Segunda-feira, 14 de março de 2011 - 20h49
Por Ernande Segismundo (*)
Conheci Ely Bezerra Sales ainda garoto e sua família do bairro do Areal. Participou de um movimento juvenil católico salesiano denominado ‘Amigos de Domingos Sávio’, do qual eu era monitor no Colégio Dom Bosco em fins da década de setenta passada. Seus pais, católicos militantes fervorosos foram seus guias espirituais e exemplos de decência e caráter. Passado algum tempo participamos juntos de grupos de jovens da Igreja e depois perdi contado com ele.
Ao retornar formado da Faculdade em Goiânia em 1990 reencontrei Ely Bezerra no movimento sindical, nas movimentações da CUT e, finalmente, nas fileiras do PT, onde partilhamos lutas e sonhos.
No PT Ely sempre foi um militante altivo e valente, daqueles que não media esforço para nada e não era de enjeitar missões, sempre animado, brincalhão e disposto a dar alguns passos em qualquer salão que tocasse um bom brega, mesmo que fosse em qualquer boteco da beira da 421 ou 429 nos intervalos das jornadas enlameadas ou empoeiradas que fazíamos achando graça.
Nas eleições de 2010 Ely Bezerra participou da direção política e operacional da campanha do nosso companheiro, amigo e irmão Eduardo Valverde ao Governo do Estado e diante da desavergonhada sabotagem do fogo amigo e dos iterativos e desbragados golpes desferidos pelo mesmo fogo amigo contra a campanha de Valverde, Ely Bezerra ficava aturdido e se queixava com Eduardo, exigindo algo como chutar o pau da barraca ante tanta sacanagem. Valverde, do alto da sua peculiar e inabalável serenidade, já plenamente consciente de que aquela jornada não teria volta e deveria seguir silenciosamente para o sacrifício, sempre dizia: ‘o bom cabrito é aquele que não berra’.
Ely Bezerra era assim, um bom cabrito que não berrava nunca. Quando convocado para assumir a Secretaria de Organização do Diretório Regional do PT não vacilou, mesmo acumulando as tarefas com a de Secretário Adjunto do Desenvolvimento Socioeconômico da Prefeitura Municipal de Porto Velho, topou a parada e por absoluta ironia do destino, a 364 ceifou-lhe a vida na sua primeira missão como membro da Executiva Estadual do PT.
Ely Bezerra faleceu em plena luta, em pleno campo da sua batalha pacífica e festiva e por isto mesmo é mártir. Mártir das causas mais nobres da classe trabalhadora rondoniense e das lutas civilizatórias da nossa sociedade.
Já meu nobre companheiro, amigo e irmão Eduardo Valverde, este era um iceberg de titânio de ética política, de decência e de caráter. Digo iceberg porque Valverde era um bloco de água doce flutuando no alto mar da indignidade e da incoerência, de cujo conteúdo a sociedade rondoniense conhecia não mais que 10%.
Valverde tinha algo de Manelão e um pouco de Paulo Queiróz outros dois monstros sagrados do nosso imaginário coletivo que nos deixaram recentemente. Como já dito e repetido inúmeras vezes nas centenas de comentários postados nas matérias eletrônicas, Valverde era de uma radicalidade comovente no trato da moralidade e da ética pública, por isso posso afirmar categoricamente nesta oportunidade para aqueles que ainda não sabem: Eduardo Valverde Araújo, assim como Fátima Cleide Rodrigues da Silva, nunca embolsou para consumo próprio um microcentavo de suas emendas parlamentares liberadas para prefeituras ou quem quer que fosse, nos oito anos de parlamento federal.
Não haveria nada de mais nisso – essa era a sua obrigação, dirão alguns - não fosse a existência de uma prática criminosa institucionalizada no País que é o “mercado negro das emendas parlamentares” e são raríssimos aqueles que não chafurdam nesse latente lamaçal que todos fingem não ver mas sabem que existe. Deputado estadual, federal e senador – via de regra – não faz emenda, vende a 10, 20, 30, 40 e até 50% do que se libera. Este é o preço do atraso ignaro do nosso País.
Em 2001 Valverde venceu a prévia do PT que disputou com José Neumar (foto) para o Governo do Estado. No início de 2002 iniciamos conversações com o PDT de Acir Gurgacz para uma aliança branca para o Governo, depois de estabelecermos que nosso objetivo naquele pleito seria o parlamento. Eduardo na oportunidade não queria mais abrir mão da candidatura própria, já havia tomado gosto pela coisa. Depois de muitíssimas reuniões e debates, conseguimos convencê-lo da estratégia e ele cedeu. Depois foram outras muitíssimas reuniões e debates para convencê-lo a sair candidato a deputado federal e nos últimos minutos da última hora do último dia de prazo, ele cedeu novamente e aceitou a candidatura de deputado federal.
Mas quando dissemos a ele que tínhamos negociado com o PDT uma estrutura especial para a sua candidatura, como puxadora de votos para a chapa, como alguns veículos, combustível, pessoal de apoio e material gráfico, ele radicalizou novamente e disse: “Se é para aceitar qualquer privilégio em relação aos demais companheiros da chapa desisto da candidatura imediatamente”.
Certa vez almoçamos juntos no restaurante do último andar do Anexo IV da Câmara dos Deputados. Ao nos dirigir para seu Gabinete, Valverde tirou o extrato de sua conta bancária em um caixa eletrônico. Ao chegar ao Gabinete lá estava o seu contracheque de deputado federal. Ele abriu e me mostrou o extrato, com saldo de cerca de R$ 35 mil negativos e o contracheque, de cerca de R$ 12 mil na época. Ele disse então com sua assustadora tranqüilidade: “Bem, agora só devo R$ 23 mil.”
Valverde era um eterno endividado e um dos seus grandes defeitos era a absoluta incapacidade de dizer ‘não’ a quem quer que lhe pedisse qualquer tipo de ajuda decente.
Registro, no entanto, que esse bloco de altruísmo que lhe era peculiar, Valverde herdou de outros tantos companheiros petistas rondonienses que honraram com primazia os cargos e delegações públicas que exerceram como os ex-deputados estaduais Nério Bianchini, grande empresário de Cacoal e rigoroso na ética pública; compadre Severino Dias da Silva, agricultor de Jaru e reserva moral absoluta do PT rondoniense; Neri Firigolo (foto), que cumpriu três digníssimos mandatos na ALE/RO; Ruy Zimmer, decente ex-prefeito de Jaru, Inácio Azevedo, ex-vereador, ex-presidente da Câmara Municipal de Porto Velho e dirigente da Eletrobrás Rondônia Distribuição; a ex-senadora Fátima Cleide; João Becker, decente ex-prefeito de Cujubim e inúmeros vereadores e prefeitos petistas de rigoroso caráter pelo interior adentro de Rondônia que cultuam e honram os princípios constitucionais da probidade administrativa.
Afora tudo isto, Valverde nunca jogava para a platéia. Era incapaz de enganar ninguém. Exibia sempre o mesmo rosto sereno e o mesmo olhar na retina. Foi duramente criticado pelos sindicatos e a imprensa karipuna quando relatou o PL da transposição na Câmara dos Deputados, recebendo a pecha de traidor e entreguista, enfrentando os mais diversos debates olho no olho enquanto outros parlamentares rondonienses se transformaram em paladinos da bandeira, agradando os incautos com sorrisos de porcelana e tapinhas de granito.
Participamos de inúmeras rodadas pelos bares afora, brincamos vários carnavais, celebramos a vida inúmeras vezes nos mais diversos lugares do Pais, como na última comemoração do seu aniversário dias atrás e na nossa última Banda do Vai Quem Quer juntos.
Perdemos todos uma grande liderança política, um grande guerreiro da paz, um monumento da moralidade. E eu, em particular, perdi um grande amigo e um irmão espetacular.
(*) ERNANDE SEGISMUNDO, é advogado portovelhense, militante do PT há 29 anos.
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