Sábado, 8 de setembro de 2012 - 16h15
Não resta dúvida de que a sociedade brasileira está saturada já há muito tempo desse modelo de campanhas eleitorais de promessas vazias, de mundos e fundos, que todos sabem que não serão cumpridas e que todos esquecem rapidamente. Mas existe um vício de dupla mão: se o candidato não promete e mostra projetos realizáveis apenas, não será eleito, se faz as promessas mirabolantes sabendo que não cumprirá. Já o eleitor vota nos gurus para, depois de consolidados nos postos, alegar que fora enganado pelas promessas.
Se não me falha a memória de cidadão, a atual presidenta da República prometeu a construção de dois milhões de moradias no seu mandato. No fim desse ano já transcorreu metade dele e não se tem notícia se um milhão já foi entregue. Em sã consciência, quem votou com base nessa promessa, não se deu conta da sua inviabilidade porque não quis.
Apesar de o histórico ser antigo entre o “tudo que será feito” e o quase nada realizado, o eleitor continua com esse fingimento de se fazer enganar. Antes, as críticas eram atribuídas às compras diretas em rincões do Brasil. Algumas condutas tornaram-se clichês que hoje se virariam verdadeiros memes na internet. O mais destacado seria a tal da dentadura em duas metades, uma antes e outra depois da eleição. O par de sapatos entregue nas mesmas condições seria outro, pé direito para garantia, pé esquerdo depois de confirmado o voto.
Existe um inconsciente coletivo em todo o país de que somos uns pobres coitados, vítimas eternas dos políticos, gestores, e até dos pretendentes a esses cargos. Compra e venda de votos todos têm um conhecimento empírico dessa prática. Como tudo que é ilegal, ninguém passa recibo, e quando entrega não vem com a indicação da mercadoria correta. Negócios de compra e venda no andar de cima são mais velados, porém de resultados mais concretos. Nos meios políticos, essa negociação recebe o nome de apoio, de base aliada, de governabilidade. É aceita como legal e legitimamente por todos.
Não resta dúvida de que as pessoas precisam se apresentar ao público em geral, nem todos são conhecidos o suficiente para se eleger a algum cargo. Mas o modelo de campanhas está por demais saturado. A maioria defende causas genéricas e redundantes, porque ninguém em sã consciência seria contra, mas poucos têm alguma ideia inovadora. Sou João da Silva lutarei pela “pela educação de qualidade”; sou Zé da Perua, defenderei as causas dos perueiros. Assim se dissemina a cultura de falar bobagens com base na nas pesquisas de que elas alcançam público e votos. Poderiam ao menos colocar alguma informação de interesse geral nos baners, nas bandeirolas, nos pronunciamentos no rádio e na televisão. Reforçar a necessidade do exame de toque, da consulta ginecológica, aos pais para levarem as crianças ao dentista, além de tantas outras.
Como os exageros estão presentes em todas as ações humanas, algumas campanhas são recheadas de abusos linguísticos, do poder econômico e algumas chegam ao cometimento de eventuais crimes, amparadas sempre no binômio necessidade do eleitor e poder econômico do candidato. Meu amigo Glauco Rodrigues da Conceição, morador de Caieiras, Grande São Paulo, tem especial aversão às campanhas eleitorais envoltas na exploração de crianças e repassa toda notícia de que tenha conhecimento. As mais recentes foram comentários de moradores da vizinha Franco da Rocha de que o atual vice e candidato a prefeito estaria se utilizando de um programa de entrega de leite para angariar votos, conduta semelhante à ocorrida na capital, onde santinhos de candidatos teriam sido entregues junto às caixas de leite em pó.
Certo mesmo é que as campanhas nesse padrão existem pela mesma razão que as baixarias na televisão: muita gente aceita e dá retorno. Assim como só o traficante é execrado - eles são crias dos usuários, também só existe o explorador e comprador de voto porque tem uma vasta clientela faminta de benesses e favores. Apesar desse argumento para pôr pingo nos is, estou com o Glauco, porque isso não retira a legitimidade do combate permanente. Da mesma maneira que se combate a morte mesmo com a certeza da derrota.
Fonte: Pedro Cardoso da Costa Bacharel em direito
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