Domingo, 7 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

Opinião: O cinema brasileiro contemporâneo


 

Guido Bilharinho


O cinema brasileiro da primeira década do século XXI pauta-se por três características principais: a) desenvolvida infra-estrutura de produção, que inclui aporte técnico atualizado; b) competência diretorial e profissional, abrangendo os elementos que compõem a realização cinematográfica; c) intenção de atingir e conquistar o público, para o que se subordina a atender seus gostos, idiossincrasias e carência cultural.

Os espectadores, com as ínfimas exceções de praxe, buscam no cinema, na música, na televisão, na radiofonia, na produção livresca e em tantos outros segmentos apenas o entretenimento.

As artes, no entanto, não se destinam a divertimento ou passatempo. São artes e como tais devem ser respeitadas e não deturpadas e desviadas de sua finalidade.

 A televisão e o rádio, instrumento vitais da sociedade, não deveriam, como ocorre, restringir-se às atividades meramente comerciais e de entretenimento, a ponto de órgãos públicos terem de organizar e manter, para preencher essa lacuna, emissoras culturais ou universitárias, que, todavia, muitas delas têm-se desviado de seus objetivos institucionais, veiculando programas destituídos de valor artístico e cultural.

Na realidade, tudo o que nesses setores não tenha significação cultural e artística automaticamente constitui sua negação, já que ocupa não só os espaços e os tempos que poderiam (e deveriam) ser destinados à cultura, à arte, à educação e à instrução, únicas formas e maneiras de elevação e aprimoramento do ser humano, como ainda injeta e inocula na sociedade o vírus anti-cultural, mantendo a população não só alheia mas até mesmo infensa e hostil aos aspectos culturais e artísticos da civilização e condicionada a só aceitar e entender as anódinas produções que veiculam ou promovem.

Dado isso, que é axiomático e facilmente constatável, tais sua incidência e abrangência, é de se ressalvar, no caso especifico do cinema brasileiro atual, que mesmo no setor de produção comercial há distintos níveis de qualidade, em que inúmeros filmes, mesmo não tendo importância cultural e artística, não sendo, portanto, autorais, salientam-se por seu melhor acabamento e pela maior competência profissional dos diretores.

Os melhores deles são profissionalmente eficientes, tecnicamente eficazes, alcançando também, no que se refere à seleção, direção e interpretação dos atores, níveis de excelência. A linguagem é vigorosa, a narrativa bem concatenada, as estórias interessantes e apresentadas por meio de lances e acontecimentos selecionados.

Todos esses e outros requisitos, no entanto, não têm, em si, face ao tratamento que lhes é dado, valor cultural e estético e nem indicam autoria, mas, capacidade e tirocínio técnico-profissional. Compõem a base, o alicerce sobre o qual se deve erguer a obra artística, o que, com raras exceções, não se vem efetivando.

As tramas, seu conteúdo e diálogos são despidos de sentido de criação e de análise comportamental, interessando à produção somente acontecimentos inusitados a fim de lhes explorar os aspectos singulares e mesmo extravagantes, para ofertá-los como atrativos ao desfrute do espectador condicionado a absorver e se contentar apenas com a ação, nunca com o sentido e o significado, dispensada também, nesse fazer e usufruir, toda sutileza relacional.

A estória, neles, constitui instrumento para agrado do público, cujo nível intelectual e cultural não ultrapassa os limites do interessante, do chocante, quando não do escandaloso, do exótico e do espetáculo, não conseguindo acompanhar e entender a narrativa que não seja linear, convencional e superficial atrativamente embalada em coloridas imagens de cartão postal.

______________________

Guido Bilharinho é advogado em Uberaba, ex-candidato ao Senado Federal, ex- editor da revista internacional de poesia Dimensão e autor de livros de literatura, cinema e história regional.

 

Gente de OpiniãoDomingo, 7 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

A política do tempo dos coronéis

A política do tempo dos coronéis

Tem gente que acha que basta o presidente da República, o governador ou o prefeito escolher seu sucessor e todo mundo vai votar no seu candidato. Is

Desrespeito a Porto Velho

Desrespeito a Porto Velho

Não tem prefeito que dê conta de resolver os problemas da cidade que administra se os habitantes não colaborarem.  Não se pode negar que Léo Moraes es

Os títulos podres do Master

Os títulos podres do Master

O Banco Master, do senhor Daniel Vorcaro, está no centro de uma crise financeira. Tudo indica que houve gestão fraudulenta. O Master oferecia taxas

Transporte Público Gratuito: 78 bilhões no colo do setor produtivo

Transporte Público Gratuito: 78 bilhões no colo do setor produtivo

O Governo não para de criar propostas mirabolantes para agradar o eleitorado com políticas assistencialista e prepara, mas uma festa. O “bolo”, poré

Gente de Opinião Domingo, 7 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)