Domingo, 20 de fevereiro de 2011 - 20h20
Em 25 de janeiro de 2011 o noticiário brasileiro começou a mostrar as reuniões na praça Tahrir do Cairo que desencadearam na queda do presidente do Egito Hosni Mubarak depois de trinta anos no poder.
Esse tipo de manifestações reivindicatórias começa tímido, mas pode atingir magnitude de derrubar governos. Começam por movimentos menores para convencimento ao povo da necessidade de mudança. Sobre essas iniciativas não houve noticiário nem antes nem depois de iniciada a grande Intifada.
Na tentativa de perpetuar-se no poder, o governo cortou a internet, colocou tanques nas ruas, bateu em jornalistas estrangeiros e nos lcoais supostamente contrários; massacrou os manifestantes contrários, colocou as pessoas para brigarem entre si, os chamados favoráveis e os contra. Nada lhe salvou o mandato, pela simples razão levada ao pé da letra, de que mandato é sempre exercido por delegação do povo, que derrubou este governo e derrubará a todos, quando os titulares não contarem mais com a sua confiança.
A solidariedade crescia de forma proporcional ao crescimento da repressão policial. Essa persistência forçou países aliados tradicionais a mudarem de lado. Antes, os Estados Unidos nunca disseram um “a” contra o regime de governo do Egito. Estes países ficaram neutros, mas não resistiram a força da população, ainda que de forma muito cautelosa.
Na História da humanidade, em todos os movimentos sociais reivindicatórios pessoas sempre foram e são assassinadas. No Egito, a Organização das Nações Unidas – ONU estimou numas 300 pessoas mortas, número que nunca se chega à exatidão. Por qualquer ótica é um número muito alto mesmo. Nenhum número de assassinato deve ser considerado normal. Mas no Egito morreram trezentas pessoas por uma causa definida, enquanto por aqui, numa semana, morre mais gente apenas pelos assaltos.
Como uma bola de neve, as manifestações dos egípcios irradiaram-se por vários países árabes. Para conseguirem também derrubar os respectivos governos, todos os outros povos devem ter a mesma força dos egípcios e não se intimidarem com as repressões policiais violentas. Elas vão existir, os árabes vão resistir e os governos vão cair um a um. E a onda precisa se estender para todo o mundo, e governos da Venezuela, Bolívia e até o de Cuba, que coloquem as barbas de molho.
Para estes protestos a ONU precisa definir um limite de danos inevitáveis, assim como definiu em até doze assassinatos-ano por cem mil habitantes como aceitável ou tolerável para as grandes cidades. Não se sabe os critérios utilizados, mas a ONU precisa acabar com esse índice, já que assassinato não deve ter nenhum índice aceitável, seja qual for. Que se utilize a expressão inevitável. E aí que se defina também um índice para os danos inevitáveis em manifestações de protesto.
Não se pode é apregoar que o povo lute, mas que não cause prejuízo a terceiros, que não se risque um patrimônio público, que não se insurjam contra autoridades, pois se não tiver nada disso, pode ser tudo, menos protesto. Sem nenhuma dessas ações, ainda que o Brasil inteiro vá às ruas, o resultado obtido seria zero. É algo difícil de ser defendido. Mas deve haver uma associação entre protesto e algum acontecimento inevitável.
Do contrário, que a mídia coloque nos governos a responsabilidade de manterem seus serviços e ações satisfatórias como meio de desmoralizar qualquer protesto. Caso contrário, que parem de dizer que pode haver protesto sem nenhum dano. Não se faz uma omelete sem quebrar ovos. Que a luta dos egípcios sirva de lição a tão acomodada população brasileira. E que os ventos de manifestações decisivas no Oriente Médio cheguem logo à América Latina e mostre a certeza de que os governos podem até controlar a mídia e a internet, mas seguram o povo.
Fonte: Pedro Cardoso da Costa
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