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Freire agrediu Nassar para não ser demitido - Por Alex Solnik


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Desde a fatídica sexta-feira em que cometeu a grosseria e protagonizou o vexame internacional de atacar o escritor Raduan Nassar que chamou o governo Temer de golpista durante a cerimônia de entrega do Prêmio Camões, a agenda principal do ministro da (in) Cultura, Roberto Freire, tem sido justificar-se e reincidir nos ataques, em vez de reconhecer o erro e pedir desculpas ao escritor, ao menos por respeito aos mais velhos.

O mais recente, em que confirma seu estilo "bateu, levou", consagrado, em 1992, pelo assessor de imprensa do presidente Collor está na "Folha" de hoje:

"Quem fala o que quer ouve o que não quer".

Essa insistência em justificar o injustificável e tentar impor a sua versão ao repeti-la ad nauseum (e bota nauseum nisso) dá o que pensar.

A primeira conclusão é que chamar o governo Temer de golpista ainda incomoda. E, se incomoda, é porque a pecha está cada vez mais viva e atual. O governo nasceu de um golpe parlamentar, derrubando uma presidente que tinha maioria de votos no país, mas não no Congresso sob pretextos forjados e continuou nessa trilha ao impor ao país uma agenda de supressão de direitos trabalhistas e sociais que não fizeram parte da proposta da chapa Dilma-Temer durante a campanha eleitoral. O golpe não se esgotou. Está em marcha. Só não se sabe para onde.

A segunda é que o conceito de democracia vem se esgarçando a olhos vistos desde o golpe. Não fosse assim, uma opinião desagradável ao governo não precisaria ser contestada: críticas são absorvidas normalmente num regime democrático. Nem o ministro alegaria naquele momento que "permitimos que ele dissesse o que quisesse". Numa democracia plena não é necessário pedir permissão para criticar.

A terceira conclusão só pode ser compreendida à luz da primeira reunião ministerial de Temer, na qual ele instruiu seus ministros a reagirem imediatamente a qualquer menção a governo golpista, viesse de onde viesse, e de que forma:

"Golpista é você, que está contra a Constituição".

"Não vamos levar desaforo para casa. Não podemos deixar uma palavra sem resposta".

"Se é governo, tem que ser governo".

Freire ainda não era ministro, mas não se esqueceu das instruções. Reagiu ao discurso civilizado de Nassar com uma voadora no peito por medo de contrariar as determinações de seu chefe.

É isso. Freire sentiu que, se as palavras de Nassar repercutissem mais que as suas o risco de perder o emprego seria enorme. Ele precisava deixar claro de que lado está. Do lado dos golpistas, é claro.

Daí a necessidade de voltar ao tema todos os dias. Daí a necessidade de mostrar todos os dias que é um aluno obediente da Escolinha do Professor Temer.

Freire sabe que este pode ser o último bom emprego de seu crepúsculo político. Daí o seu apego à cadeira.

Nas últimas eleições a deputado federal por São Paulo não conseguiu mais que a sétima suplência e só chegou à Câmara dos Deputados graças a manobras de seu santo protetor Geraldo Alckmin – como me alertou meu colega e seu ex-companheiro de PCB, Juca Kfouri.

E bota "ex" nisso: atualmente, Juca nem atende seus telefonemas

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Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de s

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