Domingo, 19 de outubro de 2025 - 08h15
A composição do Supremo Tribunal Federal (STF) não é apenas uma questão
de escolhas técnicas ou de mérito jurídico. É, também, um reflexo dos valores
constitucionais de igualdade, de representatividade e de democracia. Num País
em que as mulheres são a maioria da população, a sub-representação nos espaços
de poder não é mais aceitável.
Por isso, a indicação por parte do presidente da República, Luiz Inácio
Lula da Silva (PT), de uma mulher para a vaga do ministro Luís Roberto Barroso,
que se aposentou, não apenas seria um gesto simbólico, mas, sobretudo, a
correção de desigualdades históricas e um imperativo constitucional e ético
alinhado aos compromissos assumidos pelo Brasil no cenário internacional.
A Constituição Federal de 1988 impôs critérios para a nomeação de
ministros da Alta Corte: idade mínima de 35 anos, notável saber jurídico,
reputação ilibada e a aprovação por parte do Senado Federal. Porém, não basta
atender à formalidade de tal regramento. É preciso que as escolhas políticas
vão ao encontro das necessidades da sociedade brasileira e de suas demandas por
mais inclusão.
Mas o que justifica, em pleno 2025, o apelo tão urgente por mais
mulheres no STF? Os números falam por si. Em 132 anos de história, o Supremo
contou com apenas três mulheres entre seus ministros: Ellen Gracie, Carmen
Lúcia e Rosa Weber. Nos tribunais superiores, apenas 17% das vagas são ocupadas
por mulheres, enquanto nos cargos inferiores do Judiciário representamos cerca
de 37%.
O Brasil tem inúmeras juristas altamente qualificadas para ocuparem tal
espaço. Contudo, mesmo insignes no saber jurídico e com carreiras elogiáveis,
suas trajetórias, muitas vezes, não encontram as mesmas oportunidades
concedidas aos homens.
Um exemplo claro e inspirador de mérito inquestionável é a ministra
Maria Elizabeth Rocha, atual presidente do Superior Tribunal Militar (STM).
Doutora em Direito Constitucional, ela representa a excelência acadêmica e a
profunda compreensão dos princípios fundamentais que o STF tanto necessita.
Carisma, humanidade, eficiência e altruísmo são sua essência. Autora de
dezenas de livros e de artigos, Maria Elizabeth se destaca, sobretudo, por sua
gestão voltada à equidade. Em seu Gabinete, lotou uma equipe que reflete a
diversidade do Brasil, com mulheres pretas, neurodivergentes, pessoas idosas,
representantes da comunidade indígena e mulheres trans.
Tal composição não é um mero detalhe; é a expressão máxima de um mandato
democrático e inclusivo, impulsionado pelo inovador Observatório Pró-Equidade
da Justiça Militar da União, que a jurista, corajosamente, inaugurou e
estabeleceu.
A nomeação de uma mulher para o STF, portanto, não é uma concessão ou
uma agenda vazia; é a concretização de um compromisso com a isonomia e com os
Direitos Humanos. É dizer à sociedade brasileira e aos jovens profissionais da
carreira de advogado, que há lugar para todos no mais Alto Tribunal do País.
Isto será a reafirmação de que o Brasil está disposto a honrar seus
princípios constitucionais e consolidar um Judiciário que dialogue
autenticamente com a diversidade da sociedade que representa.
Por fim, que Lula escolha bem, desde que escolha uma mulher.
*Dra. Celeste Leite dos Santos é promotora de
Justiça em Último Grau do Colégio Recursal do Ministério Público (MP) de São
Paulo; doutora em Direito Civil; mestre em Direito Penal; presidente do
Instituto Brasileiro de Atenção Integral à Vítima (Pró-Vítima); idealizadora do
Estatuto da Vítima; e coordenadora científica da Revista Internacional de
Vitimologia e Justiça Restaurativa
*Dra. Camila Rufato Duarte é advogada, especialista
em Direitos das Mulheres, e em Direito do Trabalho; fundadora do Direito Dela;
palestrante e consultora nas áreas de Direitos das Mulheres, Diversidade, e
Prevenção ao Assédio; capacitadora da Federação das Indústrias do Estado de
Minas Gerais (FIEMG); membro do Compliance Women Committee; e coordenadora de
Comunicação da Aliança pelas Mulheres Br.
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