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O Enem e o Brasil da desigualdade


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Como querer que a pequena escola perdida na selva acriana possa ter seus alunos submetidos aos mesmos valores exigidos de colégios de centros maiores e melhor aquinhoados? Classificada em último lugar dentre as milhares de escolas que participaram do Enem aquela escola mostrou a brutal realidade do ensino brasileiro.

Não é preciso ir tão longe. A melhor escola de Rondônia ficou este ano acima do 600º lugar. Mas é um colégio apontado pela maioria de quem entende do assunto como uma espécie de “top de linha” no Estado, e aqui não vai qualquer crítica se ali há toda uma estrutura capaz de melhor qualificar seus alunos. Então ali havia a exigência de conseguir a melhor qualificação possível.

Do outro lado as escolas públicas,onde professores são obrigados a trabalhar em condições mais que precárias – o que vai do desestímulo salarial ao medo deles de avaliarem um aluno ou, então, à falta de segurança para eles e seus alunos.

Não dá para comparar. Então como fazer num país de situações tão díspares, para que em próximos Enem se faça um pouco de justiça com estudantes que muitas vezes vão para as escolas sem nem saberem se poderão voltar no dia seguinte, porque lhes falta de tudo, desde ambiente familiar, passando pela insegurança na ida-vinda ao colégio até à necessidade de trabalhar e transformar o estudo, que lhes é fundamental para a vida futura num apêndice descartável ante a obrigação, muitas vezes, de gerar meios para comer e pagar as contas de casa.

Qualquer pedagogo mediano sabe bem que muitas vezes o resultado obtido por um aluno é gerado pelo ambiente que ele vive: em casa, no nível cultural de seus pais, na alimentação, nos meios que tenha para fazer seus trabalhos escolares, numa escola que seja atrativa e capaz de oferecer condições reais ao processo ensino-aprendizagem, e por aí afora.

Há uma diferença imensa entre as escolas brasileiras, às vezes até mesmo entre as públicas. Qual o mérito que têm colégios particulares que ficaram na “crista da onda” ao final do Enem, considerando os meios que usam, as condições que oferecem, o nível econômico dos alunos, enfim, somatórios que só levam a um raciocínio: a melhor classificação é obrigação.

Mas elas não têm qualquer culpa se o sistema público de ensino brasileiro é ruim, onde ao contrário do que seria ideal as exceções – boas classificações – estão bem longe da regra geral, que as coloca sempre distante das melhores por uma imensa quantidade de fatores que, muitas vezes, não deveria servir de desculpas, mas que espelham a realidade que a prova do Enem, ano a ano, desnuda sem que haja qualquer proposta real de mudança.

Talvez o dístico “Pátria Educadora”, como tantos outros, seja apenas mais uma peça de discurso fácil de conquistar aplausos quando o assunto seja Educação. E, pelo visto, não mais que isso.

Considere-se dito!

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