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ARTIGO: A lista ou, como parar de fumar no ano novo


  
A lista ou, 

Como parar de fumar no ano novo 

Prometo: parar de fumar, fazer caminhadas, paz com aquele mala (nem me lembro o motivo da briga) organizar os documentos para a declaração do imposto de renda ou melhor, organizar todos os meus documentos. Regularizar a documentação do carro (acho que isso deveria estar no item anterior), ir ao dentista. Pensando bem, melhor cuidar da saúde geral. Caminhar não é cuidar da saúde? Melhor cortar a caminhada. Pensando bem, parar de fumar também é cuidar da saúde e, já que cortei a caminhada, um corte também no “parar de fumar”. Por falar em parar de fumar... Lembrei! 

Foi tudo por causa do cigarro. A gente até se dava bem. Vivia lá em casa, a gente saia junto pra o truco, umas farras, mas... era meio mala eu sei. Fazia umas coisas que davam nos cocos. Uma noite passou lá em casa pra gente sair e eu não tava a fim. Foi embora e levou meu maço de cigarros. Duas da manhã acordei sem sono, tomei um cafezinho, peguei um livro e... foi aí que descobri que estava sem cigarro. O mala tinha levado o maço e o isqueiro. Fiquei irado, liguei e o celular do folgado... fora de área. Juntei umas “bitucas” e fui tentando ler para passar a raiva e chegar o sono até que dormi depois das quatro da manhã. 

Cinco da manhã a campainha de casa belém,belém. Juro! Cinco da madruga. Levantei meio assustado – cinco da manhã pô!!! Coisa boa não poderia ser e não foi! – e era o folgado. De fogo e com uma gata que ele sabia que eu andava muito a fim. Queria saber por que eu havia ligado para ele às duas. Claro que não ia passar recibo na frente na frente da gata e me salvei com o cigarro. Discutir com bebum é fria mas encarei e me prendi só ao cigarro. Bate boca, palavrão e a gata ali me olhando. Irei de vez. Mais palavrão, porta na cara e uma semana depois ele me procurou para dizer que só perebeu que estava com dois maços de cigarro quando entrou no motel com a gata. Foi a gota d’água. Motel cara? Mais palavrões, dor de corno, fim da amizade e fiquei meio deprê. 

Bem, voltando à lista, fazer as pazes também é cuidar da saúde. Se eu ficar engasgado vou ter que buscar apoio. Que tora... ficar sem falar com meu melhor amigo, não fazer as pazes e pior, por causa de cigarro, bebedeira e mulher. Acho essa conversa de apoio uma frescura mas, uma gata que eu tive uns rolos e era psicóloga me encanou com isso. Foi ela que me falou que esse negócio de eu ser desleixado com documentos – foi no dia que caímos na blitz e meu carro foi rebocado – era uma atitude infantil e irresponsável. Pirei o cabeção na hora. Se ela fosse homem eu saía na porrada, falei. Aí ela tripudiou. Falou que era assim que eu tratava os amigos e mexeu na ferida. Como é que pode... A problemática nem sabe quem eu sou e já vai pagando de mãezona. 

Fanchona desgraçada! Nunca mais dei de cara com ela mas, desde aquele dia entrei numas de tentar me organizar. Fiz até uma lista mas rasguei. Entendi que ficar anotando, é uma derivação mental doentia. Como é que eu vou criar regras para eu mesmo me prender... Tu é doido mano? Vou acabar endoidando mesmo e tendo que buscar ajuda com um outro doido. Cá pra nós, acho que psiquiatras e psicológos são todos loucos cheios de regrinhas. Descobri isso depois de um porre que tomei com um camarada que é psiquiatra. Ele me contou que anotava tudo que seus clientes falavam, listava tudo e analisava. Mas no meio do papo, ele sifu e eu entendi a sua pregação subliminar. O que ele queria era um maluco para tratar e eu dei o nó. Falou que a gente precisa tocar a vida com fair play. Ou seja, o fato de eu ter alguma dificuldade de me organizar não era doença mas, que eu devia procurar um médico ou um psicológo enfim, alguém que descobrisse as razões dessa minha desordem desimportante. Lembrei disso agora que estou escrevendo e resolvi: vou nessa de fair play. E mais, já vou diminuir essa lista cruel que está ficando meio sem pé e sem cabeça e considerar a parte de organizar documentos como parte integrante do item “cuidar da saúde”. Tem tudo a ver. Isso é que chamo de racionalizar. 

Já sei...Vou malhar. Saúde é o que interessa. O resto, ou é lista ou não tem pressa. E se eu malhar nem vou precisar fazer essa bendita lista dos infernos. Mas antes, de ir para uma academia, tenho que parar de fumar. Disso aí, não abro mão. É definitivo. Muita gente pode e eu também posso. Eu acho... 

Tenho um amigo que parou mas não aguentou o repuxo e voltou. É isso que dá. Tentou na marra, não deu. Tomou um remédio e não deu certo. Culpa dele que não foi ao médico pedir ajuda... Outro dia eu vi na TV que a automedicação é perigosa. Mas isso é outra coisa e pode ser apenas bafão de médico. 

Médico e psiquiatra é tudo a mesma coisa. Acho que eles têm uma lista sobre o que pode assustar os incautos. Aí o cara encana e vira hipocondríaco. A paranóia é tão grande que tem uns que fazem uma lista de doenças e de remédios. Claro que isso é piração de mentes conturbadas, o que não é meu caso. Para cuidar da saúde, médico é importante mas, quem precisa de médico para parar de fumar? Todo mundo sabe que a melhor forma é programar uma data e parar aos poucos. 

Decidi. Nada de lista para o ano novo. Só vou parar de fumar. É isso aí. Vou marcar uma data logo depois do carnaval sem falar para ninguém. Ninguém precisa saber disso e, além de tudo, detesto cobranças. Tudo do meu jeito. Programado e organizado como se fosse uma lista com promessas de ano novo. Mas, voltando ao diabo dessa minha lista... 

Fazer a lista de ano novo é o primeiro passo para conseguirmos nossos objetivos. Gostei dessa frase. E olha que esse negócio de listar objetivos é uma doideira. A primeira parte é pensar em tudo e separar o que é mais importante, tipo separar o joio do trigo, se bem que nunca vi um pé de joio na vida. Tem gente que já começa com coisas que não têm qualquer importância, tipo “Vou parar de fumar”... Veja bem... isso é contraproducente. É preciso ter um método científico e seguí-lo. E como fazer um artigo. Primeiro você escolhe o tema ou talvez o título. Algo assim como “A lista”. Se voce erra nisso, acaba por fazer dois títulos. Ridículo fazer um artigo com dois títulos. Aliás, você pode fazer uma lista com vários títulos a partir de outra lista com os temas. O resto é fácil. É só seguir uma metodologia. Se bem que ... 

Leo Ladeia

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