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O Natal e a manjedoura


O Natal e a manjedoura  - Gente de Opinião

Dom Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro

O Mistério da Encarnação, do Nascimento de Jesus deve ser uma fonte de reflexão para nós neste tempo natalino. Tomamos por base algumas reflexões de Santo Afonso Maria de Ligório:

“Consideremos como o Pai eterno disse ao Menino Jesus no instante de sua concepção estas palavras: Filho, eu te dei ao mundo como luz e vida das gentes, para que busques sua salvação, que estimo tanto como se fosse a minha. É necessário, pois, que te empenhes completamente em benefício dos homens. "Dado completamente aos homens, e inteiramente entregue as suas necessidades". É necessário que ao nascer padeças extrema pobreza, para que o homem se enriqueça; é necessário que sejas vendido como escravo, para que o homem seja livre; é necessário que, como escravo, sejas açoitado e crucificado, para pagar à minha justiça a pena devida pelos homens; é necessário que sacrifiques sangue e vida, para livrar o homem da morte eterna. Fica sabendo, enfim, que já não és teu, mas do homem. Pois um filho lhes nasceu, e um menino lhes foi dado. Assim, amado Filho meu, o homem voltará a amar-me, a ser meu, vendo que te dou inteiramente a ele, meu Filho Unigênito, e que já não me resta mais o que lhe possa dar.”

Neste mês de dezembro sinta-se convidado a olhar para a manjedoura, para a humildade e fragilidade da criança que, entre palhas, demonstra a loucura do Amor de Deus em busca do coração do homem.

Diante da Manjedoura ficamos estupefatos por causa do mistério de Amor. Esse espanto logo se torna encanto e em seguida leva à paixão. Esse olhar, essa contemplação, essa percepção de uma realidade amorosa contagia a todos.
A Espiritualidade da Manjedoura é, na verdade, um grande convite: Não perceber na vida um outro sentido senão fazer de tudo para corresponder tamanho amor. O mistério da encarnação de Jesus é o início de um caminho concreto, palpável, inserido na história humana, iniciado por Deus para entrar em comunhão de amor com o ser humano.

O despojamento do Cristo, tomando a condição de servo (Fl 2,7), quer nos ajudar a celebrar bem o Natal num mundo onde, influenciados por tantas ideias e realidades, os homens e mulheres nem sempre percebem a grandeza do amor de Deus expresso na encarnação do Verbo Eterno que, tomando nossa condição, faz-se pobre, necessitado da atenção e do carinho humano. Deus se assemelha a nós, torna-se impotente em tudo, exceto na capacidade de amar.

O Natal ilumina a nossa vida. “Hoje uma grande luz desceu sobre a Terra”. A Luz de Cristo é portadora de paz. Na Missa da Meia Noite, a liturgia eucarística inicia precisamente com este canto: “Hoje desceu do Céu sobre nós a verdadeira paz” (Antífona de Entrada). Só a grande luz vinda de Cristo pode dar aos homens a verdadeira paz: eis porque cada geração é chamada a acolhê-la, a acolher a Deus que em Belém Se fez um de nós.  Isto é o Natal!
Acontecimento histórico e mistério de amor que, há mais de dois mil anos, interpela os homens e as mulheres de cada época e lugar. É o dia santo em que brilha a grande luz de Cristo, portadora de paz! Certamente, para reconhecê-la, para acolhê-la, é preciso fé, é preciso humildade. A humildade de Maria, que acreditou na palavra do Senhor e foi a primeira que, inclinada sobre a manjedoura, adorou o Fruto do seu ventre; a humildade de José, homem justo, que teve a coragem da fé e preferiu obedecer a Deus; a humildade dos pastores, dos pobres e anônimos pastores, que acolheram o anúncio do mensageiro celeste e às pressas foram à gruta onde encontraram o Menino recém-nascido e, cheios de maravilha, O adoraram, louvando a Deus (cf. Lc 2,15-20).

Na criança da manjedoura está a manifestação plena do Amor Divino pela humanidade: o Presépio (a manjedoura) juntamente com a Cruz e o Santíssimo Sacramento revelam o aniquilamento (Kénosis) de Cristo, que começou na encarnação e não termina jamais, porque continua em cada Eucaristia.

Celebremos o Natal! Celebremos a Encarnação!
 

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