Quarta-feira, 19 de novembro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

O espelho irrefletido do trânsito


 
Gabriel Bocorny Guidotti
Jornalista e escritor
Porto Alegre – RS (Brasil)

------------------------------

Os seres humanos e os carros têm muito em comum. Ambos necessitam constante manutenção para resistir ao futuro, de modo que um auxilia o outro. Sem pessoas, a roda sequer existiria. Sem carros, nossa sociedade estaria em patamar mais rudimentar. A velocidade é essencial ao desenvolvimento. E foi assim, explorando espaços, criando ruas e estradas, que nossa espécie chegou aonde chegou.

No trânsito e na sociedade, existem regras que regulam condutas. Em um cruzamento, por exemplo, você pode aguardar uma oportunidade para avançar sem atrapalhar motoristas que dirigem na pista perpendicular. Ou, simplesmente, você pode acelerar e trancar a rua, estendendo ao seu carro a sua incivilidade. Mas há exemplos mais claros nas relações humanas. Sabe aqueles colegas instáveis e chefes carrascos? Eis os cruzamentos trancados da vida.

O trânsito pode demorar a fluir, deixando o motorista frustrado. Para planos ousados, o mesmo acontece com os indivíduos, sobretudo quando a ansiedade atrapalha o alcance de objetivos. Nós e os carros somos incrivelmente parecidos. A chuva bate em nossa carapaça e necessitamos de combustível – oleoso ou alimentício – para sobreviver. Uma noite – na garagem ou na cama – nos recupera para o dia seguinte.

Mas então acontece um acidente, um terrível acidente. Aí se difere a racionalidade humana da submissão veicular. Só quem pode causar um sinistro é o homem, que exerce controle sobre a máquina. Um farol queimado, por exemplo, pode matar. A sonolência ao volante também. O álcool só faz bem aos carros, colocando-os a andar. Para os motoristas, a mistura de bebida e direção é o primeiro passo para grandes arrependimentos.

Em acidentes, pessoas e carros viram um só. Não há diferenciação entre carne e metal. Mas o carro possui uma particularidade: não haverá lamentação, afinal, ele não tem vida e pode ser reaproveitado em um ferro-velho. Inexiste segunda chance para o ser humano. O choro dos familiares não conseguirá trazer o falecido de volta. Em suma, nossa sociedade selvagem encontra respaldo no trânsito. Um espelho irrefletido de máquinas e pessoas.
 

Gente de OpiniãoQuarta-feira, 19 de novembro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Proposta polêmica

Proposta polêmica

Na semana passada, uma vereadora de Porto Velho foi alvo preferencial de críticas ácidas nas redes sociais. Ela teria proposto um projeto de lei res

Rondônia? Só com passaporte!

Rondônia? Só com passaporte!

O artigo 1° da Constituição Federal de 1988 diz que o Brasil é uma República Federativa formada pela união indissolúvel dos Estados, dos Municípios

Porto Velho: saneamento não é luxo, é começo de conversa

Porto Velho: saneamento não é luxo, é começo de conversa

Porto Velho não precisa de varinha mágica; precisa de encanamento. De ralo que funciona, de rua que não vira igarapé, de torneira que não falha. Ent

17 de novembro: 75 anos de brasilidade deste jurista, homenagens a Vasco Vasconcelos e Luiz Gama, ícones da luta contra a escravidão e maior respeito à dignidade humana

17 de novembro: 75 anos de brasilidade deste jurista, homenagens a Vasco Vasconcelos e Luiz Gama, ícones da luta contra a escravidão e maior respeito à dignidade humana

No dia 17 de novembro celebram-se 75 anos de brasilidade, deste jurista,  data que também convida à reflexão sobre a trajetória de grandes juristas ba

Gente de Opinião Quarta-feira, 19 de novembro de 2025 | Porto Velho (RO)