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É preciso ter esperança cristã mesmo nas injustiças


Jéssica Marçal
Canção Nova

Para além do relacionamento social e da proteção da família, enquanto célula vital da sociedade, a Doutrina Social da Igreja também atenta para a justiça e igualdade no ambiente social. A justiça, inclusive, está entre os valores fundamentais para a vida social.
 
Embora a doutrina traga valores para serem aplicados em prol do bem social, nem sempre eles são concretizados. A generalização de um comportamento que se afasta do que a doutrina recomenda acaba, muitas vezes, desiludindo a sociedade, que passa a não acreditar na possibilidade de uma vida justa e igualitária.
 
Professor em Doutrina Social da Igreja, Evandro Gussi, que também é doutor em Direito do Estado, explica que essa tendência vem do esquecimento dos valores que a Igreja trouxe para a humanidade. Além disso, falta o reconhecimento da dignidade da pessoa humana, da igualdade da pessoa humana.
 
Esse é um quadro que, embora pessimista, pode ser revertido. O bispo auxiliar da arquidiocese do Rio de Janeiro, Dom Pedro Cunha, lembra a necessidade de um otimismo evangélico, de forma que a esperança cristã sempre caminhe com os cristãos.
 
“Nós entendemos que, muitas vezes, a própria vida política entra em contraste com o aspecto que a Igreja ensina a partir dos seus documentos sociais. Portanto, mesmo em clima de diferença, de dificuldade que encontramos na sociedade não podemos jamais desanimar, pelo contrário, o cristão é chamado a saborear o mundo com a doutrina de Cristo”.
 
Compromisso cidadão

 
Em contrapartida à esperança cristã citada pelo bispo, muitas vezes o sentimento diante das injustiças sociais é de revolta, especialmente entre os mais atingidos por esta carência. Evandro lembra, porém, que se por um lado há uma revolta, por outro falta participação do povo na vida política.
 
"Se eu acho que a ordem política e socioeconômica não está bem organizada, a Igreja nos dá um dever, sobretudo a nós leigos, de interferir positivamente nesta ordem política. Não com revolta, não com ofensa aos direitos dos outros, não com desrespeito à propriedade, mas com uma postura de quem quer construir a civilização do amor".
 
E a política, na visão de Dom Pedro, não deve ser vista como um mal, mas sim como um meio de transformação. O individualismo e a indiferença, por exemplo, são classificadas pelo prelado como “pragas” do tempo atual, mas ele reconhece que às vezes acabam sendo um sintoma da perda da esperança na vida política.
 
O bispo informou que há um trabalho da Igreja, inclusive na arquidiocese do Rio, de preparar os católicos para que entrem na vida política e transformem o que seja necessário para que a sociedade viva a dimensão igualitária. E há também o acompanhamento daqueles cristãos que já se inseriram no meio.
 
“Acho que esse seria um caminho que faz transformar esse clamor de tantas pessoas por uma transformação social, política e econômica do nosso país”.
 
Estímulo do Papa Francisco
 
Se todas essas questões já eram preocupação da Igreja, agora se intensificaram com o Papa Francisco, que desde o início de seu pontificado tem evidenciado a preocupação com os pobres e com a justiça social. Evandro recorda que cada Papa revela um traço do rosto de Cristo e que, no caso de Francisco, o destaque é essa capacidade de comunicação.
 
“O que no fundo o Papa Francisco tem realizado é essa capacidade de comunicar as verdades de sempre da Igreja e do Evangelho”.
 
O professor lembra que Francisco vem frisando para as pessoas que o problema do pobre, do outro que passa necessidade não é simplesmente no Estado ou do outro, mas de cada um. “Eu devo abraçar a carne de Cristo naquele que sofre. É isso que o Papa nos ensinou”.
 
E para colocar esses ensinamentos em prática, Dom Pedro Cunha indica tornar conhecido dos cristãos e da sociedade como um todo os documentos sociais da Igreja. “Formar bem os nossos cristãos para tomar conhecimento dessa grande riqueza, desse arcabouço doutrinário da Igreja”.

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