Quarta-feira, 29 de novembro de 2023 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

Carnaval, Quaresma e Campanha da Fraternidade


O Carnaval, originariamente, era uma festa religiosa, significando "festa da carne", ou seja, o período prévio à Quaresma, com inicio na Quarta-Feira de Cinzas. Nesses dias os cristãos se fartavam de carne, uma vez que  no decorrer dos quarenta dias seguintes iriam se abster de carne. Todo ano, a data do Carnaval é alterada. Mudam também as datas da Semana Santa, de Corpus Christi e de outras festividades litúrgicas. O calendário gregoriano é solar, enquanto o calendário litúrgico é lunar.

A Páscoa é a festa central da liturgia, tanto judaica quanto cristã. Páscoa significa passagem da opressão à libertação, da morte à vida plena. É sempre comemorada pelos judeus na primeira lua cheia do mês de Nisan. Para evitar confusão com a festa judaica de mesmo nome, a Igreja adotou o domingo seguinte ao da Páscoa judaica como o da celebração da ressurreição de Jesus. “Para nós que vivemos no hemisfério Sul, o domingo de Páscoa é, portanto, aquele que se segue à primeira lua cheia do outono. O domingo de Carnaval é sempre o sétimo antes da Páscoa cristã. A quinta-feira de Corpus Christi é sempre a primeira depois do domingo da Santíssima Trindade, comemorado 57 dias depois da Páscoa. Assim, o domingo da Páscoa é a data de referência das demais festas litúrgicas chamadas móveis, pois há as que não se alteram, como o Natal, comemorado invariavelmente no dia 25 de dezembro...”(F.Beto).

A Quaresma, que começa na Quarta-feira de Cinzas, é um tempo forte de conversão, de graça e salvação. No Brasil, a dimensão comunitária da Quaresma é vivenciada e assumida pela Campanha da Fraternidade.  Através do Tema: “Fraternidade e defesa da vida” e do lema: “Escolhe, pois, a vida” (Dt 30, 19), a CF 2008 expressa a sua preocupação com a vida humana, ameaçada nos dias de hoje desde o seu início por causa do aborto, até a sua consumação por causa da eutanásia, e busca, através do método VER, JULGAR e AGIR, olhar a realidade de hoje, iluminar esta realidade mostrando o Deus Vivo que nos dá a vida e as decorrências éticas desta verdade para propor caminhos de conversão e de transformação da sociedade para que a pessoa humana seja sempre valorizada em sua plenitude, conforme a sua natureza e a vontade de Deus, e a vida seja um dos principais fundamentos da hierarquia de valores que marca o nosso existir e determina o nosso agir.

O Concílio Vaticano II já condenava como infame tudo quanto se opõe à vida,.. toda a espécie de homicídio, genocídio, aborto, eutanásia e suicídio voluntário; tudo o que viola a integridade da pessoa humana, como as mutilações, os tormentos corporais e mentais e as tentativas para violentar as próprias consciências; tudo quanto ofende a dignidade da pessoa humana, como as condições de vida infra-humanas, as prisões arbitrárias, as deportações, a escravidão, a prostituição, o comércio de mulheres e jovens; e também as condições degradantes de trabalho; em que os operários são tratados como meros instrumentos de lucro e não como pessoas livres e responsáveis. Todas estas coisas e outras semelhantes são infames; ao mesmo tempo em que corrompem a civilização humana, desonram mais aqueles que assim procedem, do que os que padecem injustamente; e ofendem gravemente a honra devida ao Criador.

O papa João Paulo II, trinta anos depois, na encíclica Evangelium vitae, constatou que as ameaças à vida pareciam estar aumentando. Com o avanço da mentalidade individualista e utilitarista, e com o desenvolvimento da ciência e da técnica, novas ameaças, como o aborto e a eutanásia, passaram não só a ser praticadas, mas vão deixando de ser consideradas ilícitas, sendo até mesmo amparadas pelo Estado. O resultado de tudo isto é dramático: se é muitíssimo grave e preocupante o fenômeno da eliminação de tantas vidas humanas nascentes ou encaminhadas para o seu ocaso, não o é menos o fato de à própria consciência, ofuscada por tão vastos condicionamentos, lhe custar cada vez mais a perceber a distinção entre o bem e o mal, precisamente naquilo que toca o fundamental valor da vida humana.

Ainda que todas as ameaças à vida devam ser permanentemente combatidas, a expressão “defesa da vida” vem sendo utilizada para designar a luta contra essas ameaças específicas, que parecem turvar a própria percepção do valor da vida humana, do bem e do mal, do certo e do errado. Não enfrentá-las implicaria em perder a capacidade de reconhecer aqueles valores fundamentais que nos movem na luta contra todas as demais formas de agressão à vida e à pessoa humana, tais como as decorrentes da pobreza, da violência, da guerra, etc.

Somos chamados a escolher entre caminhos que conduzem à vida ou caminhos que conduzem à morte. Caminhos de morte são os que levam a dilapidar os bens que recebemos de Deus através daqueles que nos precederam na fé. São caminhos que traçam uma cultura sem Deus e sem seus mandamentos ou inclusive contra Deus, animada pelos ídolos do poder, da riqueza e do prazer efêmero, a qual termina sendo uma cultura contra o ser humano e contra o bem dos povos latino-americanos. Os caminhos de vida verdadeira e plena para todos, caminhos de vida eterna, são aqueles abertos pela fé que conduzem à plenitude de vida que Cristo nos trouxe: com esta vida divina, também se desenvolve em plenitude a existência humana, em sua dimensão pessoal, familiar, social e cultural. Essa é a vida que Deus nos participa por seu amor gratuito, porque é o amor que dá a vida. Estes caminhos frutificam nos dons de verdade e de amor que nos foram dados em Cristo, na comunhão dos discípulos e missionários do Senhor, para que sejamos um continente no qual a fé, a esperança e o amor renovem a vida das pessoas e transformem as culturas dos povos .

Mas por que será que muitas vezes escolhemos o caminho da morte? Em primeiro lugar, porque não nos abrimos integralmente para a realidade. Reduzimos o real apenas a seus aspectos mais imediatos, que podem ser explicados pela ciência e dominados pela técnica. Eliminamos a pergunta sobre o sentido das coisas e dos acontecimentos, deixando sem resposta as perguntas sobre o amar e o sofrer, o bem e o mal. Passamos a acreditar que a ciência e a técnica podem solucionar os problemas, sem a necessidade do compromisso ético. Essa limitação de nossa razão nos impede de compreender o que é verdadeiramente o amor. Nós o reduzimos à simples realização de nosso desejo de posse do outro, sem perceber que a realização plena do amor acontece quando nos doamos ao outro, como nos lembra Bento XVI na encíclica Deus caritas est.

A vida nova de Jesus Cristo atinge o ser humano por inteiro e desenvolve em plenitude a existência humana em sua dimensão pessoal, familiar, social e cultural. Para isso, faz falta entrar em um processo de mudança que transfigure os vários aspectos da própria vida. O encontro com Cristo é o ponto de partida para reconhecer plenamente a sacralidade da vida e a dignidade da pessoa humana, mas esse reconhecimento não é exclusivo às pessoas de fé. Todo ser humano traz, em seu coração, o desejo de ter essa sacralidade e essa dignidade reconhecidas. Assim, com esperança e alegria renovadas, nos lançamos mais uma vez à defesa da vida, cientes que essa é uma luta pessoal e social contra uma cultura de morte que se infiltra no coração das pessoas e contra as estruturas injustas que objetivamente trazem a morte a nós brasileiros e a nossos irmãos latino-americanos.
 
Fonte:Arquidiocese de Porto Velho - RO

Gente de OpiniãoQuarta-feira, 29 de novembro de 2023 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Jurado na Câmara?

Jurado na Câmara?

Existem duas categorias de agentes políticos. Os primeiros, por serem pequenos, não conseguem enxergar além da ponta do próprio umbigo; outros, que

Salve o dia 17 de novembro - parabéns para mim, 73 anos

Salve o dia 17 de novembro - parabéns para mim, 73 anos

“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. João 832 No dia 17 de novembro de 1950, nasceu na pacata cidade de Paratinga-BA, (Capital Baiana

Arriscando um palpite

Arriscando um palpite

Dias atrás, eu disse que ainda é muito cedo para falar a respeito da composição da Câmara Municipal de Porto Velho para a próxima legislatura, que c

Gente de Opinião Quarta-feira, 29 de novembro de 2023 | Porto Velho (RO)