Domingo, 27 de junho de 2010 - 09h34
Bruno Peron Loureiro
A proclamada "liberdade" é a que permite que alguns países brinquem com nações inteiras como se estivessem jogando pôquer, inclusive com recurso a blefes. Os modos pueris fazem-nos acreditar que, se a partida não acabar bem, basta recolocar as cartas.
O descaso com nações soberanas, ainda que pequenas e islâmicas, é típico de pujantes caras-de-pau, que, no estilo EUAno de achar que governa o mundo, fustigam, por exemplo, o Irã impondo-lhe sanções econômicas deletérias e imprudentes.
A mensagem é cada vez mais clara aos desavisados: ou você está do lado da gangue que controla o mundo - a exemplo do insalubre Conselho de Segurança da ONU - ou você é um inimigo a ser ceifado. Quem suporta tamanhas impertinências nos tempos atuais?
Eis que surgem alguns estadistas para frear essa tendência horripilante de afunilamento do mundo, como Chávez e Lula, que, apesar de falharem como qualquer ser humano, são idôneos e estão munidos de uma assessoria proficiente de relações internacionais e política exterior.
Seguidos das falsidades vêm os fatos moralizadores. Portanto a crítica ao neoliberalismo, a consideração inédita de várias cosmovisões e a atenção a grupos humilhados historicamente na América Latina são fenômenos que alcançam a maior intensidade.
Não se confunda globalização com ocidentalização do mundo. O primeiro é um processo que tem encurtado distâncias, e permitido o contato, a instantaneidade e o intercâmbio entre diferentes, enquanto o segundo é a Doutrina Monroe que não se apaga.
Em reunião recente em Quito, capital do Equador, os chefes de Estado da União de Nações Sul-Americanas continuou o labor na formação de um Parlamento, que reforçaria as instituições deste mecanismo de integração, enquanto se fortalece o Sistema Único de Compensação Regional (SUCRE), cuja moeda tenta substituir o dólar ao menos nas transações dos Bancos Centrais.
Enquanto a atenção mundial desvia-se ao pretenso risco de desenvolvimento de programa nuclear pelo governo iraniano, cujo país abriga riquezas culturais da antiga Pérsia, poucos se incomodam, ao que tudo parece, com que EUA palpite sobre meio mundo.
Pela América Latina se levam as coisas tão a sério que, em temporada de Copa do Mundo, o Brasil para afim de que todos possam assistir aos jogos da Seleção. Comércio e indústria fecham as portas, praticamente todos os lares ligam seus televisores para acompanhar as estrelas futebolísticas correndo no campo. Até quem detesta futebol veste um nacionalismo insólito. Ao longo de boa parte do ano, no entanto, a expressão tupinica é de lamentação.
Pouco se falou de uma manifestação pacífica de sul-africanos que haviam sido contratados temporariamente pela Federação Internacional de Futebol (FIFA), mas foram reprimidos violentamente pelos policiais no país que sedia o campeonato. Aqueles protestavam contra o não cumprimento do acordo salarial da FIFA, que pagou menos que o valor prometido.
Os organizadores tentam ocultar estas atrocidades do evento, que tem uma fonte absurda de arrecadação por conta de bilheteria, publicidade e direitos de transmissão. Não é novidade que a Copa do Mundo é um negócio altamente lucrativo.
O gosto pelo futebol, como o que se pode ter por qualquer esporte, é saudável, mas os corsários gananciosos não enxergam limites. Tudo o que buscam é viver como príncipes às custas de um povo bestializado, dopado pelos seus "craques" e "ídolos".
Neste ínterim e num dos extremos da América Latina, o México é palco de uma guerra sangrenta de e contra o narcotráfico e de ocorrências diárias de genocídios e outros crimes bárbaros de pessoas envolvidas com o tráfico de drogas.
A cultura do dinheiro a qualquer custo, tão própria de tendências "ocidentalizadoras", tem feito vítimas em várias partes do mundo, como o massacrado povo afegão, a mutilada soberania iraquiana e a sentenciada nação iraniana.
Quanta injustiça! Tudo o que fazemos é encher-nos de esperança. Façamos diferente: Comecemos, pela ação, a oferecer negativas aos impostores da evolução humana.
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