Sábado, 5 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

César Montenegro, Paradigma de Juiz



Por Dimas Fonseca

Nasceu na cidade de Nova Cruz, no Rio Grande do Norte, a três de outubro de 1921, filho do magistrado Eurico Soares Montenegro e de Clidenora Soares Montenegro. Casou-se em 1950, em São Paulo, com a musa de seus sonhos, Alba Dantas Montenegro. Desde a infância mostrava seus pendores pela justiça, quando espiava, por curiosidade, as tentativas de conciliação que o pai promovia antes de qualquer processo, nas hipóteses admissíveis em lei.

Formou-se pela Faculdade de Direito do Catete, no Rio de Janeiro.

Escreveu as seguintes obras: Ação Cambial de Cobrança, Aprendendo a advogar, Proponha uma ação no processo ordinário, Ação de despejo e Dicionário de prática processual civil.

Hoje, três de outubro, o calendário assinala a passagem do aniversário do pioneiro destemido, Francisco César Soares Montenegro, magistrado sem mácula, devotado até a medula à nobre causa da Justiça.

Para se ter uma ideia do trabalho por ele desempenhado basta mencionar que, por muito tempo, sua jurisdição abrangeu quase todo o território do Guaporé, de Porto Velho a Guajará-Mirim e Vilhena, fronteira com Mato Grosso, vale dizer, o equivalente à superfície do Estado de São Paulo. Para bem desempenhá-la, como o fez, muito inovou com a sua inteligência criadora, inclusive usando o rádio para prática diária dos atos processuais de comunicação.

A extenuante visão das águas e da selva sem fim não abateu seu ânimo de bandeirante para a luta intrépida que porfiou, com o senso de juiz, para apaziguar os grandes conflitos com que se defrontou nesse mundo ermo, sem o mínimo de ajuda do poder público situado nas lonjuras infinitas, desprovido de comunicação, a não ser o Morse da época da epopéia de Rondon. Só o homem intrépido, como César Montenegro, lutador e vencedor, enfrentou batalha idêntica à que se travava no silêncio dos seringais a repercutir nas audiências diuturnas do fórum.

Tudo isso deveu-se à vocação natural do juiz corajoso e independente, tal como seu irmão, desembargador Eurico Montenegro, decano do Tribunal de Justiça do Estado.

Ao aposentar-se no auge da produtividade judicante e da experiência adquiridas no perpassar do tempo, afirmei no plenário da Corte em sua homenagem:

"Varão romano, predestinado para a vida judicante porque traz no seu próprio código genético a marca de uma estirpe de magistrados. Foi exemplo de dignidade e erudição em todas as Comarcas contempladas com a honra de tê-lo como juiz. Em Rondônia exerceu, por longos anos, profícua atuação de Porto Velho a Guajará-Mirim, na época em que os tropeços e dificuldades eram a tônica que envolvia o juiz dos Territórios. Convocado, mais uma vez, para criação da justiça no novo Estado, ajudou a edificar, com o brilho da inteligência e o dinamismo da ação , a sua estrutura definitiva".

Como se sabe, nas duas vertentes da memória judiciária vamos encontrá-lo nas margens dos grandes rios, debruçado no exame percuciente dos processos morosos , com o fito de decidi-los antes da extinção processual pelo tempo. Era, sem dúvida, uma garimpagem difícil como a de todos os sonhadores. Em nenhum momento ensarilhou suas armas.

Antes e depois do terremoto cívico decorrente da Lei Complementar 41/81, que transformou o Território do Guaporé no Estado de Rondônia, retornou ele, depois de aposentado, com o mesmo ânimo de outrora, a bater o martelo de julgador para decidir os conflitos entre os antigos jurisdicionados com a presteza dos novos tempos.

Em sua oração de posse como desembargador, cheio de esperança, disse:

" Adestrei-me para a luta judiciária, na Comarca de Guajará-Mirim, no período de 1967 a 1975. Ali encontrei o antigo Fórum semi destruído, apresentando condições precárias de funcionamento; não havia juiz titular, sendo a justiça praticamente exercida pelo delegado de polícia, o conhecido capitão Alípio. De igual sorte, não havia promotor de justiça, e um acervo de setecentos inquéritos paralisados. Esta situação perdurou por muitos anos, mesmo porque tudo dependia da boa vontade do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Pouco a pouco os obstáculos foram vencidos, e as coisas melhorando com o passar do tempo."

Por último, agradeceu, de modo especial, à sua esposa, Alba Dantas Montenegro, e às filhas Sônia e Maria Eugênia como partícipes da grandiosa missão que lhe fora confiada.

Pouco contei sobre quem muito fez pelo Estado de Rondônia!

Não há como se pagar o contributo judiciário do juiz César Montenegro!

Busco no estro do notável poeta mineiro, Abgar Renault, a palavra derradeira do poema Cristal Refratário:

Eu suponho que tua alma é de cristal
que reflete a vida
em superfícies de beleza e claridade.
Tudo quanto há de claro e puro
deve viver espalhado
nesse espelho calado e vivo:
as paisagens iluminadas da primavera,
os céus de invisíveis estrelas,
a forma das flores,
as vozes e os vôos dos pássaros,
a música de águas ingênuas,
os ritmos moços, ágeis e eternos
do que é alegre, alto e livre
debaixo do sol.
O que é opaco, triste ou morto
não se reflete nunca nesse cristal sem sombra.
 
Do seu do coração

Dimas Fonseca

Porto Velho, 3 de outubro de 2011.


 

Gente de OpiniãoSábado, 5 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

 Hospital Municipal: quando teremos?

Hospital Municipal: quando teremos?

Faz tempo que essa promessa de novos hospitais públicos para Porto Velho está na fila de espera. Na condição de um dependente do Sus, desde que isso

Mais deputados para quê?

Mais deputados para quê?

Recentemente, a Câmara dos Deputados aprovou o número de vagas no parlamento, passando de 513 para 531. Num país efetivamente sério mais representan

Votação do IOF expôs fragilidade da base do governo Lula no Congresso

Votação do IOF expôs fragilidade da base do governo Lula no Congresso

Quarta-feira (25), o Congresso impôs mais uma derrota ao governo do presidente Lula derrubando o Decreto que aumentava o IOF. O governo perdeu mais

Roubalheira no INSS -apenas mais um escândalo

Roubalheira no INSS -apenas mais um escândalo

O esquema que desviou bilhões de reais de contas de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) foi apenas mais um

Gente de Opinião Sábado, 5 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)