto. Saiu de casa e foi morar com um pedreiro que não quis levar o filho por ser “fruto do pecado”, contrário ao que pregava a religião dele. Ela aceitou, não tinha outro jeito. Durante dez anos e seis filhos depois viu o marido crescer, virar mestre de obra e dono de firma. Viu-o construir outra casa, arranjar outra mulher, e ela passou a ser amante. A velhice galopava, ela sem vida nem futuro, vendo crescer os filhos, largados pelo pai. Resolveu reagir, foi estudar. Aprendeu a escrever, ler frases. Chorou como nunca ao receber um papel que dizia que ela estava alfabetizada. Saiu em busca de emprego, qualquer trabalho, mas ninguém contratava alguém sem experiência, sem nem o 1º grau completo. Passou a fazer bolos e doces que vendia numa banquinha, no centro da cidade, em frente a uma biblioteca, onde um dia ela entrou e pediu um livro para ler. A atendente perguntou-lhe qual livro e ela não sabia. Saiu correndo e chorando. A moça da biblioteca passou a comprar seus doces, fez amizade, indicou livros, convenceu-a a voltar a estudar. Não foi fácil. De dia na banca, de noite estudando. Na madrugada fazia doces. Pensou muitas vezes em parar, mas continuou. O Ensino Fundamental, o Médio, o vestibular. Os anos se arrastavam; o trabalho, a idade pesava. A faculdade. A formatura. Até o grande, sublime, fabuloso dia que, formada, foi aprovada num concurso. Assumiu a direção da biblioteca. Da janela, via uma mulher e uma banca de doces. Lá, no mesmo lugar que, por muitos anos, ela também estivera!
Luiz Albuquerque (Manaus/AM), EM Porto Velho desde 1979. É consultor comercial, escritor e editou o projeto “Leitura no Ônibus”
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