Domingo, 5 de maio de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

Artigo: A reforma agrária


 
Bruno Peron Loureiro

Reforma agrária é uma dessas questões que se reservam aos super-heróis das políticas públicas.

Ainda que dentro do desejável, possível e necessário para uma sociedade mais justa, as propostas de divisão de terras no Brasil incidem em interesses conflitantes: de um lado, os insatisfeitos com o pouco de que dispõem; de outro, os cães que rosnam com o osso na boca.

A concentração de propriedade é abusiva neste país, portanto é necessário implantar um novo modelo de apropriação agrícola e resgatar os erros do passado.

É verdade que não basta ter acesso à terra. Uma dificuldade que surge posteriormente à aquisição de propriedade rural é a de falta de treinamento dos novos proprietários e infra-estrutura para aproveitamento agrícola, como capital, irrigação, semente e vias de transporte. Toma-se em conta que a maior parte do terreno no país não é usada em cultivo ou outra atividade de fins econômicos.

Desde esta linha argumentativa, muitos sustentam que o problema seria então o de excesso de terras ociosas e a falta de investimento em produtividade com técnicas modernas na agricultura, planejamento do plantio e da colheita.

A população tupinica, segundo vozes reprovadoras da reforma agrária e longe de corresponder à minha, é majoritariamente urbana e, por isso, não faz sentido repartir terras rurais, que estão muito bem nas mãos de poucos.

Oras, como o Brasil poderá investir em tecnologia na produtividade agrícola se ainda não superou a etapa de repartição das terras? O país está atrasado em reforma agrária. Do ponto de vista de grandes proprietários rurais, é natural que se demonizem movimentos sociais e protestos que objetivam a distribuição de terras, porém falta uma consciência coletiva.

O uso da palavra “invasão” em vez de “ocupação” contribui para a tendência dessas pesquisas inúteis que reiteram a visão de latifundiários. A “imagem do MST”, que foi solicitada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) indica que a maioria dos tupinicas reprova a ocupação de propriedades. Quem é que daria uma resposta favorável a que um estranho entrasse em sua casa sem pedir licença?

Desvia-se, todavia, o foco da luta pela justiça social ao desrespeito de direitos de propriedade privada.

A defesa da reforma agrária esbarra na torcida agressiva do outro time. O caminho da repartição de terras no Brasil é fundamental para promover a redução de desigualdades. Concordo com que não basta dar terras se não houver uma continuidade da inserção no sistema produtivo das famílias beneficiadas com a reforma. Enquanto não se supera uma etapa, no entanto, não é possível impulsionar a outra.

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) elabora avaliações e políticas de acesso à terra, fiscalização de imóveis rurais para averiguar se cumprem a função social, combate à grilagem (que significa a posse indevida de terras mediante expulsão de seus proprietários e apresentação de documentos falsos), e repasse de recursos a entidades de apoio à reforma agrária. A instituição fiscaliza de 6 a 7 milhões de hectares por ano.

O INCRA dispõe de R$4,6 bilhões de orçamento para 2010. O recurso destinado à reforma agrária é cada vez maior.

Este tema exige uma postura radical dos governantes e ativistas sob o risco de sucumbir às mentiras e travas lançadas pelos opositores. Uma delas é a de desmerecer movimentos sociais que lutam pelos oprimidos ou a de advogar que, em vez de repartir, a tecnologia na agricultura de latifúndios por si só geraria retorno benéfico à sociedade.

As discussões e divulgações sobre a reforma agrária têm sido monopolizadas pelos que se opõem a ela. Falta a representatividade de opiniões divergentes.

Bruno Peron Loureiro é mestre em Estudos Latino-americanos.

Gente de OpiniãoDomingo, 5 de maio de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Diretório municipal do PT resolveu jogar Fátima Cleide às feras

Diretório municipal do PT resolveu jogar Fátima Cleide às feras

Matéria do site Rondoniaovivo revela que a ex-senadora Fátima Cleide vai representar o Partido dos Trabalhadores na disputa pela prefeitura de Porto

Revanchismo da história em plena acção contra o Ocidente

Revanchismo da história em plena acção contra o Ocidente

O Presidente Rebelo de Sousa juntou-lhe o seu Pó de Mostrada Segundo noticiou a Reuters, Rebelo de Sousa declarou a correspondentes estrangeiros, um

Por que o PT ainda não indicou pré-candidato à sucessão de Porto Velho?

Por que o PT ainda não indicou pré-candidato à sucessão de Porto Velho?

O PT ainda não indicou pré-candidato à sucessão de Porto Velho. Por quê? Analistas políticos, contudo, apontam a ex-senadora Fátima Cleide como even

Lula quer criar um serviço de tele reclamação

Lula quer criar um serviço de tele reclamação

O presidente Lula saiu-se com mais uma das suas bizarrices. Agora, ele quer criar um serviço de tele reclamação, um canal de comunicação entre o gove

Gente de Opinião Domingo, 5 de maio de 2024 | Porto Velho (RO)