Quarta-feira, 29 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

Opinião: Indicadores de segurança pública


Bruno Peron

O brasileiro sente insegurança. O sintoma mais evidente de que a trivialidade virou naturalidade é quando nos trancafiamos em casa com cercas elétricas, muros altos e câmeras de vigilância, evitamos andar nas ruas à noite, e olhamos nosso semelhante com desconfiança. A quantificação deste estado de insegurança, porém, é mais difícil de fazer porque depende de pesquisas que se orientem com perguntas criteriosas.

Uma delas é a pesquisa quantitativa mais recente sobre o Sistema de Indicadores de Percepção Social do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) divulgada em 5 de julho de 2012. Pessoas de todos os estados brasileiros participaram das entrevistas, que avaliam o componente psicológico do medo através da vulnerabilidade a assalto, assassinato, agressão física e arrombamento residencial.

Alguns dados desta pesquisa realçam a gravidade do estado psicológico da população. 73,4% dos entrevistados da região Nordeste disseram sentir muito medo de assalto à mão armada, enquanto a maior percentagem (18,5%) dos que não sentem nenhum medo reside no Sul. O contraste entre as regiões Nordeste e Sul aparece novamente onde, respectivamente, 71,7% e 29,5% sentem muito medo de sofrer algum tipo de agressão em vias públicas.

A mesma pesquisa complementa, num de seus indicadores, que a sociedade tem pouca confiança nos agentes e nas instituições responsáveis pela manutenção da segurança pública. A pesquisa sugere que - e esta é minha interpretação - as políticas do setor não sustentam nem retroalimentam um convívio solidário nos espaços públicos. Em vez disso, tornam-se fatores de intensificação da sensação de medo e de perda de credibilidade institucional.

A Tabela 6 ['Confiança nas instituições policiais (Brasil)'] do relatório da pesquisa mostra que a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal receberam os maiores votos, respectivamente 10,5% e 8,9%, de quem confia muito nestas instituições. Avaliaram-se quatro delas: Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal.

Um fator importante na aferição da qualidade das instituições de segurança pública é o grau de informação que os cidadãos possuem sobre seus direitos e deveres. Quanto mais se conhecem os atributos e os limites dos agentes de segurança pública, mais se pode cobrar que cumpram sua função e maior a confiança resultante desta interação.

Muitas vezes, há desconhecimento sobre quem deve interceder numa ocorrência e conduzir as investigações, como sobre porte, consumo e tráfico de narcóticos. Noutras, a falta de prudência no exercício da função policial estabelece relações hierárquicas e preconceituosas com os civis. Há que mencionar que cidadãos também desrespeitam agentes de segurança pública.

A disfunção do sistema brasileiro de segurança pública não se resolve sem auscultar os conflitos da sociedade a fim de propor medidas que os articulem respeitosa em vez de temerosamente. Esta articulação poderá ocorrer pelo aproveitamento de oportunidades de viver dignamente, um papel mais esclarecedor e conscientizador dos meios de comunicação, e a reprodução de formas culturais de respeito às diferenças.

É de bom augúrio que a nossa modernidade não se tenha realizado plenamente porque temos a chance de conferir-lhe um caminho mais lúcido e mais respeitoso às diferenças que o das nações dominadoras que o mundo conheceu. Será também uma modernização onde o ter não será mais importante que o ser. Podemos ainda ajustar o molde do tipo de país que queremos: onde permanece o medo de agressões ou onde prevalece o sentimento de paz.
 

Gente de OpiniãoQuarta-feira, 29 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Os Estados Unidos do Brasil

Os Estados Unidos do Brasil

          “Os países não têm amigos nem inimigos. Os países têm interesses”. Essa frase antológica do ex-primeiro ministro britânico Winston Churchi

Por que Hildon teria desistido de disputar o governo de Rondônia?

Por que Hildon teria desistido de disputar o governo de Rondônia?

Hildon Chaves deixou a prefeitura de Porto Velho, após dois mandatos, com quase 80% de aceitação popular, uma cifra alcançada por poucos. Acho que s

A história das três moradas

A história das três moradas

Uma Narrativa sobre a Unidade Trinitária do SerHavia um tempo antes do tempo, quando tudo ainda era pura possibilidade suspensa sem forma, vazio em si

Gente de Opinião Quarta-feira, 29 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)