Quinta-feira, 3 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

Opinião: Partida de golfe no canavial


Bruno Peron

O jogo está armado no Brasil: quem perde, quem ganha e quem arbitra. Nesta partida, aparecem desde as declarações de Fernando Collor de Mello de que mereceria o cargo presidencial de volta por não ter sido provado o motivo de seu impedimento no final de 1992 até os escândalos recentes de corrupção que envolvem o bicheiro Carlinhos Cachoeira e políticos de Goiás. O problema é que os milhões de cidadãos dignos e lutadores pela causa coletiva neste país raramente alcançam ser ao menos jogadores visíveis.

Falemos um pouco das vicissitudes da economia. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, no final de maio de 2012, a informação de que houve uma queda de 0,2% na produção industrial em abril em relação ao mês anterior. O maior efeito sentiu-se nos setores de alimentos, bebidas, e materiais farmacêuticos e hospitalares.

A forte instabilidade cambial do Real frente ao dólar estadunidense turva a previsibilidade e desestimula o hábito do planejamento. As oscilações do câmbio ora são boas para o consumidor brasileiro, ora para o exportador e o comprador de nossos produtos. O governo aplica medidas que evitam variações consideráveis e repentinas no valor de nossa moeda, porém seu resultado não depende só do que o Banco Central faz ou deixa de fazer.

Um país deve administrar bem suas riquezas e dividi-las entre seus habitantes. No entanto, as incertezas - alguns diriam crises - que assolam outros países, como Grécia e Espanha, inspiram nosso Ministério da Fazenda a propor medidas e manobras de estímulo à economia brasileira como se ela fosse o único motor de desenvolvimento do país. Os exemplos mais evidentes da obsessão pelo crescimento econômico, ao longo de maio de 2012, têm sido a redução de impostos para compra de carros, empréstimos e financiamentos. Estas políticas efetivam-se em prejuízo do sonho de um sistema público eficiente de transportes.

O estímulo ao consumo no Brasil tem favorecido grupos empresariais colossais em detrimento da maioria dos brasileiros, que compram a prazo automóveis, casas, aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos. O governo reduziu o Imposto sobre Produtos Industrializados que incide sobre os carros e a taxa básica de juros a fim de incentivar o consumo. A cultura do crédito, porém, é sinônimo de dívida e não de que a economia de um país vai bem.

A economia dos jogadores grandes cresce robustamente enquanto o pequeno empreendedor sente a desvalorização do Real na queda de seu poder de consumo. O governo, neste ínterim, desonera de tributos as grandes indústrias para agraciar nossos cidadãos com a ilusão consumista de que ascendem a uma classe social melhor por ter dois carros em vez de um só.

Embora a competitividade (baixa ou alta) das empresas brasileiras tenha estado na berlinda pela tentativa de o governo desenvolver a economia nacional, uma de suas medidas mais louváveis é a criação de um mecanismo que reduz a chance de formação de oligopólios empresariais. Assim, todo processo de compra ou junção de duas ou mais empresas que tende à concentração ou controle de segmentos do mercado deverá ser aprovado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) desde final de maio de 2012.

É preciso rever, contudo, se o modelo atual de desenvolvimento coaduna com a sustentabilidade ambiental e social que os gestores da economia tanto apregoam. Um possível medidor é o ritmo de devastação ambiental como consequência da expansão da agropecuária, cujo setor da economia tem atendido a um demanda galopante de onde quer que ela venha: do crescimento urbano no interior do Brasil, dos aglomerados da Ásia, de Marte. Enquanto nos restam menos de 10% da Mata Atlântica, fiquemos atentos com a herança funesta que a motosserra tende a deixar noutros biomas. Há mais bocas que precisam de alimentos, casas que precisam de móveis, fábricas que precisam de energia elétrica, etc.

A economia brasileira tem sido a "bola da vez" entre os crentes no clã dos "emergentes". Certas políticas públicas de organização da economia dão a tacada, mas lamentam de não saber se a bola cairá no buraco ou se extraviará durante uma partida de golfe no canavial.

Gente de OpiniãoQuinta-feira, 3 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Votação do IOF expôs fragilidade da base do governo Lula no Congresso

Votação do IOF expôs fragilidade da base do governo Lula no Congresso

Quarta-feira (25), o Congresso impôs mais uma derrota ao governo do presidente Lula derrubando o Decreto que aumentava o IOF. O governo perdeu mais

Roubalheira no INSS -apenas mais um escândalo

Roubalheira no INSS -apenas mais um escândalo

O esquema que desviou bilhões de reais de contas de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) foi apenas mais um

O Congresso é culpa do eleitor

O Congresso é culpa do eleitor

          O Congresso Nacional do Brasil é, óbvio, o Poder Legislativo e é composto por 513 deputados federais e pelos 81 senadores da República. Es

O Eros e a Busca da Integridade: Entre o Mito e o Sagrado

O Eros e a Busca da Integridade: Entre o Mito e o Sagrado

Em Diálogo com Platão, Jung e a Trindade num Contexto do Sexo como Ritual sagrado A humanidade é um rio que corre entre duas margens: a espiritualid

Gente de Opinião Quinta-feira, 3 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)