Terça-feira, 9 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

Cristo nos tribunais


 

             João Baptista Herkenhoff
 

 
A Corregedoria de Justiça do Rio Grande do Suldeterminou a retirada dos crucifixos, nos fóruns do Estado, sob o argumento de que a presença do Cruficado, num local que é símbolo republicano, agride a separação entre Igreja e Estado.
 
Vamos refletir sobre o tema.
 
O Crucifixo nos tribunais relembra o julgamento a que o Cristo foi submetido. Não houve processo, com direito de defesa, mas puro arbítrio. Diante da multidão, Pilatos, num ato de covardia, lavou as mãos.
 
Socorra-nos a reflexão do advogado gaúcho Jacques Távora Alfonsin, que é favorável à manutenção da efígie de Jesus nas salas da Justiça. Segundo Alfonsin, quando preconceitos ideológicos e culturais viciam a interpretação das leis, contra pobres e marginalizados, ignoram as flagrantes e injustas condutas denunciadas pelas palavras do Condenado Inocente. Esse estabeleceu, como parâmetro do julgamento justo, precisamente o reconhecimento ético-político-jurídico da dignidade humana.”
 
A questão do Crucifixo nos tribunais ultrapassa os limites de uma discussão meramente acadêmica.
 
Como Juiz de Direito vivenciei uma situação na qual a imagem do Crucificado, rompendo filigranas jurídicas, foi na verdade indispensável para o proferimento da sentença.

Neuza, uma empregada doméstica, estava presa em Vila Velha (ES), sob a acusação de que cometera crime de furto na casa onde trabalhava. Tinha tirado de uma caixa, onde havia mais dinheiro, o valor de uma passagem de trem para regressar à casa da mãe em Governador Valadares. Agiu assim depois que os patrões se recusaram a lhe pagar pelo menos os dias trabalhados, alegando que ela só teria direito de receber salário ao completar um mês de serviço.

Humilhada, Neuza chorou durante a audiência.

Eu a pus em liberdade. Mas não é pelo fato de ter libertado a acusada que a decisão tem atinência com o tema deste artigo.

O que estabelece o liame entre a libertação da acusada e o Crucifixo foi o fundamento que justificou a decisão:

“Lamento que a Justiça não esteja equipada para que o caso fosse entregue a uma assistente social que acompanhasse esta moça e a ajudasse a retomar o curso de sua jovem vida. Se assistente social não tenho, tenho o verbo e acredito no poder do Verbo porque o Verbo se fez carne e habitou entre nós. Invoco o poder deste Verbo, dirijo a Deus este verbo e peço ao Cristo, que está presente nesta sala, por Neuza. Que sua lágrima, derramada nesta audiência, como a lágrima de Madalena, seja recolhida pelo Nazareno.”
 
Não teria sido possível proferir esta sentença se não estivesse ali o Cristo Crucificado.
 
A sala de audiências estava cheia nesse dia. Alguém recolheu o dinheiro para a moça comprar a passagem. Esse gesto espontâneo teve a força de um referendo popular ao julgamento proferido.
 

Gente de OpiniãoTerça-feira, 9 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Uma corrida para a qual todos os atletas se dizem preparados, mas só dois cruzarão a linha de chegada

Uma corrida para a qual todos os atletas se dizem preparados, mas só dois cruzarão a linha de chegada

Bruno Scheid, Fernando Máximo, Mariana Carvalho, Marcos Rocha, Fátima Cleide, Marcos Rogério e Silvia Cristina. Esses seriam alguns nomes ao Senado

Maria Imaculada e a emergência de uma nova visão do real

Maria Imaculada e a emergência de uma nova visão do real

Teologia, Filosofia e Ciência em DiálogoA celebração da Imaculada Conceição, a 8 de dezembro, confronta o pensamento contemporâneo com uma questão

Quem estaria tentando melar a eventual candidatura de Hildon Chaves ao governo de Rondônia?

Quem estaria tentando melar a eventual candidatura de Hildon Chaves ao governo de Rondônia?

Em julho deste ano, o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, anunciou o nome do ex-prefeito de Porto Velho, Hildon Chaves, como pré-candidato

Bolsonaro (ainda) não morreu!

Bolsonaro (ainda) não morreu!

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi julgado, condenado e atualmente está onde sempre deveria: na cadeia. O STF o condenou a 27 anos e três meses por

Gente de Opinião Terça-feira, 9 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)