Domingo, 31 de agosto de 2025 - 12h58
"A
nova era nuclear: uma etnografia da retomada do programa nuclear brasileiro —
ou uma crônica do futuro". Este sugestivo título da tese de doutorado em
Antropologia, pela Universidade Federal de Minas Gerais, do prof. Whodson
Silva, desperta muito interesse entre os especialistas na área, mas
principalmente entre os ativistas socioambientais que se articulam em luta,
Brasil afora, contra a desnecessária, perigosa, cara e suja tecnologia atômica
usada para produzir eletricidade. A pesquisa será apresentada amanhã (27/08/25)
às 9:30h, com transmissão ao vivo pelo YouTube no canal do GESTA/UFMG pelo
link: https://youtube.com/@
Chama a atenção que a defesa desta tese aconteça justo neste período que a
crendice popular considera o “mês do desgosto”. Neste mês, há 80 anos, os EUA
praticaram os dois primeiros genocídios atômicos, matando milhares de pessoas
nas cidades japonesas de Hiroshima (bomba de urânio - 6 de agosto de 1945) e
Nagasaki (bomba de plutônio - 9 de agosto do mesmo ano). Inauguravam assim uma
corrida armamentista global, que desembocou na atual “guerra nuclear limitada”,
onde as armas atômicas táticas movimentam a bilionária e mortífera indústria
bélica, sem que nenhum tratado de não-proliferação de bombas atômicas consiga
barrar. Esta realidade de um mundo em crescente conflito evidencia que
não há programa nuclear de fins pacíficos, como os nucleopatas querem nos fazer
crer.
RISCOS DA NUCLEARIZAÇÃO
A expectativa é que os achados desta investigação possam trazer mais luz sobre
a origem do programa militar paralelo do Brasil e as atividades atômicas civis,
marcadas pelo secretismo, pela mentira institucionalizada, insegurança em
radioproteção, incompetência técnico-operacional, denúncias de corrupção e
falta de controle social. Ao contrário do declínio nos últimos anos da energia
nuclear, a indústria atômica bélica vem recebendo vultosos investimentos para
produzir armas. Por isto, é importante que se amplie o debate público sobre os
desafios da expansão da nuclearização, inclusive de suas conexões e negócios
com o rearmamentismo, uma vez que os interesses militares continuam dando o
norte da errática política nuclear brasileira.
O professor Whodson Silva propõe a existência de uma nova era nuclear, distinta
da concepção clássica da chamada “era atômica” do século XX — momento em que se
domina o conhecimento do átomo e da produção da energia nuclear, seja na forma
da bomba, seja na geração de eletricidade. Segundo ele, “no contexto atual da
transição energética global, emerge uma nova narrativa em torno da energia
nuclear, marcada por certo dogmatismo que a posiciona como a energia do
futuro.” Essa ideia está baseada na crença do suposto baixo nível de emissões
de carbono, atributo que lhe conferiria o status de “energia verde” e,
portanto, de solução “ecologicamente sustentável”.
Com base nessa conjunção etnográfica, o autor examinou as continuidades e
rupturas que caracterizam o campo nuclear no Brasil, observando como se
atualizam, se reposicionam ou se recriam estruturas de poder na retomada do
programa nuclear brasileiro. E demonstra que esse
processo se articula nas esferas de negociação, investimento e
institucionalização estatal,
que, ao mesmo tempo, apropria-se de um discurso ambiental projetando uma
crônica sobre o futuro.
Para ele, “o programa nuclear opera como eixo articulador de consensos
políticos, capaz de reunir diferentes espectros ideológicos em torno de
objetivos estratégicos de longo prazo. Essa convergência reitera aspirações
históricas de poder, soberania e prestígio nacional, ao mesmo tempo em que
atualiza e reforça padrões de violência e injustiça socioambiental.”
A persistência de projetos impostos sem consulta ou consentimento das
comunidades afetadas, bem como a concentração dos prejuízos ambientais sobre
populações vulnerabilizadas, revelam a continuidade de um modelo
desenvolvimentista excludente. “Por meio de uma etnografia da retomada do
programa nuclear brasileiro, a tese evidencia que, sob a crônica de uma nova
era nuclear — pacífica, verde e sustentável —, subsiste um itinerário de
conflitos ambientais que desafia as promessas de modernização, equidade e
justiça supostamente associadas a essa matriz energética”, afirma o professor.
Zoraide Vilasboas - ativista por
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