Domingo, 7 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

SÓ UM CONTO A MAIS


Gente de Opinião

Luiz Albuquerque


Sua infância teve muita surra e pouca comida. Não lembrava se brincava. Do pai, lembrava quando ele veio e bateu na mãe, quase a matou. Depois a mãe se amigou com um homem que a bolinava, bebia muito e batia nela e nos irmãos. O primeiro filho veio aos treze anos, quando se entregou pela promessa de mudar de vida, que não aconteceu. O pai da criança sumiu; preso ou fugido. Nunca mais teve notícia dele. O bebê era mais um a encher a casa, mais despesas. Então passou a catar lixo junto com a mãe e o padrasto. Saiu de casa e foi morar com um pedreiro que não quis levar o filho por ser “fruto do pecado”, contrário ao que pregava a religião dele. Ela aceitou, não tinha outro jeito. Durante dez anos e seis filhos depois viu o marido crescer, virar mestre de obra e dono de firma. Viu-o construir outra casa, arranjar outra mulher, e ela passou a ser amante. A velhice galopava, ela sem vida nem futuro, vendo crescer os filhos, largados pelo pai. Resolveu reagir, foi estudar. Aprendeu a escrever, ler frases. Chorou como nunca ao receber um papel que dizia que ela estava alfabetizada. Saiu em busca de emprego, qualquer trabalho, mas ninguém contratava alguém sem experiência, sem nem o 1º grau completo. Passou a fazer bolos e doces que vendia numa banquinha, no centro da cidade, em frente a uma biblioteca, onde um dia ela entrou e pediu um livro para ler. A atendente perguntou-lhe qual livro e ela não sabia. Saiu correndo e chorando. A moça da biblioteca passou a comprar seus doces, fez amizade, indicou livros, convenceu-a a voltar a estudar. Não foi fácil. De dia na banca, de noite estudando. Na madrugada fazia doces. Pensou muitas vezes em parar, mas continuou. O Ensino Fundamental, o Médio, o vestibular. Os anos se arrastavam; o trabalho, a idade pesava. A faculdade. A formatura. Até o grande, sublime, fabuloso dia que, formada, foi aprovada num concurso. Assumiu a direção da biblioteca. Da janela, via uma mulher e uma banca de doces. Lá, no mesmo lugar que, por muitos anos, ela também estivera!

Luiz Albuquerque (Manaus/AM), EM Porto Velho desde 1979. É consultor comercial, escritor e  editou o projeto “Leitura no Ônibus”

Contatos:

fone (69) 9205-7003

E-mail: lccalbuquerque@gmail.com

Gente de OpiniãoDomingo, 7 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

A política do tempo dos coronéis

A política do tempo dos coronéis

Tem gente que acha que basta o presidente da República, o governador ou o prefeito escolher seu sucessor e todo mundo vai votar no seu candidato. Is

Desrespeito a Porto Velho

Desrespeito a Porto Velho

Não tem prefeito que dê conta de resolver os problemas da cidade que administra se os habitantes não colaborarem.  Não se pode negar que Léo Moraes es

Os títulos podres do Master

Os títulos podres do Master

O Banco Master, do senhor Daniel Vorcaro, está no centro de uma crise financeira. Tudo indica que houve gestão fraudulenta. O Master oferecia taxas

Transporte Público Gratuito: 78 bilhões no colo do setor produtivo

Transporte Público Gratuito: 78 bilhões no colo do setor produtivo

O Governo não para de criar propostas mirabolantes para agradar o eleitorado com políticas assistencialista e prepara, mas uma festa. O “bolo”, poré

Gente de Opinião Domingo, 7 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)