Há dois anos o preço do arroz no mercado mundial vem subindo. Os produtores brasileiros, que o governo admite terem tido maus negócios até então, passaram a aproveitar as condições vantajosas. Com o dólar fortalecido em relação ao real, passaram a ter grandes lucros com as vendas externas.
A safra de arroz 2019/20 (já colhida) chegou a 11,18 milhões de toneladas, enquanto a anterior foi de 10,5 milhões.
O ingresso do auxílio emergencial contra a pandemia do coronavírus, de 600 reais mensais per capita, injetou quase R$ 200 bilhões no orçamento dos mais pobres (e também dos aproveitadores de sempre, acostumados a fraudar os negócios públicos). O consumo doméstico de alimentos se recuperou, à base do arroz com feijão.
Para agradar ainda mais os produtores, o governo conteve as importações (feitas no Mercosul, tinham alíquota zero). De janeiro a agosto deste ano, elas somaram 373 mil toneladas, 26% a menos do que no mesmo período do ano passado, segundo dados do próprio governo.
Parece que a combinação desses fatores, provocando escassez do arroz e grandes reajustes em itens da cesta básica, só surpreendeu o governo, que autorizou a importação da mesma quantidade adquirida no exterior em oito meses até o final do ano.
O paradoxo se instalou: o maior produtor de grãos do mundo está tendo que importar o grão de maior consumo alimentar da sua população. Nesse vai e vem de dólar e real, quanto fica no cofre do exportador e quanto sai do bolso do povo (e também dos cofres do tesouro nacional)? Esta é uma conta vital para se resolver a equação: na ponta do lápis, ganhamos ou perdemos de verdade?
Depois dessa apuração talvez se possa prever como estará o país em 2021.
Terça-feira, 23 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)