Quinta-feira, 3 de março de 2016 - 15h59

Aproxima-se mais um pleito eleitoral. Em disputa, o cargo de prefeito para dirigir a capital do nosso Estado.
Existem desafios colossais a serem enfrentados. São frutos de uma série de disfunções e omissões, acumuladas ao longo da nossa história.
A rigor, Porto Velho nunca teve uma gestão que pensasse a cidade, enquanto um processo dinâmico que abriga múltiplas dimensões, bem como, complexas determinações. Por isso mesmo, ao longo de sua existência, avolumaram-se e agravaram-se variadas formas de problemas, próprios dos centros urbanos, que cresceram sem nenhum tipo de organização planejada.
Alguém se lembra de alguma obra grandiosa que tenha marcado a gestão de alguma administração passada e que tenha contribuído e ficado registrado na história?
Fosse tirado hoje, um raio x da capital rondoniense, em que pudesse ser focalizado, em todos os quadrantes da sua realidade, principalmente no que diz respeito aos seus aspectos estrutural, infra estrutural e social, o resultado seria uma imagem distorcida, desfigurada e de completa decadência do que se espera da capital do Estado.
Pensar Porto Velho para os próximos anos, requer acima de tudo, alguém à frente de um governo municipal, que seja capaz de discernir, a diferença entre um discurso político e ação prática.
Uma coisa é o discurso de ocasião, impregnado por um viés populista, talhado para ganhar eleições, sobre a orientação de um bom marketing político (a presidente Dilma é um “belo” exemplo disso em sua última eleição) outra, é a responsabilidade do executivo municipal, assumir a gestão de uma cidade. Uma cidade desprovida das condições mais elementares, que atenda minimamente seus munícipes, e que está a exigir desse executivo, pelo menos, três requisitos básicos: compromisso, conhecimento e capacidade. Capacidade esta, intrínseca às competências política, técnica, administrativa e de gestão, fundamentalmente ligadas à arte de articular os diversos agentes e atores em um cenário, que congregue esforços dos diversos setores que compõem o organismo vivo da cidade. Organismo este, marcado por uma dinâmica permanente, e que protagoniza antagonismos e interesses divergentes, que precisam ser plasmados, em torno do mesmo objeto comum: o desenvolvimento do Município.
Eis aí, o desafio maior daquele que for eleito na próxima eleição, para conduzir os destinos da capital do Estado de Rondônia.
Dois elementos fundamentais para dar conta dessa tarefa: conhecimento e disponibilidade financeira. O primeiro, pode ser superado com a formação de uma equipe técnica bem estruturada, que congregue profissionais de diferentes áreas, com ênfase nos setores mais essenciais e que na sua constituição, respeite mais que os critérios políticos, e priorize a formação técnica.
Ainda em relação ao conhecimento, é importante respeitar o que vem dando certo no que tange o universo das questões urbanas, já aplicado em diversas partes do Brasil e do mundo. Este é o caminho mais fácil para proporcionar as pessoas, condições mais dignas para viverem nas cidades.
No Brasil especificamente, dois instrumentos regulados por Lei, são colocados à disposição dos gestores municiais, o Estatuto da Cidade e o Plano Diretor. Respeitando-os e colocando-os em prática pelo menos no que diz respeitos às suas diretrizes essenciais, já é meio caminho andado para se realizar uma responsável gestão.
Em relação aos aspectos estritamente financeiros, duas questões se impõem, os concernentes diretamente às arrecadações de tributos, as transferências do Estado e Federação, e que via de regra, não suprem o aporte necessário para a cobertura dos investimentos e serviços demandados pelo município.
É aqui que entra, a outra questão, diz respeito à competência de articulação política e de criatividade do gestor. Ficar esperando que algo caia do céu e se lamuriando pela falta de recursos das fontes originais, não vão dirimir os problemas criados, aprofundados que ficaram mais complexos nas últimas décadas.
O que marca a diferença entre os administradores da máquina pública e os tornam, medíocres, ruins, sem expressões, comuns ou excepcionais, fazendo-os ser ignorados ou respeitados, e reconhecidos dos cidadãos de bem, é o desprendimento e o empenho que nutrem, e pelos quais abraçam a causa pública, a tal ponto de se arriscarem e mergulhar de corpo e alma por ela. Nesse sentido, o gestor imbuído desse propósito, vai sempre encontrar alguma saída pra resolver os problemas que desafiam a sua administração todos os dias.
Existem sempre algumas delas. O importante, é estar atento e com perspicácia, buscá-las onde quer que elas estejam, obtendo informações através de fontes seguras, articulando-se em parcerias, e munindo-se de bons e sólidos projetos. Fontes com recursos existem, quer em organismos públicos ou privados, em entidades nacionais ou internacionais, ONGs ou Fundações, nacionais ou internacionais, com recursos disponíveis em forma de crédito ou a fundo perdido. O que falta é ousadia, coragem, vontade, determinação e principalmente, conhecimento e criatividade.
O que preocupa profundamente, é que no horizonte presente, não possamos vislumbrar no quadro político existente, um nome a altura de responder tamanho e complexo desafio. Vivemos um momento da nossa história, em que a representatividade política, tal qual acontece no cenário nacional, é da mais lastimável mediocridade. É só constatar, o que acontece no Congresso Nacional.
Difícil, nessa perspectiva, ter alguma expectativa otimista, de ser emplacada uma candidatura, que reúna as condições almejadas para, não digo, nem promover as transformações de que a nossa cidade necessita, mas pelo menos não deixar a situação se agravar, mais do que o estado de deterioração que se encontra.
Finalizando, qualquer panorama que traçarmos em relação aos múltiplos aspectos da cidade de Porto Velho, seja do ponto de vista da sua estrutura física, social, paisagística, das manifestações e dos seus monumentos culturais, político-administrativo e da gestão, tudo nessa paisagem é muito deprimente, caótico, desolador.
Nem o centro mais antigo e nobre da cidade, com os seus logradouros, região da qual se originou o seu processo de expansão urbana, foi capaz de escapar da negligência dos gestores municipais. É possível em alguns dos seus espaços, sentir o cheiro fétido, nesse ambiente curtido pelo desleixo, que deixa antever, o descuido a que foram relegados, cedendo lugar aos moradores de rua, que perambulam maltrapilhos, qual zumbis morto vivos.
Uma dura e cruel realidade. Para o seu enfrentamento, exige mais que discursos empolados, promessas meramente eleitoreiras e compromissos engendrados no calor da campanha.
No cenário político da atual conjuntura, com os pretensos candidatos que começam a se colocar à disposição dos seus partidos a concorrerem à vaga para ocupar o Palácio Tancredo Neves, alguém de estatura apto a cumprir tarefa de tamanha grandeza???
Edilson Lobo do Nascimento
Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Rondônia – UNIR
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