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PRESENTE DE NATAL PARA RONDÔNIA



PRESENTE DE NATAL PARA RONDÔNIA - Gente de Opinião

Reginaldo Trindade

Gosto sempre de me referir a Cândido Mariano da Silva Rondon como “pessoa maior que a vida”, tal qual é definido, à semelhança do ex-presidente Theodore Roosevelt, no maravilhoso “O Rio da Dúvida”, de Candice Millard, onde se narra a secular epopeia de ambos pelas terras do Povo Cinta Larga.

Fico imaginando quantas pessoas, no Brasil e fora dele, poderiam receber um tal epíteto: maior que a vida! Ainda mais numa época tão carente de lideranças verdadeiramente comprometidas e com as maiores instituições brasileiras – o Planalto e o Parlamento – cada vez mais enlameadas.

Para não generalizar demais, fiquemos apenas com as pessoas que podem assumir a mais alta magistratura do Brasil em caso de vingar o pedido de impeachment: quais, dentre elas, poderiam ser assim apelidadas?

Num Brasil que reverencia tão pouco o seu passado e, menos ainda, seus heróis, virtude, serenidade e sabedoria parecem ter desaparecido completamente do cenário nacional.

Que o digam os shows de horrores, quero dizer, as sessões do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Desaforos, palavrões e bofetadas são apenas o que de menos hediondo assistimos ali.

O Coronel Rondon, neto do Marechal da Paz, esteve nesta Capital recentemente e nos brindou com frase sua que bem expressa um conselho tão pouco seguido ultimamente, sobretudo no alto escalão “A riqueza de uns não virá às custas de outros”.

O descendente tão ilustre aqui esteve a pretexto da inauguração do Memorial Rondon – espaço maravilhoso que une história, mito, glória, patriotismo e todos os demais ingredientes que circundam a vida dos grandes homens.

Maquetes, fotografias cuidadosamente preservadas e selecionadas, filmes, tudo rigorosamente bem organizado fazem do espaço recém-inaugurado uma visita absolutamente imperdível para turistas e nativos.

Atrevemo-nos a dizer que, a despeito de sua recenticidade, o espaço já rivaliza com os grandes pontos turísticos do Estado; a ferrovia, o forte príncipe e a as três caixas d’água aí incluídos.

A exposição conta com fotos raras da família do herói nacional (sim, o Marechal Rondon é herói nacional, reconhecido inclusive oficialmente – Lei nº 13.141/2015), uma carta de Einstein e até com um posto telegráfico ainda em funcionamento!

Um genuíno presente de Natal para Rondônia.

Congratulemos, pois, a Memória Civelli, o Governo de Rondônia, a UNIR, o Exército e todos os bravos soldados que tanto lutaram para nos legar dádiva tão singular.

O maravilhoso museu teve uma inauguração à altura.

Dentre tantas passagens soberbas, a participação de Maria Cecília, outra neta de Rondon, foi absolutamente apaixonante e inspiradora.

A irmã Maria Cecília, do alto de seus mais de 90 anos, foi ousada, como ela mesma se definiu, pedindo a todos que dessem as mãos em sinal de união.

Assim irmanados, rogou que os presentes assumissem um compromisso de lutar pelos índios do Brasil – o que seu avô fez com tamanha entrega e dedicação; sempre com imenso sacrifício pessoal e familiar.

Naquela época, Rondon já compreendia, com nitidez, algo que mesmo hoje, passados cem anos, muitas pessoas relutam em aceitar: que os “brancos” é que são os invasores.

O Marechal da Paz viveu num tempo assim. Em que a virtude e o patriotismo eram exercidos verdadeiramente, não meramente vomitados por quem não possui nem uma, nem outro.

Machado de Assis, um de seus contemporâneos, dizia que “governa-se pelo presente, tem o porvir em pouco e o passado em nada ou quase nada”. Se nos tempos de Machado, Nabuco, Ruy Barbosa e Prudente de Morais já era assim, que dirá hoje, nos tempos de Dilma, Temer, Aécio, Cunha e Calheiros.

Hoje, governa-se pelo presente e para si mesmo. Quando muito para o clube dos companheiros – síntese em que se transformou uma coisa chamada partido político no Brasil.

O projeto de Brasil é substituído sem remorsos pelo projeto de poder. Para alcançar o poder vale qualquer coisa – da enganação e cinismo à roubalheira escancarada.

Mas os desencantos não podem nos acovardar. Devem, pelo contrário, alimentar nossa fome por mudança. Quanto maior for a desesperança a nos assaltar os corações, maior deverá ser nossa determinação.

Temos muito que aprender com a nossa história.

Visitemos o museu e o memorial. Revisitemos tudo que o Marechal da Paz nos legou. Cultivemos a virtude, o patriotismo, o sacrifício em prol de causas maiores, o respeito por nossos irmãos-índios, o amor pela paz.

Afinal, nós somos – ou deveríamos ser – quem nós fomos.


(Procurador da República. Responsável, no Estado de Rondônia, pela Defesa do Povo Cinta Larga desde abril/2004. Pós-Graduado em Direito Constitucional)

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