Segunda-feira, 20 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

OS CRIMES CONTRA O MERCADO PÚBLICO MUNICIPAL


 

*Adilson Siqueira de Andrade

O Mercado Público Municipal de Porto Velho teve a sua primeira parte construída em 1915 pelo então superintendente do município de Porto Velho, Major Fernando Guapindaia, e concluída no final dos anos quarenta, pelo então Prefeito Rui Cantanhede.

Primeiro Crime - Em agosto de 1965 o Mercado Público, foi parcialmente destruído por um suposto incêndio. As denúncias recaíram, na época, sobre o então empresário do ramo de seguros Luiz Malheiros Tourinho. Sua empresa comprou as ruínas e até mesmo os boxes que não haviam sido atingidos pelo incêndio. Desses, apenas dois proprietários resistiram e não venderam seus imóveis, sendo o conhecido Zizi e dona Alina.

O referido empresário pretendia construir dois edifícios: Rio Madeira e Rio Mamoré, porém, como a área onde seria construído o edifício Rio Mamoré tinha embaraço, pois dois proprietários resistiram à venda de seus boxes, a prefeitura autorizou somente a construção de um edifício, o Rio Madeira.

O responsável pela autorização da construção da obra desse edifício foi o Prefeito biônico de Porto Velho, a época, engenheiro Sebastião (Tião) Assef Valadares, amigo da família Tourinho, hoje Secretário de Obras do Prefeito Roberto Sobrinho.

Segundo Crime - Apoiado no regime Militar autoritário e influente na política local à época, Luiz Tourinho em uma sexta-feira Santa, de forma criminosa mandou demolir os boxes do Mercado, como forma de pressionar os dois pequenos comerciantes que resistiam à venda dos mesmos. Esse acontecimento se deu às vistas da população curiosa e indignada; sem apoio político, não pode fazer nada.

A partir daí os dois boxes que permaneceram, serviram como símbolo da resistência sócio-cultural da população de Porto Velho.

Findo o regime ditatorial, e já com o advento da democracia, lideranças de movimentos sociais, populares e culturais de Porto Velho, realizaram várias manifestações públicas (atos públicos e shows culturais) de resistência e exigindo da Justiça posicionamento, pois havia sido impetrada uma Ação Popular na Justiça, e da Prefeitura que interviesse a fim que os boxes que restaram fossem restaurados e o restante da construção fosse aludido ao cenário, ou seja, que fosse feito um complemento a partir da arquitetura existente.

Passados vários anos a Justiça deu a sentença condenatória aos dois responsáveis pelos crimes contra o patrimônio histórico-cultural: Luiz Malheiros Tourinho e Sebastião (Tião) Assef Valadares determinando a devolução da área à Prefeitura de Porto Velho, fato recebido com alegria para todos os que lutaram há anos na defesa da identidade histórico-cultural de Porto Velho.

Terceiro Crime - Com a administração do atual Prefeito Roberto Sobrinho, oriundo do movimento sindical, se imaginava que o mesmo fosse capaz de atuar, preservando o patrimônio histórico e cultural da cidade que o acolheu. Porém, o que se constata é o total desrespeito com o patrimônio histórico local, como por exemplo, o acervo da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré que se encontra em total abandono; o complexo da Candelária (hospital e cemitério) em que recentemente mandou passar tratores removendo até ossadas humanas. Nesse lugar, havia sido construído o mais moderno hospital de doenças tropicais da América Latina, no início do século XX – O Hospital da Candelária, e em sua extremidade o Cemitério da Candelária onde estão sepultados pioneiros da construção da E.F.M.M, e os primeiros habitantes de Porto Velho – terreno esse tombado pelo patrimônio histórico Nacional; sem memória, o Prefeito quer construir um condomínio de luxo no local.

Para a surpresa de toda a população porto-velhense o Prefeito em uma manhã de fevereiro deste ano, pratica mais um crime contra a história do povo de Porto Velho, mandou demolir os boxes que haviam sido os símbolos da resistência da cultura local, e com eles parte da história de Rondônia se transformou em ruínas. Fato esse que poderia se comparado se um governante bárbaro derrubasse o Coliseu Romano e em seu lugar mandasse construir outro moderno, por puro capricho.

Não precisa ser arquiteto para saber o que significa Aludir ao Cenário. Nesse caso deveria ser reconstruída a parte demolida aproveitando as fachadas dos boxes existentes com toda a sua originalidade, mantendo a história viva.

Além dos gestores da Prefeitura, também os órgãos responsáveis pela preservação do patrimônio histórico-cultural e os órgãos de fiscalização devem ser responsabilizados como solidários e coniventes com o crime cometido, como: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Regional (IPHAN); Instituto de Arquitetura do Brasil (AIB) que é responsável pela aprovação de todo projeto de reforma e restauração referente à arquitetura; Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA) responsável pela aprovação de projetos de arquitetura; o Instituto de Historia e Geografia do Estado de Rondônia (IHGERO); a Promotoria de Defesa do Patrimônio Público. A Prefeitura do Município de Porto Velho com maior ênfase, pois é quem executou a demolição e está construindo uma nova obra sem a preservação da identidade e sem nenhum respeito à cultura local.

Que os culpados sejam punidos por este crime hediondo contra o patrimônio público para que outras edificações não sejam demolidas, como a antiga Câmara Municipal, e que a luta de resistência do Zizi não tenham sido em vão. Que se continue a resistência contra todos os que querem destruir a identidade da população.

Fonte:  *Adilson Siqueira é professor da Universidade Federal de Rondônia (Unir) e presidente regional do Partido Solidariedade e Liberdade (P-SOL) e vice-presidente do Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior (ANDES - Regional Norte-1).

Gente de OpiniãoSegunda-feira, 20 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

O perigoso caminho que o Brasil resolveu trilhar

O perigoso caminho que o Brasil resolveu trilhar

O clima político que vem tomando conta do Brasil não reflete, ao contrário do que seria licito esperar, a discussão sadia e construtiva dos graves e

O fim da desigualdade de gênero no Judiciário brasileiro: por mais mulheres no STF

O fim da desigualdade de gênero no Judiciário brasileiro: por mais mulheres no STF

A composição do Supremo Tribunal Federal (STF) não é apenas uma questão de escolhas técnicas ou de mérito jurídico. É, também, um reflexo dos valores

Para além da matriz masculina

Para além da matriz masculina

Uma análise crítica da dominância masculina nas estruturas sociopolíticas e a necessidade de reequilibrar os princípios feminino e masculino Intro

Apurar é o melhor caminho

Apurar é o melhor caminho

Na semana passada, o vereador Thiago Tezzari (PSDB) foi afastado do cargo após se tornar alvo de uma investigação do Ministério Público de Rondônia

Gente de Opinião Segunda-feira, 20 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)