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Ancestrais do povo negro são reverenciados na Noite dos Tambores Silenciosos



Sumaia Villela - Correspondente da Agência Brasil

À meia noite de ontem para hoje (28), o Pátio do Terço, no bairro de São José, no Recife, ecoou as loas, cantos sagrados do candomblé, em jeje-nagô. Com as luzes apagadas e os tambores dos maracatus de baque virado parados em respeito à cantoria, Tata Raminho de Oxossi conduziu a homenagem aos eguns, os ancestrais do povo negro na Noite dos Tambores Silenciosos.

“O que ocorreu no palco foi um chamado aos que morreram aqui nessa terra. A gente está festejando como se fosse uma missa”, explica Raminho de Oxossi. “Eu pedi felicidade, paz, sosssego de espírito, que tudo seja bom. Que o ano seja feliz”, traduz a mensagem passada na língua ancestral e no fim das loas também em português.

A cerimônia é o ponto alto do evento, que ocorre há 57 anos e é parte da programação oficial do carnaval do Recife. Antes, desde as 20h, 28 nações de maracatus de baque virado passam pelo Pátio do Terço para fazer a reverência aos antepassados e louvar os orixás. Uma a uma, seguem ao palco, entoam suas canções, fazem sua reverência e deixam o local para que a próxima nação faça suas homenagens.

Esses maracatus são ligados a religiões de matriz africana e, em geral, têm um orixá como patrono. O rei e a rainha são os principais personagens. À frente do grupo, além do estandarte, vai a calunga, uma boneca que incorpora a força ancestral, carregada pela dama-de-paço. Essa reverência aos antepassados faz sentido também pela forma como a tradição é perpetuada por gerações.

Antônio José da Silva Neto, o mestre Teté, tem 71 anos e preside o Maracatu Nação Almirante do Forte desde 1931. A história dele com essa cultura começou com os antigos da família. “Eu fico feliz cantando aqui. Minha mãe morreu com 107 anos. Ela quem me ensinou a cantar tudo. E já estou ensinando meu filho que vai ficar meu lugar”.

Da nova geração de mestres de apito, Felipe Henrique Tavares, 24 anos, substitui o mestre Toinho no Maracatu Nação Encanto da Alegria. “O que a gente passa é o nosso candomblé na rua. É quando a gente salva a boneca, que é o egum da gente. Salva nosso rei e os escravos, com a roupa que a sinhazinha dava”, lembra, fazendo referência ao estilo das roupas usadas pelos integrantes, semelhantes a trajes do período colonial.

A cerimônia é importante para aqueles que têm o candomblé como religião, como o porteiro Alberto Ferreira, de 55 anos, que há duas décadas acompanha o evento. “Aqui eu venho todo ano para reverenciar e levar meus acenstrais que foram embora. Meu babalaô, minha ialorixá que foi embora, todo meu povo de santo que partiu. Eu venho para reverenciar”.

Quem foi à Noite dos Tambores Silenciosos pela primeira vez também saiu encantado. A inglesa Olívia Williams, que mora há três semanas no Recife, diz que nunca tinha visto algo semelhante. “Foi incrível, uma coisa muito especial que não existe no meu país. Eu acho que aqui, no carnaval de Pernambuco, tem muita resistência cultural, e isso que é muito impressionante”, disse.

Resistência negra

A Noite dos Tambores Silenciosos é também um evento de resistência e afirmação da identidade do povo negro, segundo Auzenide Simões, a Leu, gestora do Núcleo da Cultura Afro-brasileira, que organiza a cerimônia. “A história não faz sentido se a gente não faz referência ao nosso passado, dando o devido valor como se deu a história do negro no Brasil”, defende. “É uma grande referência à luta do povo negro. É a reafirmação da nossa cultura. A gente quer dizer que está vivo.”

O local onde ocorre a cerimônia, o Pátio do Terço, é um pedaço dessa história, e por isso é o escolhido. Na época da escravidão, a região era usada para a venda de africanos escravizados recém-chegados em navios negreiros. Traços de um passado que, se depender da Noite dos Tambores Silenciosos, segundo Leu, nunca será esquecido.

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