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Opinião: Reencontrar a infância


 
João Baptista Herkenhoff

Reencontrar a infância é descobrir o menino que vive dentro de nós. Esse reencontro exige um despojamento. Libertar-se de amarras.

Grilhões nos prendem: agenda, compromissos de mil espécies, coisas a comprar, projetos de “ter”. Ter cada vez mais, como se a vida fosse uma conta-corrente. Mais importante é “ser”: ser falho, ser autêntico, ser pessoa, ser feliz.

Fernando Sabino e Rubem Braga foram sócios numa editora que fundaram e afundaram. Já pelo nome escolhido para a casa – Editora Sabiá, podemos concluir que o projeto era mais poético do que econômico. O sabiá é uma ave especialmente amada pelos poetas: "minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá - as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá" (Gonçalves Dias); "vou voltar para o meu lugar - e é lá - que eu hei de ouvir cantar - uma sabiá" (Chico Buarque).

Fernando Sabino, bem mineiro, estava preocupado com compromissos que se acumulavam sem as competentes providências. Rubem Braga desanuviou a mente do companheiro de aventura editorial: “Desde quando temos de resolver todas as coisas, Fernando”?

O mundo precisa mais de sonho do que de pragmatismo. Esse povo que faz guerra, que joga bomba em cidades matando populações civis, não pertence ao grupo que sonha. Esse povo justifica sua conduta em argumentos pragmáticos.

Estando a caminhar pelas estradas da sétima década, ando à procura da infância que deixei em Cachoeiro de Itapemirim. Convido os leitores que tenham mais de trinta anos a fazer esse mesmo caminho de volta. No itinerário de regresso ao passado, todos nos convenceremos, tenho certeza, de que foi essencial, e não meramente acidental, o conselho de Jesus Cristo para que fôssemos como as criancinhas.

Um dos expedientes que estou usando para reencontrar a infância consiste em estudar alemão. Tenho uma professora particular – Gisele Servare, que me ensina com competência, paciência, didática. As aulas de alemão constituem para mim uma volta à infância. Lembro-me de meu Pai, cuja língua materna era o alemão e que, até morrer, falou português com sotaque germânico. Lembro-me dos acordes e da letra da canção “Noite Feliz”, que eu cantava em alemão e que alegrava, quer em português, quer em alemão, os Natais em nossa casa.

Escrevo esta página olhando para o mar, na Praia da Costa, uma das mais belas do Espírito Santo. Contemplo o mar e novamente volto à infância, recordando os Verões passados em Marataízes, praia localizada no sul capixaba.

Referências de tempo e de espaço são referências existenciais. Nós perdemos o leme da vida quando nos desgarramos do espaço e apagamos as marcas do tempo. Nós nos integramos psicologicamente quando o tempo volta à memória e o espaço da infância revive em nossa retina.


 

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