Segunda-feira, 20 de agosto de 2018 - 06h15

Rondônia é um rincão atrasado, subdesenvolvido e inóspito. Disso quase todo mundo que mora aqui sabe. Talvez o que não se saiba é o porquê de tudo isso ser verdade. Por que um Estado que detém os melhores índices na agropecuária e se situa entre dois biomas conhecidos mundialmente apresenta números tão frágeis quando se trata de IDH? Temos água potável em abundância, temos um rebanho bovino invejável, temos grandes extensões de terras agricultáveis, temos muitos outros recursos naturais. Por que um Estado com toda esta riqueza e que tem uma população minúscula não consegue dar a ela uma qualidade de vida pelo menos razoável? Somos um fracasso na Educação, na Segurança Pública e também na Saúde. Por que este Estado, por exemplo, tem que conviver ainda com um hospital como o João Paulo Segundo de Porto Velho?
O “velho açougue” é uma vergonha, não somente para Porto Velho e Rondônia, mas para todo o Brasil. Recentemente o Coren-RO, Conselho Regional de Enfermagem de Rondônia, denunciou pela milésima vez as más condições daquele estabelecimento público de saúde. O que acontece ali poderia ser denunciado ao mundo, pois é um verdadeiro desrespeito à dignidade humana. Pacientes esparramados pelo chão, jogados em macas improvisadas, falta de médicos, de enfermeiros e de outros profissionais da saúde é o que se relata. Parece um hospital de um país em guerra. Se a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA visitasse o João Paulo poderia constatar in loco como as autoridades rondonianas tratam os seus pacientes mais pobres. Sim, porque as pessoas mais endinheiradas querem distância daquele verdadeiro inferno.
O Coren-RO constatou o óbvio na visita que fez: superlotação, pacientes “internados” pelos corredores, em áreas externas e em condições insalubres. E as autoridades, o que têm feito para sanar esta vergonhosa situação? Confúcio Moura no início de seu governo trouxe até a rede Globo para fazer reportagens sobre o “açougue”. Passou oito anos governando o Estado e mudou o que ali? De campo de concentração, passou a ser campo de extermínio de pobres. Essa foi talvez a única mudança verificada. Hitler matava judeus, em Rondônia se matam pobres. Outros governadores também viram o problema e deram de ombros. Ironia: quase todos os políticos e autoridades deste Estado devem ter bons planos de saúde. Estamos agora em plena campanha política. Alguns candidatos vão lá prometer mundos e fundos e depois esquecem tudo.
Infelizmente o Hospital João Paulo Segundo de Porto Velho vai continuar assim por muito tempo. Só pobres e pessoas com pouquíssima leitura de mundo é que usam suas dependências. Pior: já vi gente aplaudindo aquele caos. “O hospital João Paulo Segundo salva muitas vidas, graças a Deus”, falam alguns ignorando que ninguém salva a vida de ninguém, apenas se for competente adia a morte. Claro que algumas pessoas conseguem sair vivas de lá. Conheço algumas, inclusive. Mas este pensamento conformista só adia melhores soluções para aquele “açougue”. Óbvio que muitos profissionais de João Paulo se esmeram em fazer o melhor dentro de um ambiente com poucas condições para funcionar. São heróis, portanto. Entendi porque a vilazinha de Calama no baixo Madeira não tem médico há seis meses. “Senhores candidatos, o Sírio-Libanês de Rondônia precisa de soluções urgentes. Não deixem seus eleitores morrer”.
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