Quarta-feira, 31 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

Trump e a tentação constantiniana


António da Cunha Duarte Justo - Gente de Opinião
António da Cunha Duarte Justo

Um artigo recente publicado na plataforma InfoCatólica (1) afirmou que o presidente dos Estados Unidos Donald Trump teria convocado um “Terceiro Concílio de Niceia” para ocorrer em março na cidade turca de Iznik, antiga Niceia, conhecida por sediar o histórico Primeiro Concílio Ecuménico em 325 d.C.

A alegação, baseia-se numa interpretação sensacionalista, porque carece de fontes oficiais verificáveis dado no artigo não terem sido apresentados comunicados da Santa Sé, de líderes ortodoxos ou da Casa Branca confirmando uma convocatória formal de “concílio”, como historicamente se entende no direito canónico católico.

Historicamente, o Concílio de Niceia de 325 foi convocado pelo imperador Constantino num contexto irrepetível. O cristianismo acabara de ser legalizado, a Igreja ainda não possuía a estrutura canónica atual e o imperador via-se como garante da unidade civil e religiosa do Império. Mesmo assim, Constantino não definiu a doutrina: fê-lo o episcopado. A partir da Idade Média, e com maior clareza na modernidade, a Igreja Católica afirmou a sua autonomia face ao poder político. Concílios tal como o Vaticano II só podem ser convocados pelo Papa.

Neste contexto, a ideia de um líder político contemporâneo “convocar” um concílio não pode ser entendida em sentido estrito. O que estará em causa não é um evento eclesial, mas talvez um gesto simbólico: a evocação de Niceia como mito fundador de uma identidade cristã do Ocidente.

Donald Trump tem recorrido com frequência à linguagem religiosa, não como expressão teológica, mas como marcador civilizacional. O cristianismo surge menos como fé e mais como fronteira cultural: aquilo que define “quem somos” contra “quem ameaça”. É uma lógica que encontra eco em setores do nacionalismo cristão norte-americano.

No modelo russo, o Estado e a Igreja Ortodoxa caminham juntos na construção de uma identidade nacional: a fé legitima o poder, e o poder protege a fé, ou, pelo menos, a sua versão oficial. Trata-se de uma simbiose eficaz do ponto de vista político, mas problemática do ponto de vista do Evangelho.

A Igreja Católica, sobretudo após o Vaticano II, desconfia profundamente desse modelo “constantiniano”. A fé perde a sua liberdade profética quando se torna instrumento do poder. O cristianismo deixa de converter consciências para passar a organizar fronteiras.

Mais relevante do que discutir se Trump pode ou não convocar um concílio, algo que, evidentemente, não pode,  é compreender por que o imaginário de Niceia, de Constantino e da cristandade imperial reaparece hoje no discurso político. Num mundo fragmentado e inseguro, a perceção de que, no modelo islâmico, a identificação de religião com política permite a existência de uma comunidade supranacional coesa, a Ummah, pode exercer forte fascínio. Para um líder que se percebe à frente de um “império” em crise de identidade, numa situação que evoca a fragilidade do Império Romano nos tempos de Constantino, a religião tende a ressurgir como instrumento privilegiado de unidade simbólica, alimentando projetos e fantasias de recomposição civilizacional. A luta do nosso tempo desencadeada na Europa por políticas, directrizes e agendas contra o cristianismo parece querer agora moderar a ideologia Woke e o dogmatismo secularista de laivos jacobinos.

O risco é antigo: quando César fala em nome de Deus, Deus acaba por falar com a voz de César.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

 

 

A MÁQUINA DA PROPAGANDA DISFARÇADA

 

O Ecossistema de Influências baseado em Financiamento dos Media, de Narrativas e do Poder na EU

 

... Os recentes financiamentos da UE à RTP e Lusa cifrados em 1,7 € milhões para "projectos de coesão" e "combate à desinformação" revelam apenas a ponta visível de um icebergue muito mais profundo...

Quando uma organização mediática como a RTP e a Lusa depende significativamente de verbas europeias para projetos específicos, desenvolve-se uma autocensura preventiva, porque o que não se alinha com as prioridades de Bruxelas dificilmente recebe atenção ou recursos.

A Fábrica dos "Comentadores Independentes"

Observa-se em Bruxelas um ecossistema de grupos consultores (think tanks), fundações e grupos de peritos que alimentam constantemente os meios de comunicação com "especialistas independentes"...

Em Portugal, este fenómeno replica-se através de comentadores que dominam os painéis televisivos, repetindo narrativas perfeitamente alinhadas com as posições oficiais de Bruxelas sobre temas como a guerra na Ucrânia, as políticas sanitárias ou a integração europeia. A diversidade de perspectivas genuinamente críticas é marginalizada...

A Ditadura do Consenso e o Silenciamento das Dissidências

Cria-se assim uma ditadura do consenso onde posições divergentes são sistematicamente enquadradas como: "Desinformação" quando questionam narrativas oficiais, "Populismo" quando reflectem preocupações populares não alinhadas, "Pró-Rússia" quando criticam políticas da NATO ou da EU...

Da Censura tradicional à Censura digital

Assistimos a uma evolução da censura que passou da censura da PIDE para mecanismos mais sofisticados, ou seja, da repressão clássica para um controlo moderno baseado em financiamentos condicionados a quem se alinha, na descredibilização social enquadrando o crítico como radical ou negacionista  e na colaboração com plataformas digitais que colaboram com governos para limitar discursos "problemáticos" ou que apontam para perspectivas não conformistas...

O Paradoxo Democrático

Este sistema, que se apresenta como defensor da democracia, está a construir um novo autoritarismo tecnocrático. Usa o fantasma do passado para silenciar as críticas ao presente...

Em Portugal, este sistema manifesta-se através do alinhamento automático com posições europeias, da marginalização de visões críticas da EU e da utilização sistemática do fantasma do salazarismo para descredibilizar críticas legítimas ao autoritarismo contemporâneo.

A Verdade na Gaveta

Enquanto se gasta milhões a "combater a desinformação", ignora-se que a maior desinformação pode ser a que vem embrulhada em selos oficiais...

A verdadeira democracia não teme o dissenso, teme apenas o silêncio imposto e a manipulação dos povos que passam a ser meros reprodutores das intenções dos tecnocratas de Bruxelas...

António da Cunha Duarte Justo

Artigo completo em Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=10564

 

VIOLÊNCIA RELIGIOSA CONTRA CRISÃOS NA NIGÉRIA

 

Mais de 200 padres sequestrados desde 2015

 

A Nigéria enfrenta uma crise humanitária silenciosa que atinge diretamente a comunidade católica do país. Segundo dados divulgados pela organização papal "A Igreja em Necessidade", mais de 200 padres católicos foram sequestrados em 41 das 59 dioceses nigerianas desde 2015, num padrão de violência que se intensifica ano após ano.

Do total de 212 sacerdotes raptados, 183 conseguiram ser libertados ou fugir dos seus captores. Contudo, o saldo trágico desta vaga de sequestros inclui doze padres assassinados e três que morreram posteriormente devido às sequências físicas e psicológicas do cativeiro.

Há Dioceses fechadas e comunidades abandonadas

Na diocese de Minna, localizada no estado do Níger, mais de 90 igrejas foram encerradas devido ao terrorismo persistente. Milhares de fiéis viram-se forçados a abandonar as suas práticas religiosas ou a fazê-lo clandestinamente.

 

"Os cristãos são ameaçados especificamente por causa da sua fé", destaca o relatório. No norte do país, grupos jihadistas coordenam ataques sistemáticos contra comunidades cristãs, enquanto no centro da Nigéria, milícias armadas promovem uma violência que mistura motivações religiosas, étnicas e económicas.

Alvos fáceis, resgates lucrativos

... os sacerdotes representam simultaneamente um alvo vulnerável e uma fonte de financiamento lucrativa. As comunidades católicas, na sua solidariedade com os líderes espirituais, mobilizam-se intensamente para reunir os valores exigidos como resgate, alimentando assim um círculo vicioso que financia tanto grupos jihadistas como gangues criminosos.

O relatório denuncia uma "discriminação estrutural contra as comunidades cristãs", sublinhando que estas recebem "quase nenhuma proteção eficaz do Estado" em muitas regiões.

Crianças também na mira

A violência não poupa nem os mais jovens. Em 2025, homens armados raptaram pelo menos 227 alunos e professores de uma escola católica, demonstrando que as instituições educativas religiosas se tornaram igualmente alvos desta estratégia de terror e extorsão.

A comunidade internacional tem sido repetidamente alertada para a situação dos cristãos na Nigéria, mas as respostas concretas permanecem limitadas ou nulas porque, certamente, não é do interesse da política de informação da EU dar relevo a tais informações...

António da Cunha Duarte Justo

Ver artigo completo em Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=10569

Gente de OpiniãoQuarta-feira, 31 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

A voz que não se apaga (1)

A voz que não se apaga (1)

Lisboa, dezembro de 2024. No Parque das Nações, onde a Expo outrora prometeu um mundo sem fronteiras, ergue-se agora um cubo de vidro fumado. Dent

Rocha não está politicamente morto

Rocha não está politicamente morto

Não tenho procuração (nem quero) para defender o governador Marcos Rocha. Acho que já tem muita gente ganhando para fazer isso, mas se você acredita

Mendonça vs. Dino

Mendonça vs. Dino

Está formado o cabo de guerra entre André Mendonça e Flávio Dino, ambos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Mendonça mandou a Polícia Feder

Eterna Natalina Vasconcelos – a mãe que costurava estrelas

Eterna Natalina Vasconcelos – a mãe que costurava estrelas

Dona Natalina casou-se muito cedo, aos 14 anos – costume da época no sertão baiano, onde mocinhas trocavam a infância por lares próprios cheios de s

Gente de Opinião Quarta-feira, 31 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)